Mulheres amamentam, em média, apenas 54 dias; hospitais amigos da criança tentam reverter esse quadro
Dor, falta de jeito, leite que demora a vir. Esses são alguns dos motivos que levam muitas mães a abandonarem precocemente a amamentação. A média de aleitamento exclusivo da população brasileira é de apenas 54 dias, segundo dados do Ministério da Saúde.
Na tentativa de reverter esse quadro, foi criada a certificação Hospital Amigo da Criança. São 335 em todo o País. Para receber o título, é preciso obedecer a regras internacionais estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com o objetivo de incentivar a amamentação. Nesses locais há a promoção do aleitamento logo na primeira hora de vida do bebê, não são oferecidos bicos artificiais, a mãe é orientada sobre as diversas formas de amamentar, além de receber acompanhamento mesmo após o parto.
O resultado pode ser medido: 50% dos bebês nascidos nesses locais foram alimentados somente com leite materno até seis meses. O índice cai para 46% em hospitais não credenciados. “A diferença parece pouco, mas é muito expressiva, estamos falando aqui de milhares de crianças que foram amamentadas por mais tempo porque suas mães foram sensibilizadas sobre a importância do aleitamento materno e tiveram o apoio da equipe hospitalar para que a amamentação tivesse sucesso”, diz a coordenadora de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, Elsa Giugliani. Os dados são do Ministério da Saúde, que fez um levantamento com mais de 120 mil crianças em 254 municípios brasileiros.
Ainda de acordo com a pesquisa, o número de bebês que mamaram na primeira hora de vida foi de 71,9% nesses hospitais, enquanto nas demais maternidades a taxa foi de 65,6%. “O número ainda não é suficiente. Infelizmente não estamos oferecendo esse atendimento de qualidade a todas as crianças nascidas no País”, avalia Sonia Venâncio, pesquisadora do Instituto Saúde, órgão ligado à Secretaria de Saúde de São Paulo.
O leite materno é o melhor alimento para o recém-nascido e funciona como uma vacina natural, protegendo o bebê de diversas doenças. O aleitamento diminui a mortalidade no período neonatal. A amamentação exclusiva até os seis meses de idade e complementar até os 2 anos poderia salvar a vida de 1,5 milhão de crianças anualmente em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Atraso no aleitamento
As mães podem levar até uma semana para começar a produzir leite. O atraso, segundo pesquisas norte-americanas, pode ser ocasionado por três fatores importantes como estar acima do peso, ter dificuldades para dar o seio e ser mãe pela primeira vez após os 30 anos.
De acordo com o estudo, 44% das 431 mulheres estudadas levaram mais de 72 horas para que o corpo iniciasse a produção de leite. As mães acima do peso apresentaram mais chances de ter atraso do que as magras, e 58% daquelas que tinham 30 anos ou mais sofreram com atraso contra 39% daquelas abaixo dessa faixa etária. A pesquisadora que coordenou o estudo, Laurie A. Nommsen-Rios, do Cincinnati Children's Hospital Medical Center, em Ohio, não conseguiu identificar por qual motivo a idade e o peso estariam relacionados a um maior risco de lactação tardia.
Além disso, o estudo demonstrou que as mães que amamentaram seus filhos pelo menos duas vezes nas primeiras 24 horas de vida do recém-nascido estavam menos propensas a ter atrasos na lactação.
Frustradas com a demora, muitas mulheres acham que não poderão amamentar e desistem de dar o peito. Nessas condições, a médica aconselha a procurar um especialista e disse que a peça chave, neste momento, é o apoio e a perseverança.
Pele a pele
A proximidade entre mãe e filho pode ajudar mulheres que estiverem enfrentando problemas para amamentar. A indicação é incentivar o contato pele a pele de mãe e filho. A proximidade é uma das obrigações dos Hospitais Amigos da Criança: colocar o bebê em contato com a mãe logo após o nascimento. Essa relação é, inclusive, recomendação da Academia Americana de Pediatria. “O contato pele a pele não é importante só para o aleitamento, mas para formação de vínculo, para o desenvolvimento afetivo da criança”, avalia Sonia Venâncio.
Alimentação materna
Cerca de 94% das mães não seguem uma dieta apropriada logo após o parto, ou seja, não consomem a quantidade devida de vitaminas A e E, ferro e carboidratos. Essa foi a conclusão de outra pesquisa realizada pela Universidade de Granada, na Espanha, que revelou que as mulheres estavam optando por uma dieta hipocalórica, rica em proteínas, e baixa em gordura.
O resultado é uma queda na qualidade do leite oferecido ao recém-nascido, com excesso de proteínas e deficiência de vitaminas A e E e ferro, este último um nutriente essencial para o desenvolvimento neurológico do bebê. O problema, no entanto, é de fácil correção: bastam pequenas alterações no cardápio dessas mães, como a inclusão de frutas e a redução de carnes, para ter um salto na qualidade no leite oferecido ao filho e, consequentemente, um aumento na saúde dessa criança.
Fonte IG
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