De anual, teste para detecção de câncer de colo do útero passará a ser feito a cada três anos
Por quase três gerações, as mulheres foram ensinadas que testes de Papanicolaou, mamografias, e visitas anuais ao médico eram essenciais para a boa saúde.
Agora, tudo isso está mudando. As diretrizes nacionais dos EUA estão pedindo exames menos frequentes para detecção de câncer de mama e câncer cervical.
A diminuição no uso de hormônios da menopausa significa que as mulheres mais velhas não precisam mais consultar seus médicos para obter as novas prescrições anuais. As mulheres estão postergando a gravidez e alguns métodos contraceptivos são eficientes por até cinco anos, o que não as incentiva a agendar consultas regulares. Para muitas mulheres que realizaram visitas anuais ao ginecologista desde a adolescência, o conselho de que isso não é mais necessário é inquietante.
"Preocupa-me que essa possa ser a mensagem errada", afirmou Miriam Richards, enfermeira em Raleigh, Carolina do Norte, que foi tratada contra uma displasia pré-cancerosa, revelada durante um teste de Papanicolaou anual.
"Eu acredito que esse é um mau caminho a se trilhar, porque eu creio que as mulheres, em especial as meninas, devem ficar atentas."
Entretanto, os especialistas médicos continuam a pregar que, quando se trata de exames para detecção de câncer, mais não é necessariamente melhor. Por muitos anos, as mulheres foram aconselhadas a iniciar a mamografia aos 40 anos; então, em 2009, a força-tarefa de Serviços de Prevenção dos Estados Unidos elevou a idade recomendada para 50 anos – e especificou que o exame passasse a ser realizado a cada dois anos, em vez de anualmente.
Na semana passada, a força-tarefa e alguns grupos médicos, incluindo a Sociedade Oncológica Americana, recomendaram que o exame de Papanicolaou para detecção do câncer de colo de útero fosse feito a cada três anos, afirmando que as mulheres não devem começar a fazê-lo antes dos 21 anos. No passado, o exame era recomendado a cada um ou dois anos, poucos anos depois do início da vida sexual.
A preocupação é que exames mais frequentes para detecção do câncer, seja de mama ou de colo de útero, levem a um número maior de falsos positivos – e biópsias intrusivas e dolorosas que causam stress, desconforto e, no caso do exame para detecção do câncer de colo de útero, sangramentos e futuros riscos para as mulheres durante a gravidez.
A mudança de cenário dos exames para detecção do câncer certamente terá um efeito sobre os cuidados com a saúde feminina, mas ninguém sabe ao certo de que maneira.
Há muito tempo, as mulheres têm sido as usuárias mais frequentes da assistência médica, em especial para cuidados pré-natais e visitas ao pediatra com seus filhos. Mas, mesmo quando a gravidez e os cuidados pediátricos são removidos da equação, as mulheres ainda têm uma chance 33% maior de visitar o médico, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
A taxa de consultas médicas para exames anuais e serviços de prevenção para mulheres é o dobro da masculina. E, o mais importante, os ginecologistas frequentemente utilizam a consulta anual para trazer à tona problemas que podem dificultar a reprodução: tabagismo, ganho de peso, pressão alta, depressão.
"Eu entendo os relacionamentos estreitos que se formam entre os médicos e as pacientes durante suas consultas anuais", afirmou Wanda Nicholson, membro da força-tarefa de um serviço de prevenção e professora associada da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.
"Mas nossas recomendações dizem respeito apenas aos exames para detecção do câncer de colo de útero. Não desejamos alterar ou mudar a possibilidade de as mulheres entrarem em contato com seus médicos para conversar sobre outras preocupações."
Susan Love afirma que, ainda que as consultas médicas anuais possam ser reconfortantes, não há qualquer evidência de que elas produzam melhores resultados em saúde.
"Não há dados que demonstrem que as visitas anuais tenham qualquer efeito", afirmou Love, pesquisadora do câncer de mama e uma importante defensora da saúde da mulher em Santa Monica, Califórnia.
"No atual sistema de saúde, você raramente tem o mesmo médico a vida toda. Portanto, as relações que você constrói em 15 minutos não valerão de nada quando você realmente ficar doente."
Algumas mulheres dizem que as novas diretrizes não irão dissuadi-las das consultas médicas regulares, e podem, na verdade, torná-las mais dispostas a agendar as consultas, sabendo que é menos provável que sejam submetidas a um exame pélvico e a um exame de Papanicolaou.
Uma mãe de dois filhos, de 32 anos de idade, natural de Atlanta, que pediu que seu nome não fosse revelado, contou que seu seguro paga apenas uma consulta de bem-estar por ano, e que ela gostaria de mudar seus cuidados para um clínico geral, ao invés de gastar todo o pagamento com uma visita ao ginecologista.
"Eu preciso falar mais sobre problemas reprodutivos com o meu médico", afirmou. "Eu não quero falar com meu ginecologista sobre a minha dor no pé, mas, no clínico geral, podemos falar sobre dores no pé e no joelho. Ele verificou manchas suspeitas em minha pele, fez exames de sangue e eu recebi uma vacina antitetânica. Nós falamos sobre o fato de meu pai ter removido pólipos pré-cancerosos do cólon. Você sente que pode falar sobre mais coisas com um clínico geral."
Richards, a enfermeira da Carolina do Norte, diz que não sabe como as mudanças afetarão o relacionamento das mulheres com seus médicos.
"Primeiro a questão da mamografia e agora a do Papanicolaou", comentou.
"Ou isso vai nos tornar mais determinadas a conseguir o que precisamos, ou nós vamos ter uma postura mais indiferente. É com as meninas que eu me preocupo."
Fonte Delas
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