Sintomas pouco específicos e ausência de exames característicos dificultam o reconhecimento da doença
Aos 29 anos, Ana Paula Ferreira do Nascimento teve que rever seus planos de ter filhos. A barriga que crescia a olhos vistos não era sinal de que a farmacêutica estava grávida, mas sim de um tumor maligno que comprometeu os dois ovários, parte do intestino e do peritônio.
“Eu tinha um leve sangramento e dor. Depois, a barriga foi crescendo. Parecia que eu estava grávida, eu ia ao banco e as pessoas me davam licença na fila”, conta.
Um ultrassom transvaginal confirmou o câncer. O tamanho preocupou os médicos e levou-a para a mesa de cirurgia dias depois do diagnóstico para retirada dos ovários. A notícia não abalou a moça de sorriso fácil, que fala da doença com simplicidade, coragem e determinação.
“Deixaram o útero para que eu pudesse tentar ter filhos com inseminação”, afirma. “Decidi lutar. Essa coisa não nasceu comigo, então eu tenho que ser mais forte”, diz.
Apenas alguns meses após a primeira operação, Ana Paula teve que passar por uma segunda cirurgia, na qual parte do peritônio foi retirada. Agora, começou as sessões de quimioterapia.
“Os cabelos não vão cair, mas na cirurgia tiraram meu umbigo”, ri.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima o diagnóstico de 6.190 novos casos de câncer do ovário em todo o País este ano. A cada 100 mil mulheres, seis devem desenvolver a doença semelhante a de Ana Paula. O câncer de ovário é o sétimo mais incidente na população e, em 2009, 2.963 mulheres morreram vítimas dele.
“Os sintomas não são específicos, por isso, as mulheres se confundem e o diagnóstico precoce se torna mais difícil”, afirma Glauco Baiocchi Neto, diretor do departamento de ginecologia do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo.
Em estágio mais avançado, o tumor pode pressionar a região, causando dor, inchaço, prisão de ventre ou sangramento.
“Ainda não temos novos exames nessa área. É o tipo de câncer que temos mais dificuldade de diagnosticar”, completa Elza Mieko Fukazawa, ginecologista do mesmo hospital. Por esses motivos, cerca de 3/4 dos cânceres desse órgão apresentam-se em estágio avançado no momento do diagnóstico. Segundo Baiocchi Neto, 85% dos casos estão no epitélio, a camada que dá sustentação.
Os principais fatores de risco são histórico familiar e idade (a maioria dos casos aparece na menopausa). Episódios como o de Ana Paula, em que a doença se manifesta antes dos 45 anos, são raros: apenas 1 em cada 15.
Essa doença tem um forte componente genético e está ligada aos genes BRCA1 e BRCA2, que também podem causar câncer de mama. Em geral, mulheres com esses genótipos têm de 45% a 25% mais chance de desenvolver câncer em qualquer fase da vida.
Outros fatores de risco importantes são a terapia de reposição hormonal, o tabagismo e a obesidade. Além disso, alguns estudos reportam uma relação direta entre o desenvolvimento do câncer ovariano e a menopausa tardia, alerta o INCA.
Mulheres com endometriose também devem ficar atentas. A inflamação ocasionada no endométrio pode contribuir para o aparecimento do câncer de ovário.
“Estudos sugerem que o risco de câncer do ovário dobra em mulheres portadoras dessa doença em comparação com as que não a têm”, afirma o Instituto Nacional de Câncer.
Alguns estudos apontam o uso de pílula anticoncepcional por mais de cinco anos como um fator protetor contra esse tipo de neoplasia.
“É como se você deixasse o ovário quietinho, sem ovular, por todo esse tempo”, explica Baiocchi Neto.
Fonte Delas
Nenhum comentário:
Postar um comentário