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sábado, 19 de janeiro de 2013

Implante de íris levanta questões

Dr. Kenneth Steinsapir, médico que investigou
uma empresa que fornece a cirurgia de
substituição da cor da íris
Dispositivo não tem aprovação do FDA e pode causar cegueira
 
A cuidadora de adolescentes em situação de risco Anita Adams, de 41 anos, nasceu com um olho verde e outro castanho. Embora as íris de cores diferentes, algo também conhecido como heterocromia, possam parecer exóticas em David Bowie e Kate Bosworth, Adams não gostava delas nela própria.
 
Em meados de 2008, ela começou a procurar na internet por uma solução diferente das lentes de contato coloridas e encontrou uma empresa, a New Color Iris, que comercializava um dispositivo inventado por um oftalmologista panamenho, o Dr. Alberto Delray Kahn, com o qual é possível implantar uma íris artificial ou protética sobre a natural.
 
O dispositivo não tem aprovação do FDA, já que não há estudos clínicos realizados a respeito nem publicações em revistas. Apesar disso, Adam encontrou nas redes sociais, como Facebook e YouTube, entretanto, comentários e depoimentos de pacientes que estavam encantados com os resultados.
 
Adams não é a única em busca de simetria, mesmo com os riscos. O Dr. Gregory J. Pamel, professor clínico assistente de oftalmologia na Universidade de Nova York, disse que nos últimos dois anos, a cada mês, foi contatado por três pacientes que diziam ter lido em seu site que ele implanta íris artificiais por razões médicas.
 
— Eles queriam participar do estudo clínico, e eu respondia: 'Isso não está disponível no país’. Nos EUA, não existem dispositivos aprovados para mudar a cor dos olhos cosmeticamente. Até o momento, nenhum estudo clínico fez essa pesquisa. Não existe nada à vista.
 
O Dr. Kenneth Steinsapir, cirurgião oculofacial e oftalmologista que atua em Los Angeles, também recebeu telefonemas de pacientes que queriam mudar a cor dos olhos, o que o levou a investigar a New Color Iris.
 
— Já se sabe que o disco colorido que é colocado no olho causa danos. Se a pessoa não é albina, não tem falta de pigmento na íris, e se não lhe falta parte da íris em decorrência de um defeito congênito ou trauma, então não há nenhuma razão médica que justifique a cirurgia.
 
Adams, porém, estava determinada a corrigir o que achava ser uma imperfeição. Em setembro de 2008, foi submetida ao procedimento, que levou 15 minutos. Durante dois dias, a visão de Adams ficou embaçada, o que lhe disseram ser normal. No terceiro dia, ela já conseguia enxergar bem o suficiente para passear pela cidade.
 
— Naquele momento, eu me sentia feliz com a experiência.
 
Adams ficou satisfeita com suas íris iguais por cerca de dois anos. Contudo, no outono de 2010, contou ela, começou a perceber que sua visão estava "manchada" e ficou "morrendo de medo de ficar cega".
 
O Dr. Mohammed ElMallah, oftalmologista de Ocala, Flórida, especializado em cirurgia de glaucoma e catarata, contou que removeu recentemente os implantes da New Color Iris de uma paciente que teria ficado cega caso não os retirasse.
 
— Talvez ela não deixasse de enxergar em um mês, mas isso provavelmente aconteceria dentro de um ou dois anos. O mais provável é que ela tenha que usar colírio contra o glaucoma para o resto da vida.
 
O oftalmologista Dr. James Tsai, especialista em glaucoma da Universidade de Yale, publicou artigos sobre os resultados negativos desse tipo de cirurgia.
 
— Na Internet, há quem diga que o procedimento é seguro, afirmando que 'a tecnologia utilizada é semelhante à empregada no tratamento da catarata', o que é impreciso e enganoso.
 
Em seu site, a Academia Americana de Oftalmologia alerta que a cirurgia de implante ocular – originalmente concebida para o tratamento de pessoas cujas íris não se desenvolveram normalmente, e não por razões estéticas – pode elevar a pressão intraocular, o que corre o risco de causar glaucoma, catarata, lesão da córnea, bem como de reduzir a visão ou levar à cegueira.
 
Quanto a Adams, que recebeu diagnóstico de glaucoma e catarata, seus implantes foram removidos no início de 2011, a um custo de R$ 10.000 (U$S 5.000), valor que não estava coberto pelo seu seguro. Ela disse que sua visão está melhor, mas não é a mesma de antes.
 
— As minhas pupilas estão um tanto alongadas agora, não mais redondas como antes, e minhas córneas estão riscadas, então não posso usar lentes de contato.
 
Além disso, seus olhos voltaram a ter cores diferentes. Adams, porém, aprendeu uma lição com a experiência.
 
— Não é à toa que algo não tem aprovação da FDA. Sou grata por ainda enxergar.
 
Fonte R7

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