São Paulo – Dois anos após a publicação do manifesto sobre disseminação de
superbactérias no mundo, na revista médica The Lancet, o cenário não é
animador, apesar de alguns avanços, segundo especialistas entrevistados pela
Agência Brasil.
O manifesto feito por profissionais e
institutos de medicina, em 2011, chamava a atenção para o uso indiscriminado de
antibióticos, o que pode levar a um quadro em que os medicamentos existentes
tornem-se obsoletos.
"Nós estamos perdendo essas drogas", declarou a médica Rosana Richtmann, do
Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Comitê de Imunização do Ministério
da Saúde.
Richtmann destaca que basta pouco tempo para que se tenham relatos de
resistência mesmo a antibióticos mais novos. "Eles [mecanismos de resistência]
estão cada vez mais rápidos. Falo de questão de seis meses a um ano", informou.
Ela explica que, com isso, os investimentos industriais estão mais voltados para
doenças crônicas, como hipertensão. "Mesmo em relação a doenças infecciosas,
desenvolver drogas contra hepatite ou fungos parece ser mais interessante,
porque não tem o mesmo mecanismo de resistência da bactéria", avaliou.
O último caso registrado no país ocorreu em maio deste ano, quando foi
identificada a presença do gene tipo Carbapenemase New Delhi
metallobetalactamase (NDM) em cinco pacientes do Hospital Conceição, em
Porto Alegre. Em 2010, foram pelo menos 35 casos de contaminação pela
superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) no Recife. A
médica infectologista destaca, no entanto, que para a grande maioria das
bactérias existentes no Brasil os antibióticos existentes são eficientes.
Essa característica faz com que algumas infecções comuns, como a urinária,
exijam drogas mais potentes das que eram utilizadas anteriormente. "É uma
infecção banal, principalmente entre mulheres, mas a gente está vendo que
bactérias que eram sensíveis a antibióticos básicos já não dá mais para usar,
tem um grau de ineficiência avançado", explicou Richtmann. Outro exemplo
destacado pela médica são as infecções provocadas pelo pneumococo, como
meningite e pneumonia. "A gente sempre tratou com penicilina e agora estamos
vendo que têm tipos menos sensíveis".
Richtmann considerou que o primeiro passo para conter o avanço das
superbactérias começa por ações simples. "Todos os hospitais tem que ter hoje
comissão de controle de infecção hospitalar. Antes de pensar em incentivar a
indústria, novos fármacos, porque isso tem um custo elevado, é mais factível
começar com o que nós temos", avaliou.
Se por um lado aumentou o controle nos hospitais e o nível de exigência para
compra de antibióticos, por outro a indústria farmacêutica mundial reduziu a
pesquisa de novos medicamentos que seriam capazes de conter essas bactérias
multirresistentes. "[Produzir antibióticos] não tem sido um bom negócio.
Gasta-se, por exemplo, R$ 1 bilhão de dólares para pesquisar 10 mil novos
compostos e chegar a um. Quando ele chega no mercado, a bactéria ficou
resistente", explicou o médico Marcos Antonio Cyrillo, membro da Sociedade
Brasileira de Infectologia. Em 2008, por exemplo, nenhum novo antibiótico chegou
ao mercado, informou o infectologista.
A resistência das bactérias ocorre porque elas, diferentemente de outras
doenças, são microorganismos vivos capazes de transmitir o gene de resistência.
"Se temos dez bactérias no corpo, por exemplo, e nove são sensíveis ao
antibiótico e uma é resistente, você toma o remédio e uma ficou. De 20 em 20
minutos ela se multiplica e vai transmitindo gene de resistência às filhas",
explicou Cyrillo. Por isso é fundamental que os pacientes fazem uso do remédio
no período e na dosagem prescrita pelo médico.
Fonte Agência Brasil
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