Rio de Janeiro – Bem aceito por boa parte da sociedade, legalizado e
promovido pela publicidade, o consumo de álcool deve ser tema de conversa entre
pais e filhos, defendem especialistas. Eles acreditam que é a melhor forma de
combater o uso durante a adolescência. O tempo certo para a conversa, no
entanto, é variável e depende de cada família.
"É bom que não seja depois dos 12 anos, que é a idade em que muitos têm o
primeiro contato com o álcool, mas é claro que a necessidade de aconselhar a
criança depende do grau de exposição à bebida. Tudo depende do contexto. Se a
criança começa a ser exposta ao álcool mais cedo, vendo as pessoas e os próprios
pais beberem, isso tem que ser conversado", argumenta a professora do
departamento de medicina preventiva da Universidade Federal de São Paulo Zila
Sanchez, integrante do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas.
No 6º Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre
Estudantes do Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública e Privada, nas 27
capitais brasileiras, com dados de 2010, os pesquisadores do centro de pesquisa
constataram que a idade média do primeiro contato com as bebidas alcoólicas é 13
anos.
Foram ouvidos 50.890 estudantes, e 15,4% dos que tinham entre 10 e 12 anos
declaram que tinham consumido álcool no ano da pesquisa. A proporção sobe para
43,6% entre 13 e 15 anos, e para 65,3% entre 16 e 18 anos. De todo o universo
pesquisado, 60,5% dos estudantes declararam ter consumido álcool. A taxa foi
maior entre os alunos das escolas privadas (65%) do que entre os das públicas
(59,3%). Mais que um quinto dos estudantes (21,1%) tinha consumido álcool no mês
da pesquisa.
Outro estudo, divulgado pela companhia cervejeira Ambev mostra que 33% dos
pais brasileiros não conversam com os filhos sobre o consumo de álcool, apesar
de 98% dizerem que consideram importante. Entre os 11 países pesquisados, o
Brasil só fica na frente da Ucrânia (34%) e da China (53%). Na Alemanha, apenas
15% dos pais disseram não ter falado.
Quase metade dos pais brasileiros, que disseram não ter tocado no assunto,
consideram que o filho é muito novo para isso (48%), apesar de a idade média que
os entrevistados consideraram a ideal para a conversa ser 9 anos. Vinte e dois
por cento disseram não saber como tocar no assunto, 15% afirmaram confiar nos
filhos e 9% alegaram que acham estranho ou têm vergonha de conversar sobre
isso.
"Geralmente eles mesmos consomem e até de forma exagerada. É difícil falar de
uma coisa que você faz, às vezes, na frente dos filhos. Os pais que não consomem
de maneira abusiva na frente dos filhos, os protegem do consumo. É uma questão
de avaliar o quanto você está expondo seu filho. O ideal é que não consuma, mas,
se consumir, é importante deixar claro que é bebida de adulto", diz Zila.
A professora chama a atenção para o fato de a porcentagem de jovens que
consomem bebida alcoólica ter caído entre as duas pesquisas do centro de
informações sobre drogas. Em 2004, eram 41,2% os estudantes de 10 a 12 anos que
tinham consumido álcool, percentual que caiu para 27,9%. Para Zila, a queda é
resultado de políticas públicas e conscientização, mas é preciso maior
convencimento sobre o problema, uma vez que o consumo excessivo tem
crescido.
"A queda é uma questão de políticas públicas e maior controle, mas o aumento
do consumo em grande quantidade tem mais a ver com uma cultura que tolera a
embriaguez, e que a favorece. Ela é estimulada de várias formas, como em músicas
e festas", diz a pesquisadora. Ela recomenda que os pais sejam presentes na vida
dos filhos para acompanhar essa questão. "A melhor forma que os pais têm de
conhecer os hábitos e os ambientes que o filho frequenta é levando-o a festas e
casa dos amigos e buscando-os. Assim ele sabe se o local vai ter álcool, quem
está lá, e em que estado o adolescente volta para casa".
Agência Brasil
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