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sábado, 21 de setembro de 2013

Médicos defendem uso diário e obrigatório de protetores para evitar possíveis cânceres de pele

A geografia privilegiada do Brasil, próxima aos trópicos, significa também um risco maior à saúde da população
 
O Brasil soma mais de 9 mil quilômetros de litoral, pelos quais se espalham cerca de 2 mil praias. Dos 365 dias no ano, 280 deles são ensolarados.
 
Os números, de fato, confirmam que o país tem posição privilegiada, apreciada por aqueles que amam o sol e o mar. Mas a proximidade dos trópicos também apresenta perigos. Somos tão abençoados geograficamente quanto vulneráveis aos riscos da radiação solar.
 
Na prática, aqui, registram-se índices de radiação ultravioleta no inverno mais altos do que aqueles aferidos durante o verão em outros continentes, como a Europa. Isso quer dizer que, no Brasil, o prazer é garantido para curtir a praia, mas o cuidado com a pele é uma obrigação.

O tema foi destaque do 68º Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, sediado em Brasília na última semana.
 
Dermatologistas, pesquisadores e farmacêuticos se reuniram para mostrar estudos que convencessem a população de que a exposição ao sol exige muita precaução. Os especialistas ainda apresentaram as novidades em fotoproteção e falaram das formas de se prevenir e diagnosticar precocemente o câncer de pele.

“A fotoproteção é um conjunto de atitudes”, alerta o médico Marcus Maia, coordenador do Programa de Combate do Câncer de pele, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Ele quer dizer que é preciso mudar de hábitos.
 
Isso inclui passar mais tempo na sombra, mas, se a exposição for inevitável, fuja dos horários de maior insolação, entre as 9h e as 15h. Além disso, use roupas adequadas, chapéu, boné, óculos escuros e, claro, aplique protetor solar. “É uma proteção eficiente que pode ser usada em qualquer época do ano.”

Até aí, a cartilha é a mesma repetida todos os anos. O que se apregoa cada vez mais, porém, é que se escolha produtos com fator de proteção solar mais alto, que pode chegar a 100. “Se as pessoas passassem a quantidade adequada de protetor, um produto de fator de proteção 30 seria suficiente, mas um pequeno erro de aplicação reduz muito o tempo de proteção do indivíduo.”

Pesquisador em fotoproteção e coordenador do Departamento de Fotobiologia da SBD, o dermatologista Sérgio Schalka explica que os estudos mais recentes apontam que, na hora de aplicar o protetor solar, as pessoas usam só um terço do recomendado.
 
O problema é que a quantidade reduzida diminui a eficácia da proteção e um filtro com FSP 20 passaria a ter, na verdade, a ação de um de 7. “O ideal seria usar de um terço a um quarto de um frasco de protetor de 120ml a cada aplicação, mas sabemos que isso é demais na prática.”

Assim, a compensação do prejuízo seria usar um filtro de FSP mais alto. Isso porque os filtros de maior proteção, de fato, diminuem os riscos. Funciona assim: um filtro de fator 100 barra 99% da radiação solar, enquanto um de 50, filtraria 98%.
 
Parece pouco, mas na verdade a proteção é dobrada quando se escolhe o de FSP maior. “Essa pequena dose de radiação que passa e fica acumulada vai virar uma conta muito alta para se pagar no futuro, já que os efeitos do sol são cumulativos”, afirma.

Segundo Nilo Cobeiros, cientista da Johnson & Johnson, que lançou durante o Congresso o Minesol Actif Unify — FSP 80, muita gente tem resistência a usar produto com fator de proteção maior porque, em geral, esse produto tem mais óleo na composição.
 
O resultado é que se torna mais espesso e de aplicação menos agradável. “Por isso, enfrentamos o desafio de criar um produto de alta proteção e cosmeticidade mais leve”, acrescenta o cientista.
 
Os efeitos nocivos
Pesquisa da Johnson & Johnson aponta que as brasileiras se expõem ao sol, todos os dias, um pouco mais que uma hora, independentemente de irem ou não à praia.
 
O maior problema é que a geografia brasileira, próxima dos trópicos, apresenta um nível de radiação UV muito alto durante o ano inteiro. “A radiação ultravioleta aqui chega a 14, o que não ocorre nos EUA e na Europa, por exemplo”, afirma Marcelo Corrêa, especialista em meteorologia física e coordenador da Universidade Federal de Itajubá (MG).

Ele ainda alerta que, no verão, dependendo da localidade e do horário, com apenas duas horas e meia no sol, a pessoa recebe uma quantidade de radiação 52 vezes maior do que a dose diária recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Em dias de céu claro, inclusive, banhos de sol antes das 10h, que é o recomendado pelos médicos, podem ter seis vezes radiação do que o indicado pela OMS.”

E são justamente os raios ultravioletas que provocam mutações nas células, que, a longo prazo, podem se transformar em câncer. No Brasil, os números preocupam. O país é o que apresenta o recorde de crescimento de casos de câncer de pele.
 
Marcus Maia, coordenador do Programa de Combate do Câncer de Pele da SBD, conta que são estimados 140 mil novos casos todos os anos. O melanona, a manifestação mais grave da doença, corresponde a 6 mil casos e pode levar a 1,2 mil mortes anualmente.

Mortes que poderiam ser evitadas com prevenção e diagnóstico precoce. Como não dá para evitar o sol completamente e, tampouco, existem planos de adiar as férias na praia, a dica é se prevenir.
 
A mesma pesquisa da J&J aponta que apenas 31% da consumidoras usam protetor solar diariamente.
 
A proteção é essencial, especialmente para o grupo considerado de risco, como os de pele e olhos claros; pessoas que não se bronzeiam, só ficam com a pele vermelha; quem já teve queimaduras ou câncer de pele.
 
Quem tem muitas pintas pelo corpo, identificou uma ferida que não cicatriza ou pinta com bordas irregulares deve procurar um dermatologista. Esses podem ser os primeiros sinais do câncer de pele.

A confirmação do diagnóstico de câncer, em geral, é pela biópsia comum. Porém, aparelhos cada vez mais modernos ajudam a detectar a doença mais cedo. Um deles acaba de chegar a Brasília — é o segundo do Brasil — e foi apresentado no evento.
 
O exame de microscopia confocal reflectante permite aumentar em até 400 vezes o tamanho da lesão suspeita. Em 68% dos casos, evita anestesia, cortes e cicatrizes desnecessárias se a lesão for benigna.
 
“A técnica é uma espécie de biópsia virtual e permite analisar a epiderme e a derme superior, camadas mais superficiais da pele, onde estão localizadas as alterações da maioria dos cânceres de pele e de muitas doenças dermatológicas”, explica o dermatologista Leonardo Spagnol Abraham, um dos responsáveis por trazer o aparelho para a capital. “Mas é um exame de confirmação e não de rastreamento da doença.”

Com a ajuda de um laser de baixa potência, é possível identificar com mais precisão uma célula mutada, indicativo de câncer. No entanto, todos os médicos são unânimes em reforçar que o câncer de pele é o único que você pode impedir que aconteça. Basta se cuidar.

Saúde Plena

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