Danilo Verpa/Folhapress
A psicóloga Catarina Braga Silva, 59, que retirou as duas mamas
em tratamento contra câncer, reconstruiu os seios e os mamilos
e agora tatua o bico do seio
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A técnica consiste em fazer um retrato da aréola, com uma mistura de cores para que o desenho fique de acordo com o tom da pele.
Um jogo de luz e sombra cria a ilusão da existência dos mamilos e dos tubérculos de Montgomery (pequenos carocinhos ao redor da aréola).
"É emocionante poder ajudar essas mulheres a recuperar a feminilidade e a vaidade. No final, quando se olham no espelho, algumas choram. Eu já chorei junto", conta o tatuador e pintor Sérgio Maciel, o Led's, que faz, em média, duas tatuagens de aréolas e mamilos por semana.
A Folha acompanhou na última quarta a tatuagem da psicóloga Catarina Braga Silva, 59, que retirou as mamas em 1994. Depois de sofrer problemas com os implantes, ela passou por uma reconstrução dos seios em 2001.
Em 2009, o câncer voltou e Catarina precisou retirar uma parte da mama. Agora, decidiu finalizar o processo com a tatuagem da aréola.
Primeiro, Led's mediu a proporção dos seios e desenhou o contorno da aréola. Depois, preencheu o desenho com uma mistura de pigmentos que resultou num tom rosado. A aréola da outra mama também foi retocada.
"Cada pessoa tem um tom de aréola, que pode puxar para o rosado, para o café com leite ou o marrom mais claro. A arte está em acertar o tom adequado, misturando cores", explica Led's, 30 anos de experiência no ramo.
Após duas horas, a aréola está pronta. Catarina se vê no espelho e sorri com os olhos marejados. "Ficou lindo."
A mesma cena se repete em outros estúdios de São Paulo, que têm visto aumentar a clientela de mulheres que buscam nesse tipo de tatuagem uma solução para corrigir a mutilação do câncer.
"No início, você só se preocupa em ficar curada, nem liga se está sem o bico do seio ou sem aréola. Mas tê-los de volta significa encerrar um ciclo de sofrimento", diz a professora Márcia, 48, que fez a tatuagem 3D há um mês.
A fisioterapeuta Tarsila Sakamoto, que se especializou em tatuar aréolas, conta que muitas mulheres com as mamas reconstruídas só voltam a mostrar os seios para os maridos ou namorados após a tatuagem. "Algumas passam anos só tendo relação sexual de sutiã ou camiseta."
Segundo o tatuador Paulo Sérgio Affonso, o Paulão Tattoo, a tatuagem reparadora evoluiu muito nos últimos anos, com uma grande variedade de pigmentos e agulhas. Mas, para ele, o que conta é a experiência do tatuador.
"Quando você aplica a tinta é uma cor, quando cicatriza é outra. A gente consegue visualizar como vai ficar daqui a um ano." O efeito 3D funciona como uma ilustração. "É como ver uma pintura que parece uma foto."
Última etapa
Muitas mulheres chegam aos estúdios encaminhadas pelos próprios cirurgiões. O preço da tatuagem depende da complexidade do trabalho.
Pode variar entre R$ 200 e R$ 1.000. A durabilidade chega a dez anos ou mais.
Refazer a aréola e o mamilo é a última etapa na longa trajetória das mulheres que enfrentam o câncer de mama. "É a cereja do bolo", define o cirurgião plástico Gustavo Duarte, da equipe do Hospital Sírio-Libanês.
Após a reconstrução das mamas, normalmente feita a partir de músculos e gordura do abdome, os novos peitos ficam sem aréola e mamilo.
"Espera-se em média um ano até o fim do tratamento contra o câncer, que pode envolver químio, radioterapia e eventual cirurgia plástica para corrigir a simetria das mamas enxertadas", diz Duarte.
Ao fim desse processo, a mulher pode optar por reconstruir o mamilo (com a própria pele do peito) e colori-lo juntamente com a aréola ou só tatuá-lo em 3D. "Há mulheres que preferem não reconstruir o mamilo. As mais jovens acham que ele marca as roupas, as mais idosas querem evitar mais cirurgia."
Folhaonline
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