Foto: Reprodução Mais da metade dos brasileiros trabalham em empresas que não permitem que os funcionários equilibrem seu tempo com a vida pessoal e familiar |
Alguma vez você já pensou em largar o seu emprego por achar que não tem tempo para dar a atenção necessária à sua família e vida pessoal? E em quantas situações você sentiu que os seus líderes ou a empresa para a qual trabalha não se importam com os seus problemas familiares? Cada vez mais profissionais percebem a importância de equilibrar o tempo gasto com as tarefas corporativas e a vida pessoal. Por isso, as empresas que não criam um ambiente facilitador aos seus funcionários correm risco de perder grandes talentos.
De acordo com uma pesquisa realizada com 16.128 profissionais em 22 países pela universidade de administração espanhola IESE Business School, em parceria com a filial brasileira ISE Business School, dos 215 executivos brasileiros entrevistados, apenas 8% disseram trabalhar em empresas que "facilitam sistematicamente a conciliação entre a vida pessoal e o trabalho" e 23% enxergam que trabalham em um lugar em que o clima é favorável a isso, contra 14% e 30% nos outros países, respectivamente. Entre os brasileiros insatisfeitos, 55% consideram que o ambiente de trabalho "dificulta ocasionalmente" essa harmonia e 14% sentem que a empresa "dificulta sistematicamente", ante 42% e 14% nos outros 21 países.
O risco das organizações que não proporcionam uma melhor qualidade de vida pessoal e profissional entre seus funcionários é grande. Segundo a pesquisa, 59% dos brasileiros que trabalham nessas companhias pensam em deixar o emprego, contra apenas 7% dos trabalhadores de empresas que têm essa preocupação.
Para o consultor e sócio-diretor da Alliance Coaching, Silvio Celestino, o Brasil ainda está atrás de outras nações no sentido de responsabilidade familiar corporativa por uma má formação de grande parte dos gestores das empresas. "Eles não sabem planejar. O gestor não tem conhecimento o suficiente para conseguir, com a quantidade de pessoas que ele tem disponível e com as horas disponíveis de trabalho, gerar o resultado que ele precisa. Você acaba sobrecarregando o funcionário e a parte visível disso é a pessoa ter menos horas de convívio familiar", avalia Celestino. A pesquisa revela que apenas 21% dos brasileiros enxergam em seu líder um exemplo de alguém que consegue equilibrar o lado profissional com o pessoal, contra uma média de 46% no exterior.
Segundo o consultor, o chamado Custo Brasil também exerce uma forte influência no resultado. "Mesmo que você seja um gestor bem formado e saiba planejar, você vai ter de fazer mais coisa com menos custo, senão você não vai dar conta da carga tributária. Isso acaba sobrecarragando também quem está na base", diz ele.
Líderes devem se importar mais
O conceito de Responsabilidade Familiar Corporativa abordado pela pesquisa consiste no compromisso das empresas de incentivar uma cultura que colabore com a satisfação plena do funcionário, criando políticas que adaptem a vida profissional à pessoal e familiar de todos. Neste ponto, o papel do líder é fundamental.
Entre os entrevistados brasileiros, ainda que 47% confiem em seu líder para solucionar possíveis conflitos profissionais e pessoais, apenas 20% acreditam que o chefe está disposto a escutar seus problemas, ou se sentem confortáveis em abordar estes assuntos com ele. Além disso, somente 26% afirmam que a maneira como o chefe organiza o seu departamento beneficia os empregados e a empresa.
Os benefícios mais desejados no Brasil
De acordo com a pesquisa, o que os trabalhadores consideram mais importante é a permissão para abandonar o escritório em caso de emergência familiar, seguida de horários de trabalho flexíveis e um calendário de férias que se adapte às necessidades do funcionário.
No entanto, eles não acreditam que estas políticas sejam o suficiente para conciliar lazer, família e trabalho. Entre os benefícios necessários estão o programa de bem-estar (como controle de estresse, exercícios físicos e etc.), sistema de compensação de horas trabalhadas (por exemplo, o funcionário poder tirar um dia de folga e, em troca, trabalhar por mais horas nos próximos dias) e o trabalho remoto (quando o colaborador faz a sua tarefa em outros lugares que não sejam o local de trabalho usual).
Cultura das empresas já é desfavorável
Apesar da flexibilidade disponível em algumas companhias dispostas a colaborar com o equilíbrio pessoal de seu funcionário, a cultura disseminada na organização deve condizer com as políticas disponíveis, para que o colaborador não tenha medo de utilizar os benefícios.
Segundo a pesquisa, entre as mulheres brasileiras entrevistadas, 22% acreditam que os funcionários que participam dos programas disponíveis pela companhia, como por exemplo o trabalho remoto, são notados como menos comprometidos com suas carreiras e os que recusam transferências para outras filiais da empresa por motivos familiares comprometem a evolução na organização. Esse percentual entre os homens cai para 15%.
Ainda de acordo com o levantamento, 29% das brasileiras enxergam que para prosperar na empresa elas devem trabalhar mais de 50 horas semanais, seja no escritório ou fora dele. Além disso, também acreditam que, para ser bem vistas pela liderança, devem colocar a vida profissional à frente da familiar e pessoal. Entre os homens, o percentual dos que têm a mesma cultura é quase o mesmo, com 27%.
Para o professor do Departamento de Gestão de Pessoas do ISE Business School e coordenador da pesquisa no Brasil, César Bullara, a mudança dessa visão é necessária. “Há uma clara demanda no mercado por mais qualidade de vida e as empresas que percebem isso tendem a se sair melhor quando entram na disputa por profissionais ou na retenção de talentos”, afirma em nota. “É preciso ter políticas efetivas e lideranças que a pratiquem e respeitem.”
iG
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