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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Aula de maquiagem ajuda a melhorar autoestima de mulheres com câncer

Mais de 1.500 mulheres já participaram de oficinas de automaquiagem realizadas em 12 instituições de São Paulo ao longo dos últimos 2 anos (Foto: Caio Kenji/G1)
Foto: Caio Kenji/G1
Mais de 1.500 mulheres já participaram de oficinas de
automaquiagem realizadas em 12 instituições de São Paulo
ao longo dos últimos 2 anos. Na imagem, a publicitária
Fernanda Baldoqui, 45 anos, recebe ajuda na hora de se maquiar
Curso gratuito atende pacientes em 12 instituições de SP. Cuidados com a vaidade ajudam na recuperação, diz especialista
 
O silêncio entre um pequeno grupo de mulheres reunido em uma sala do Instituto Paulista de Cancerologia, o IPC, em São Paulo é predominante. Desconhecidas umas das outras, elas evitam se olhar nos olhos e direcionar o campo de visão para os lenços enrolados na cabeça de algumas delas.
 
Estão ali porque passam por tratamento contra o câncer e participam de uma aula de automaquiagem gratuita. Com o passar dos minutos, o olhar de apreensão desaparece a cada passada de rímel, e a palidez da pele é substituída por tons avermelhados, graças a pinceladas de pó. O silêncio foi quebrado e as risadas dominam o ambiente.
 
A oficina, realizada em 12 hospitais de São Paulo e intitulada “De bem com você – a beleza contra o câncer”, pretende levantar a autoestima das pacientes com câncer. As professoras são maquiadoras voluntárias, e o objetivo é causar uma transformação física e emocional nas participantes, que, muitas vezes, querem se esconder ou são marginalizadas por estarem doentes.
 
O G1 acompanhou uma dessas aulas, realizada neste mês no IPC. Um grupo de 13 mulheres foi convidado a aprender técnicas que ensinam desde a criar uma sobrancelha com lápis até colocar um turbante e proteger a cabeça de sofreu queda de cabelo após passar por sessões de quimioterapia.
 
Realizado há dois anos, o projeto é inspirado em uma ação internacional criada em 1999 e que já atendeu mais de 700 mil mulheres ao redor do mundo. No Brasil, é promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal (Abihpec), que doa kits de maquiagem e cosméticos às participantes. Mais de 1.500 pacientes já foram atendidas.
 
Trauma eAutoestima
Emocionalmente abaladas após receberem o diagnóstico do câncer, muitas mulheres preferem se isolar por acharem que ficarão à margem da sociedade durante o tratamento, que pode envolver cirurgia, sessões de radioterapia e quimioterapia. Esses métodos podem impactar no seu visual, causando, entre outros sintomas, a alopecia (queda de cabelos).
 
O oncologista Ricardo Antunes, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, explica que os cuidados com a beleza neste momento são uma oportunidade de valorizar a autoestima no enfrentamento das dificuldades de um tratamento oncológico árduo. "E tem resultados surpreendentes que se traduzem em um ‘viver melhor'", completa.
 
De acordo com Vera Bifulco, psico-oncologista do IPC, a automaquiagem melhora a autoestima e as relações interpessoais dessas mulheres, que "passam por uma troca de experiência muito grande". Segundo ela, é neste momento que a paciente "se sente ativa e percebe que enquanto há vaidade, há vida”.

'Divisor de águas'
Claudio Viggiani, diretor de responsabilidade social da Abihpec, explica que são mais de cem maquiadores voluntários que contribuem no projeto. Segundo ele, todos passam por um treinamento que aborda detalhes sobre o voluntariado e técnicas de maquiagem.
 
Um deles é a maquiadora Eduarda Sampaio, 22 anos, há dois anos no projeto. Duda, como é chamada, afirma que aprende muito nas oficinas. "O que mais elas falam é que gostam de ser lembradas. Isso traz felicidade a elas", explica.
 
A publicitária aposentada Fernanda Baldoqui, de 45 anos, que trata de um câncer no cérebro, participou da oficina e disse que foi um divisor de águas na sua vida.
 
"Me fez ver que as minhas parceiras, que passam ou passaram pela mesma situação que a minha, estão mantendo a fortaleza delas, a beleza delas. E eu tenho que manter a minha. Foi importante pra que eu começasse a me valorizar de novo", disse ela.

G1

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