Acadêmicos equipararam efeitos do medicamento à ação de um simples paracetamol
Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS Revelações reabrem debate sobre o papel da OMS em promover produtos de uma determinada marca |
Quase R$ 500 milhões podem ter sido gastos sem necessidade pelo governo brasileiro. Um estudo revela que o remédio indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater a pandemia de gripe A, o Tamiflu, não teria qualquer chance de interromper a crise e não funcionaria melhor do que qualquer paracetamol.
Em 2009, quando a OMS declarou estado de emergência internacional, governos de todo o mundo seguiram as recomendações da entidade e compraram mais de US$ 3 bilhões em cápsulas do remédio da suíça Roche. Só o Brasil adquiriu 75 milhões de unidades do produto.
Segundo a pesquisa, realizada pela Fundação Cochrane e pelo British Medical Journal, as vendas do remédio aumentaram em mais de 1.000% e as ações da empresa farmacêutica registraram ganhos altíssimos. Entretanto, o medicamento não conseguiria impedir a proliferação do vírus H1N1 nem reduzir suas complicações. No máximo, o antiviral ajudaria a combater os sintomas.
Um dos argumentos usados pela OMS para sugerir que governos comprassem o remédio era de que, enquanto uma vacina era produzida, a distribuição do Tamiflu ajudaria a impedir que a pandemia ganhasse proporções catastróficas. Em um certo momento, a entidade chegou a alertar que dois terços da população mundial poderiam ser afetados pela gripe A.
Para os analistas, parte da falta de informação vem do fato de que as empresas farmacêuticas não publicam os dados de suas pesquisas. Para chegar a essa conclusão, os acadêmicos foram obrigados a consultar os testes médicos do governo britânico e analisar mais de 16 mil páginas do registro e licenciamento do medicamento.
Os gastos não beneficiaram a saúde humana, já que o resultado mostrou que os sintomas da gripe seriam reduzidos de sete para 6,3 dias. Segundo o levantamento, tomar paracetamol também faria o mesmo efeito, declaração contestada pela Roche. A OMS se limitou a dizer que estudaria as novas evidências, mas ainda mantém o Tamiflu na lista dos "remédios essenciais".
A revista The Lancet publicou investigação mostrando que a mortalidade do vírus H1N1 seria reduzida em 25% entre os pacientes que, uma vez internados, fossem medicados com o Tamiflu.
Ainda assim, as novas revelações reabriram o debate sobre o papel da OMS em promover produtos de uma determinada marca sem que haja um consenso na comunidade científica.
Estadão
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