Bruno Agostini Carne: dose diária deveria ser de 70g |
Açúcar do alimento causaria permanente processo inflamatório; pesquisa foi feita com ratos
Rio - Embora a carne vermelha seja rica fonte de proteínas, vitaminas e minerais, cada vez mais pesquisas sugerem que o consumo excessivo é danoso para a saúde a longo prazo.
Especialistas recomendam a ingestão de, no máximo, 70 gramas por dia, o equivalente a três fatias de presunto, uma costeleta de cordeiro ou duas fatias de rosbife. Agora, um estudo publicado na prestigiosa revista “Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)” parece ter encontrado o elo entre a carne e o câncer de fígado.
Os resultados da pesquisa, feita com ratos mas, segundo seus autores, potencialmente aplicável a humanos, sugerem que a carne vermelha libera a produção de anticorpos ao ser ingerida. São essas substâncias do sistema imunológico que elevam os riscos de câncer, ao manter o organismo do carnívoro excessivo em permanente estado “inflamatório”.
A reação ocorre porque as carnes de boi, porco e cordeiro contêm um açúcar, chamado Neu5Gc, que não é produzido por nós, diferentemente do que ocorre com animais integralmente carnívoros. Entendidos como corpos estranhos por nosso sistema imunológico, são esses açúcares que acabam “combatidos”, provocando o estresse.
Os cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, mostraram que camundongos geneticamente modificados para não produzir Neu5Gc acabaram desenvolvendo tumores no fígado quando alimentados com o açúcar.
De acordo com Ronaldo Silva, oncologista e sanitarista da rede Clínicas Oncológicas Integradas (COI), o grande mérito do estudo foi analisar os impactos da carne sobre um tipo de câncer não tão frequentemente associado a ela:
— Diversas pesquisas tentam provar associações, mas quase todas se concentraram no câncer de intestino. Esta é a primeira vez em mais de 40 anos que se tenta demonstrar o nexo entre carne vermelha e câncer de fígado. Isso, por si, já é um fato relevante.
Novos testes
O oncologista explica que o estudo ainda revela fragilidades que deverão ser debatidas e testadas no futuro:
— Primeiro, eles só utilizaram ratos, o que deixa em dúvida se o mesmo fenômeno ocorreria com humanos. Segundo, os ratos foram alimentados apenas com aquele açúcar, e nossa dieta é mais diversificada que isso.
O Globo
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