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terça-feira, 28 de abril de 2015

Em Porto Alegre associação voluntária distribui remédios sem uso para doenças graves

Milhões de pessoas sofrem com doenças graves, passam por tratamentos severos e, muitas vezes, precisam depender de medicamentos caros para ter qualidade de vida
 
Pensando naqueles que não têm como comprometer uma significativa parcela de sua renda na compra de remédios nem os encontram para distribuição gratuita no SUS (Sistema Único de Saúde), surgiu uma associação que procura auxiliar pacientes em todo o país.
 
Criado em Porto Alegre, o Banco de Remédios é uma associação independente que disponibiliza todo tipo de medicamento de forma gratuita a pacientes que não têm condições de comprá-los. Atualmente são cerca de 2.000 associados no Brasil que pagam uma contribuição mensal de R$ 30 e recebem remédios que podem custar mais de R$ 1.000 cada caixa.
 
A associação, que já tem nove anos e conta com trabalho de voluntários, nasceu da experiência do administrador Dámaso MacMillan, 62, que viu de perto essa situação. Depois de ser diagnosticado com uma doença incurável, passou por transplante de rins e, agora, é um caso raro que não necessita mais de remédios. “Fiquei oito anos em tratamento antes do transplante. Sou transplantado há 30 anos e sempre tive grande dificuldade para conseguir medicamentos, até porque são extremamente caros”, afirma.
 
Já curado, ele viu sua dispensa cheia de medicamentos sem mais necessidade, ao mesmo tempo em que presenciava de perto amigos do grupo de transplantados — o SOS Rim – do qual fazia parte passarem por dificuldades.
 
“Resolvemos, através da SOS Rim, criar um banco específico para pacientes renais. Mas médicos de diferentes especialidades foram nos indicando pacientes, até que resolvemos abrir o banco a qualquer tipo de doença. Hoje atendemos todas as patologias existentes e buscamos os medicamentos nos mais diversos locais para que possamos ajudar nossos associados”, explica.
 
O Banco de Remédios não compra nada. Ele recebe medicamentos já esquecidos nas prateleiras, seja de ex-pacientes já curados ou que mudaram de tratamento ou ainda de médicos que possuem estoques de amostras grátis. As caixas de remédios são doadas à associação, que faz uma triagem para verificar as que têm condições de serem repassadas e ofertadas aos associados.
 
“Atuamos especialmente com medicamentos de alto custo, como aqueles para pacientes de câncer e transplantados. Também recebemos remédios mais simples, que são distribuídos pelo SUS. Porém, às vezes, as pessoas não conseguem encontrar certos remédios nas farmácias do Estado e vêm até nós”, explica MacMillan.
 
Há, por exemplo, casos como o de um remédio antivirótico geralmente receitado para transplantados, cuja caixa com 42 comprimidos chega a custar cerca de R$ 1.000 — e o paciente precisa tomar até dez caixas do medicamento por mês.
 
O Banco de Remédios é uma alternativa para pessoas como Márcia Ferraz, 49. Desempregada há mais de dois anos, ela gastava R$ 300 por mês em medicamentos controlados. “Descobri o banco pela minha tia, de 87 anos, que toma uma série de remédios caros. É um auxílio muito grande. Antes eu dependia do apoio da família ou de algum amigo. Agora venho aqui buscar remédios para ela e para mim.”
 
Nenhum medicamento sai do Banco de Remédios sem que seja apresentada uma receita médica dentro da validade. Além disso, o paciente necessita comprovar que realmente usa o remédio e que não possui condições de comprá-lo. Já as substâncias invalidadas para a redistribuição, como as mal acondicionadas ou os que já passaram do prazo de validade, são entregues a uma empresa parceira especializada que faz o seu descarte de forma segura.
 
Um das características que difere o Banco de Remédios de uma farmácia popular, segundo Dámaso MacMillan, é a disponibilidade em solicitar por via judicial o fornecimento de um remédio a um associado. “Na falta coletiva de algum medicamento, entramos com uma ação. Um dos exemplos é o de um associado que estava sem remédio porque os dois fabricantes brigavam para ver quem poderia fornecer ao Estado. Entramos na Justiça e ganhamos os remédios para aquele paciente.”
 
Desperdício
Há um grande descontrole no gerenciamento da distribuição dos remédios no país. No ano passado no Rio Grande do Sul, 8,4 toneladas de medicamentos com os prazos de validade vencidos foram enterradas na região metropolitana de Porto Alegre — um valor estimado em R$ 3,2 milhões.
 
“Hoje a falta de medicamento ocorre no mundo inteiro. Não desperdiçar é um ato tão significativo que pode ajudar a vida de alguém”, afirma MacMillan. “O banco é uma instituição que a cada dia fica mais forte e está se transformando em uma rede social, com a qual podemos ajudar praticamente todo mundo. Essa é a nossa missão”, diz MacMillan.
 
Para o idealizador do Banco de Remédios, a iniciativa pode se multiplicar e interferir na ingerência dos medicamentos em nível internacional. “No Brasil não faltam medicamentos. A gente está botando remédio no lixo Por que não pegar esses medicamentos que sobram e repassar a um outro país, em especial os que são extremamente pobres, como o Haiti? Isso não compete ao governo, mas sim à sociedade”, afirma.
 
O Banco de Remédios está localizado no Centro de Porto Alegre.
 
UOL

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