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A exposição sistemática ao álcool durante a adolescência pode causar mudanças de longo prazo na região do cérebro que controla o aprendizado e a memória, de acordo com pesquisadores da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Os cientistas usaram roedores como modelos para substituir os testes em seres humanos.
O estudo, publicado em abril na revista Alcoholism: Clinical & Experimental Research, fornece novas pistas de como a exposição ao álcool durante a adolescência – antes que o cérebro esteja totalmente desenvolvido – pode resultar em anormalidades celulares e sinápticas, que trazem efeitos prejudiciais e duradouros sobre o comportamento.
"Aos olhos da lei, uma vez que o indivíduo atinge a idade de 18 anos é considerado adulto. O cérebro, no entanto, continua a amadurecer e a se aprimorar até por volta dos 25 anos”, disse Mary-Louise Risher, uma das autoras do estudo. "É importante que os jovens saibam que quando bebem muito durante esse período de desenvolvimento, podem acontecer mudanças que têm um impacto duradouro sobre a memória e também sobre outras funções cognitivas”.
Mary-Louise e seus colegas pesquisadores, incluindo o autor sênior, Scott Swartzwelder, professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Universidade de Duke, expuseram periodicamente ratos jovens a um nível de álcool durante a adolescência que, em seres humanos, resultaria em prejuízo, mas não em sedação. Depois disso, os animais não foram mais expostos ao álcool e cresceram até a idade adulta, o que, em ratos, acontece entre 24 e 29 dias.
Estudos anteriores feitos pela equipe de pesquisadores mostraram que os animais adolescentes expostos ao álcool se tornam adultos muito menos hábeis em tarefas de memória do que os animais normais - mesmo sem exposição posterior ao álcool.
O que ainda não está claro é como essas dificuldades se manifestam a nível celular na região do cérebro conhecida como hipocampo, onde a memória e o aprendizado são controlados.
Parar de aprender
Usando pequenos estímulos elétricos aplicados ao hipocampo, a equipe da Universidade de Duke mediu o mecanismo celular conhecido por potenciação de longa duração, ou LTP, na sigla em inglês, que nada mais é do que o fortalecimento das sinapses cerebrais, já que elas são usadas para aprender novas tarefas ou evocar memórias.
O aprendizado acontece melhor quando essa atividade sináptica é suficientemente vigorosa para construir sinais de transmissões fortes entre neurônios. O LTP é mais elevado nos jovens, e uma aprendizagem efetiva é crucial para adolescentes adquirirem grandes quantidades de novas memórias durante a transição para a vida adulta.
Os pesquisadores esperavam encontrar a LTP anormalmente diminuída nos ratos adultos que foram expostos ao álcool durante a adolescência. Surpreendentemente, no entanto, a LTP foi, na verdade, hiperativa nesses animais, comparados aos que não foram expostos ao álcool.
"À primeira vista, você poderia pensar que os animais seriam mais inteligentes", disse Swartzwelder, em comunicado. "Isso, porém, foi o oposto do que encontramos. E realmente faz sentido porque se você produzir muito LTP em um desses circuitos, chega um período de tempo em que você não pode produzir mais. O circuito está saturado e os animais param de aprender. Para o aprendizado ser eficiente, o cérebro precisa ter um delicado equilíbrio de excitação e inibição”.
Imaturidade celular
É importante ressaltar que a anormalidade da LTP foi acompanhada por uma mudança estrutural em células nervosas individuais. As pequenas saliências dos ramos das células, conhecidas por espinhas dendríticas, apareceram finas e compridas, o que sugere uma imaturidade celular. Quando estão maduras, são um pouco menores e se parecem com cogumelos, proporcionando uma melhor comunicação de célula para célula.
"Alguma coisa acontece durante a exposição ao álcool na adolescência que muda a forma do hipocampo e de outras regiões do cérebro, além de transformar a aparência das células. Tanto a LTP como as espinhas dendríticas têm uma aparência imatura na idade adulta", explica Swartzwelder.
Mary-Louise Risher conta que essa imaturidade das células cerebrais pode estar associada à imaturidade comportamental. Além das alterações no hipocampo, que afetam a aprendizagem, os pesquisadores mostraram mudanças estruturais em outras regiões do cérebro que controlam a impulsividade e as emoções.
"É bem possível que o álcool perturbe o processo de amadurecimento, que pode afetar as funções cognitivas mais tarde", disse ela. "Isso é algo que nós estamos ansiosos para explorar em outros estudos em andamento."
Os pesquisadores disseram que estudos adicionais focarão nos efeitos cognitivos do álcool a longo prazo no cérebro, juntamente com alterações celulares adicionais.
iG
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