Funcionários de funerárias que preparam corpos para o enterro podem estar em risco elevado de esclerose lateral amiotrófica (ELA, ou doença de Lou Gehrig), quadro neurodegenerativo incurável que atinge cerca de 450 mil pessoas no mundo e provoca o endurecimento dos músculos, levando à perda progressiva dos movimentos
A razão seria o formaldeído usado na preparação dos corpos, sugere uma pesquisa publicada na “Journal of Neurology Neurosurgery & Psychiatry”.
A pesquisa relacionou o formaldeído (em forma líquida, o formol) a danos nos nervos, aumento da permeabilidade das potências de energia de células mitocondriais e produção de radicais livres, todos os quais estão implicados na ELA.
— O ELA tem alguns fatores de risco genéticos identificados, mas a maioria dos casos são esporádicos — diz em entrevista ao GLOBO a pesquisadora Andrea Roberts, associada ao Departamento de Saúde Ambiental da Escola de Saúde Pública T.H. Chan, de Harvard, especialista em saúde mental e autora principal do estudo. — Diretores de funerárias estão expostos a altos níveis de formaldeído durante embalsamamento, de 0,15 a 9,2 partes por milhão no ar, bem como, talvez, 49,2 miligramas/ hora através da pele, como destacam estudos anteriores ao nosso — explica.
No ano passado a ELA ganhou notoriedade quando personalidades internacionais participaram o desafio do balde de gelo para angariar recursos para pesquisas sobre a doença.
Neste estudo os pesquisadores analisaram a relação entre a morte por ELA e a exposição ocupacional ao formaldeído, utilizando o Estudo de Mortandade Longitudinal dos EUA (NLMS, na sigla em inglês), que envolve cerca de 1,5 milhão de adultos.
Os participantes do estudo responderam, aos 25 anos de idade, questões sobre o trabalho mais recente que desempenhavam. A exposição ao formaldeído no trabalho foi então estimada, utilizando critérios desenvolvidos por higienistas industriais no Instituto do Câncer americano. A intensidade (frequência e nível) e a probabilidade de exposição ao formaldeído foram calculados para cada setor de trabalho e da indústria.
Homens em postos de trabalho com uma alta probabilidade de exposição ao formaldeído foram classificados como tendo três vezes mais probabilidade de morrer de ELA na comparação com aqueles que não tinham sido expostos a este produto químico. Já as mulheres não tiveram um risco aumentado de ELA, possivelmente porque poucas tinham empregos com exposição a altos níveis de formaldeído, o que torna difícil calcular o nível de risco, dizem os pesquisadores. Todos os 493 homens com alta intensidade e probabilidade de exposição ao formaldeído eram diretores de funerárias.
— Temos muito pouca compreensão de como se desenvolve a ELA. Vírus já foram sugeridos como possível factor de risco, por exemplo. A ideia por trás desse estudo não é a de que “se pegue” ELA de um paciente, mas a de que uma infecção por vírus (facilitada pela absorção de formol pela pele, por exemplo) pode levar ao ELA ou algo parecido com o ELA — esclarece Andrea.
Como este é um estudo observacional, não há conclusões definitivas sobre causa e efeito, advertem os autores, que também chamam atenção para o fato de que trabalhos que envolvem um alto nível de exposição ao formaldeído são relativamente raros, somado ao que diretores de funerárias estão expostos a outros produtos químicos utilizados no embalsamamento, bem como a bactérias, e priões.
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário