Foto/Reprodução: Dados apontados pelo Tribunal de Contas a respeito da espera por consulta na rede pública de saúde do DF |
Um relatório do Tribunal de Contas aponta que a espera por consultas em pediatria em hospitais públicos pode chegar a dois anos e meio no Distrito Federal. De acordo com o levantamento, as especialidades infantis mais afetadas são neurologia, cirurgia, gastroenterologia, dermatologia e cardiologia. O secretário de Saúde, Fábio Gondim, disse que ainda não teve acesso ao documento, mas reconhece o problema.
O gestor afirma que criou nos últimos dias um grupo para organizar a regulação de exames e consultas das 65 especialidades oferecidas pela rede pública – não apenas pediátricas. O prazo é de 120 dias.
“Hoje a pessoa tem que chegar em um centro de saúde, em uma UPA, em um hospital, tem um livro preto e aí ele vai falar ‘quero uma consulta de gastro’ [por exemplo]. Tem um número de vagas em um determinado dia do mês, aí, se já estiver fechado [lotado], já fechou, aí tem que voltar de novo depois. Isso é um absurdo. Às vezes espera dois, três meses, e a pessoa de Planaltina acaba recebendo uma consulta no Gama. Acaba não indo", diz.
A rede tem ainda outro problema: déficit de 30% no quadro de pediatras. O ideal, de acordo com a Secretaria de Saúde, seriam pelo menos 870 profissionais, mas há atualmente apenas 611. A pasta afirma que o problema é nacional e que tem se esforçado para completar as escalas. Em 2015 foram nomeados 78 médicos na área, mas só 24 quiseram tomar posse. Além disso, 18 se aposentaram.
Para o vice-presidente do Sindicato dos Médicos, Carlos Fernando Silva, as condições de trabalho seguem afastando profissionais. Reportagens do G1 mostraram que, mesmo oferecendo salários de até R$ 17,6 mil, o governo do Distrito Federal não conseguia atrair número suficiente de interessados para as vagas ofertadas em concursos temporários.
"Não adianta só o salário ser compatível. O pior no momento são as condições de trabalho. É uma escala esvaziada, condições precárias de trabalho, falta de medicação básica. Falta antibiótico, falta analgésico, anti-inflamatório", diz.
O relações públicas Diego da Silva Camargos conta que o problema da dificuldade para conseguir consultas ambulatoriais se repete nas emergências. No início do ano, o homem levou a filha de 5 anos para o Hospital Materno Infantil e passou mais de oito horas à espera de atendimento. A criança estava havia dois dias com febre e vômitos.
“Tinha muita gente, estava lotado e não tinha previsão de atendimento”, lembra. “Os próprios funcionários ficam estressados por causa do inconveniente, porque tem gente reclamando, xingando. Lá, de preferência, não volto mais.”
Uma leitora que preferiu não se identificar relatou situação semelhante. Ela foi ao Hospital Regional do Gama e disse que havia apenas um pediatra na unidade, atendendo apenas a casos graves. A mulher diz que acabou decidindo voltar para casa com a menina doente.
Preferindo não se identificar, um médico afirmou ao G1 que a situação no Hospital Regional de Taguatinga é "caótica". "Nos pronto-socorros o estresse é muito grande. O compromisso do médico hoje em dia não é igual ao de antigamente. Não existe mais aquela vontade de trabalhar em PS, principalmente clínica médica e pediatria. Somos três em um plantão noturno. É muito pouco para o volume de atendimento que a gente tem ali."
Ciclo vicioso
O vice-presidente do sindicato afirma que o excesso de trabalho e o baixo efetivo tem levado à exaustão da categoria. "Há um adoecimento muito grande. Você vê nas emergências aí, na grande maioria das vezes, um colega ou dois para passar na enfermaria, pronto socorro, o andar e lá fora 70, 80, 90 fichas esperando", diz.
O vice-presidente do sindicato afirma que o excesso de trabalho e o baixo efetivo tem levado à exaustão da categoria. "Há um adoecimento muito grande. Você vê nas emergências aí, na grande maioria das vezes, um colega ou dois para passar na enfermaria, pronto socorro, o andar e lá fora 70, 80, 90 fichas esperando", diz.
"Outro detalhe também é que estão tirando médicos dos ambulatórios [que fazem as consultas agendadas] para cobrir emergências. Isso causa efeito cascata. Se você não tem atendimento primário no ambulatório, onde o paciente vai buscar atendimento para as coisa simples, mas que ele precisa? Na porta do hospital. Então as emergências estão atendendo", completa Silva.
Por causa do déficit, o ex-secretário João Batista de Sousa havia decretado que 31 pediatras em cargos de chefia ou funções administrativas passassem também a atender nas emergências de Sobradinho, Materno Infantil, Taguatinga e Núcleo Bandeirante. Eles deveriam dedicar 60% do tempo de trabalho ao serviço.
De acordo com a Secretaria de Saúde, apenas 27 atenderam à convocação. A medida durou até 31 de julho, e a pasta não soube informar quantos permaneceram executando as atividades.
A pasta disse ainda que estuda a redistribuição dos profissionais. Atualmente, os hospitais de Base e de Samambaia não oferecem consulta pediátrica. Os salários iniciais são de R$ 6.327 para concursado para 20 horas semanais e R$ 8,8 mil para temporários que trabalhem o mesmo período.
G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário