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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Mãe cria abaixo-assinado para liberar doulas nos hospitais públicos

Reprodução / Reprodução: Morgana Eneile, ainda adolesecente,
no momento do nascimento do primeiro filho: ele nasceu após
cesárea e a mãe só voltou a pegá-lo no colo após 20 horas do parto
Carioca contou com a ajuda de uma doula no segundo parto e teve experiência completamente diferente de quando deu à luz Dave
 
Rio-  A gestora cultural Morgana Eneile, de 35 anos, mãe de Dave, de 17 anos, e de Teodoro, de 2,7 anos, teve dois partos completamente diferentes. Com o primogênito, precisou recorrer a uma cesárea de urgência por causa de complicações. O pai não conseguiu chegar a tempo. A adolescente, com 17 anos, passou por todo o processo sozinha e só pegou o filho novamente no colo após 20 horas do nascimento. Quando foi a vez de Teodoro, queria uma experiência diferente. Optou por ter a ajuda de uma doula antes, durante e depois do parto. Maravilhada com a nova história, iniciou uma luta pela ajuda psicológica das doulas nos hospitais públicos.
 
— No meu segundo parto, além do pai na sala de parto, minha doula estava presente. Em determinado momento, eu só precisava olhar para ela para entender que tudo estava correndo bem — contou Morgana, que procurou este auxílio extra após a 28.ª semana de gravidez, quando trocou de médico. — Percebi que ele estava me encaminhando, tentando me convencer, a partir para uma cesárea. Mudei tudo.
 
Como as doulas, que dão apoio físico e emocional para as gestantes, não podem atuar durante o parto, sobretudo na rede pública de saúde, Morgana criou um abaixo-assinado para, segundo ela, pressionar as autoridades municipais do Rio a autorizar a ajuda das doulas na hora H. O objetivo é chegar a 5 mil assinaturas e já alcançou 3,38 mil.
 
— Eu tive meus dois filhos em hospitais particulares. Como no primeiro parto eu era muito nova, não sabia nada e não fui orientada. Mas, na segunda vez, sabia o que queria. E pude contratar uma doula.
 
A questão é que nos hospitais públicos não há como ter um acompanhante e a doula aos mesmo tempo. O ideal seria ter a doula sem anular o direito ao acompanhante já garantido por lei. — explica Morgana, que se refere a lei de 1990 que garante que a gestante tenha a companhia de uma pessoa durante o nascimento do bebê.
 
Geralmente é o pai ou uma pessoa da família. A entrada da doula, cujo trabalho não é regulamentado, depende exclusivamente de o hospital autorizar mais um acompanhante.
 
— O pai está parindo junto com a mãe. Também tem medo, receios. Está abalado emocionalmente assim como a mãe. A doula, não. O problema a meu ver é que a mulher que está com uma doula tem mais orientação, pergunta mais, interfere no processo. Passa a ser uma pessoa ativa e não passiva. E isso não interessa aos hospitais públicos que tratam as mulheres de forma universal, igual para todas. Mas, nós queremos um tratamento mais pessoal porque cada uma é diferente da outra.
 
Segundo Morgana, esta é uma demanda bem concreta e possível, pois não exige que a profissional seja paga pelo SUS (existem doulas voluntárias, inclusive) e também porque já há outras cidades que autorizam, como Sorocaba e Blumenau, sua presença na hora do parto. No Rio, a maternidade Maria Amélia já permite e é, justamente, a unidade com os melhores indicadores de parto normal e saúde da mulher.
 
As doulas, ou assistentes de parto, tem papel de amparar a mãe para que ela se sinta o mais confortável possível. O ideal é que a mulher a procure ainda no primeiro trimestre da gravidez, quando fecha um pacote para ter sessões antes do parto. Até para criar uma empatia, uma história entre ela e a mãe.
 
Nessas aulas, as mães aprendem sobre o que acontece com o corpo durante a gestação, sobre os tipos de parto que existem e sobre as decisões que podem tomar — as doulas advogam em prol do parto natural. Na aula pós-parto, vem a lição sobre amamentação e primeiros cuidados com o bebê.
 
— Doula que é doula é profissional. Sabe o seu lugar e não interfere no processo médico. Aliás, sua função é outra. Não é com a equipe médica. É com a mulher. Então, essa questão de que ela pode atrapalhar, não é real.
 
O Globo

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