Um estudo feito em 25 estados americanos pode começar a apavorar pais também no Brasil: por lá foi constatado que os piolhos desenvolveram resistência aos tratamentos à base de piretroides, uma família de inseticidas amplamente usada por causar baixa toxicidade em mamíferos
Por aqui, alguns dos medicamentos mais conhecidos para pediculose contêm permetrina, um derivado sintético dos piretroides, também incluído na pesquisa. O estudo será apresentado no 250º Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química, que acontece até quinta-feira em Boston, nos EUA.
— Das 109 populações de piolho, 104 tinham altos níveis de mutações genéticas relacionadas à resistência a piretroides — explica o pesquisador Kyong Yoon, que trabalhou com a Universidade Southern Illinois, em Edwardsville.
Segundo ele, essa resistência vem sendo construída há anos. Os primeiros dados vieram de Israel, no fim da década de 1990. E o próprio Yoon foi o primeiro a reportar o fenômeno nos EUA, no ano 2000, quando ainda era estudante na Universidade de Massachusetts, em Amherst.
Yoon coletou amostras nas escolas perto da universidade onde estudava, já suspeitando que os insetos estivessem desenvolvendo resistência aos inseticidas mais comumente usados. Ele então testou os piolhos para um trio de mutações genéticas conhecidas como kdr (sigla para knock-down resistance, resistência derrubada), inicialmente encontrada em moscas na década de 70, depois que os agricultores mudaram do inseticida DDT para os piretroides. Yoon constatou que muitos piolhos tinham mutações kdr, que afetam o sistema nervoso e fazem com que eles se dessensibilizem aos piretroides.
Agora, neste estudo mais recente, o pesquisador reuniu piolhos de 30 estados com a ajuda de uma ampla rede de profissionais de saúde pública. Amostras populacionais com todas as três mutações genéticas associadas com kdr vieram de 25 estados, incluindo Califórnia, Texas, Flórida e Maine. Ter todas as mutações significa estas populações são as mais resistentes aos piretroides. Amostras de quatro estados — Nova York, Nova Jersey, Novo México e Oregon — tinham um, dois ou três mutações. O único estado com uma população de piolhos ainda em grande parte suscetíveis ao inseticida era Michigan.
O motivo pelo qual alguns piolhos não desenvolveram resistência ainda está sob investigação, diz Yoon, que aponta como solução o uso de diferentes produtos químicos.
— Temos que pensar antes de usar um tratamento. A boa notícia é piolhos não transmitem doenças, são mais um incômodo do que qualquer outra coisa — diz o pesquisador, alertando para o fato de que, qualquer produto químico usado à exaustão contra os piolhos poderá levar à resistência por parte dos insetos.
O Globo
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário