Medicamentos poderão agir somente em células doentes, sem prejuízos. Pesquisadores de Ribeirão não têm prazo para começar venda em farmácias
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP), pode ajudar na produção de “remédios inteligentes”, mais precisos contra doenças e com menos efeitos colaterais. Segundo os pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), novas moléculas descobertas após sete anos de estudos podem reduzir a necessidade dos médicos em receitar vários medicamentos para evitar diferentes reações nos pacientes.
A administradora de empresas Renata Barros levou meses para descobrir que as dores que sentia na cabeça eram provocadas pelo anticoncepcional que tomava diariamente. “Procurei até um oftalmologista, pensando que pudesse ser falta de óculos, mas minha ginecologista indicou o uso do anticoncepcional adesivo, dizendo que tem menor passagem pelo fígado, e realmente, faz dois meses que parei de tomar e melhorou”.
Além desse tipo de reação provocada pelo anticoncepcional, outros efeitos colaterais foram observados por diversos estudos envolvendo o assunto. São comuns, por exemplo, anti-inflamatórios provocarem dores de estômago e antialérgicos causarem sonolência.
“Quando você usa de quatro a cinco medicamentos a sua chance de ter reação adversa é praticamente 100%, então todo cuidado é pouco”, comentou a professora da Faculdade de Farmácia da USP, Julieta Ueta.
Células doentes
Em laboratório, os pesquisadores encontraram uma maneira de os medicamentos atingirem somente as células doentes e não as saudáveis, que é o que desencadeia os efeitos colaterais. “É como se abríssemos uma torneira com água suja. O medicamento clássico simplesmente fecha a torneira e o que a gente está tentando desenvolver é um medicamento que feche a torneira, mas que permita que continue saindo a água e não a terra”, explicou o pesquisador Cláudio Costa-Neto.
O grupo identificou novas moléculas sintéticas que quando testadas em receptores celulares causaram uma atividade de sinalização seletiva, atuando em vias benéficas e bloqueando vias de sinalização não benéficas, que poderiam causar os efeitos colaterais.
“É uma chave ligando uma fechadura que consegue, quando girada, ativar aqueles sistemas de travamento, desenvolvendo um novo tipo de chave que selecione quais são as trancas que devem ser ativadas e quais não devem ser ativadas”, disse o pesquisador.
De acordo com os pesquisadores, inicialmente o foco da pesquisa está em doenças cardiovasculares, que costumam exigir remédios de uso contínuo. A próxima etapa dos estudos é criar uma empresa para desenvolver tecnologia para produção dessas moléculas e ainda não há prazo para que esse tipo de medicamento esteja disponível nas farmácias. “Em alguns anos teremos um protótipo”, afirmou Costa-Neto.
G1
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