Medicação Xolair, que deve ser aprovado este ano no Brasil, foi testada com sucesso em sete pacientes do Rio de Janeiro
Manchas vermelhas na pele em alto relevo, inchaço e coceira são capazes de tirar o sono e o humor de qualquer pessoa por um dia. Que dirá por vários dias, semanas, meses ou anos a fio. “Me coçava com escova de alfinete, jogava álcool no corpo para dormir, tinha vontade de morrer. Eu não aguentava mais”, conta a bióloga Anna Cristina Guimarães Adametz Escarrone, de 52 anos, que sofreu de urticária crônica durante longos seis anos.
No Brasil, aproximadamente 20% da população vão apresentar urticária em algum momento, geralmente aguda, causada em geral por alergia a alimentos ou remédios, e 1% —nessa parcela incluída Anna Cristina —sofre com a urticária crônica refratária, que não responde ao tratamento com corticóides e antihistamínicos. A doença pode persistir em média cinco anos, com variações de meses ou até mesmo 20 anos.
“Essa doença traz mais dificuldade na causa (etiologia) e no tratamento, além de provocar um transtorno na qualidade de vida e no aspecto emocional do paciente, pois atrapalha no trabalho, na escola”, explica a médica alergista Solange Rodrigues Valle, chefe do Serviço de Imunologia da UFRJ. Para os casos mais graves, em que a medicação mais comum nas crises não resolve (corticoides por três a 10 dias e anti-histamínicos por 15 dias) é necessário aumentar a dose prevista na bula em até quatro vezes. Mas e quando nem isso resolve? Para esses casos, a especialista recomenda o Xolair, que deve ser aprovado ainda este ano no Brasil.
“Meu corpo queimava, ficava inchada, com o rosto deformado, parecia um monstro. Isso me deixou abalada física e emocionalmente. Tive de parar de trabalhar e cheguei a tomar remédio para sarna, lepra e malária. O Xolair me curou”, conta Anna Cristina. Ela é uma das sete pacientes que se submetem, no Rio, desde 2013, ao tratamento experimental com o medicamento na rede pública, nos hospitais do Fundão e São Zacarias, em Botafogo, Zona Sul.
“Essa nova medicação vai beneficiar essa parcela de pacientes resistentes, que não respondem aos medicamentos mais usuais”, conta Solange, que coordena a pesquisa, com autorização judicial. Ela vai apresentar o Xolair no 32º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, em Vitória (ES), de sábado até terça-feira.
Tireóide pode ser a causa
Solange Valle, que coordena a Comissão de Alergia Dermatológica da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai-RJ), diz que a urticária crônica refratária pode ser causada por doenças autoimunes, frequentemente ligadas à tireoide. “Por isso deve ser investigada por alergista ou imunologista”, explica.
Segundo ela, o Xolair — já aprovado para uso em asma de difícil controle, com boa resposta — tem se apresentado muito eficaz para combater a doença, como comprovam estudos nos Estados Unidos e Europa. A medicação, subcutânea, é aplicada em dose única a cada quatro semanas. “Há pacientes que usam há mais de um ano e já são totalmente assintomáticos”, ressalta. A má notícia: não é uma medicação barata e ainda não se sabe a que preço deverá chegar ao Brasil.
O Dia
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