Brasileiros fumantes e não fumantes apoiam a criação de novas ações governamentais para a cessação do tabagismo. Existe um forte apoio até mesmo para a proibição total da comercialização dos produtos de tabaco – algo que não está agenda legislativa, mas demonstra a aprovação da atuação do Estado no controle do tabagismo
As informações constam do Projeto Internacional de Avaliação das Políticas de Controle do Tabaco (Projeto ITC) criado para medir o impacto das ações da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados nacionais (Projeto ITC Brasil) foram divulgados nesta sexta-feira, durante o “Congresso INCA 80 Anos: Desafios e Perspectivas para o Controle do câncer no Século XXI”, realizado no Rio de Janeiro, até sábado, 30.
O Projeto ITC perguntou a todos os entrevistados se eles apoiam ou se opõem à proibição total de produtos de tabaco nos próximos 10 anos, dado que o governo forneceria tratamento para ajudar fumantes a deixarem de fumar. Os resultados mostram que 68% dos fumantes e 77% dos não fumantes pesquisados "apoiam" ou "apoiam fortemente" essa proibição.
“Isso mostra a discrepância do que os fumantes e não fumantes querem que os governos façam e aquilo que os governos realmente fazem”, provocou o investigador principal do Projeto Internacional ICT, Geofrey T. Fong, do Departamento de Psicologia e Instituto para Pesquisa em Câncer do Canadá.
Fong também destacou dois pontos nas campanhas de comunicação contra o cigarro: as imagens impactantes dos danos à saúde causados pelo produto na frente das embalagens e o banimento dos displays nos pontos de venda. No primeiro caso, ele citou o fato de entre dez países desenvolvidos pesquisados, o uso das imagens nas embalagens como advertência sanitária só não reduziu o consumo na França e no Reino Unido – justamente os que não colocaram as imagens na frente das embalagens. O Brasil também não fez isso ainda e os resultados são pouco significativos.
“A literatura mundial diz que o texto não tem o impacto adequado [como advertência sanitária]: as imagens são mais efetivas”, explicou a investigadora principal do Projeto ICT Brasil, a psicóloga Cristina de Abreu Perez, da Fundação do Câncer. O Brasil foi o segundo país do mundo, em 2001, a implementar advertências sanitárias com imagens nas embalagens de produtos do tabaco.
Quanto ao banimento do display nos pontos de venda, há um consenso entre os pesquisadores que é extremamente importante: que o Brasil efetive a proibição via parlamento. O tabagismo é uma doença pediátrica e mostrar o produto atraente ajuda a capturar os jovens”, explicou a secretária-executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro (Conicq/INCA), Tânia Cavalcante.
A pesquisa do Projeto ITC Brasil revela, aliás, que fumantes e não fumantes apoiam fortemente duas políticas-chave para reduzir publicidade e promoção de produtos de tabaco: a proibição de exibição de produtos de tabaco nos pontos de venda e a padronização das embalagens de cigarros. Aproximadamente três quartos dos fumantes (72%) apoiam a proibição de displays dentro de lojas e quase metade (49%) apoiam as embalagens padronizadas. O apoio é ainda maior entre os não fumantes:86% apoiam a proibição dos displays dentro de lojas e 56% são a favor das embalagens padronizadas.
A pesquisa perguntou a fumantes e ex-fumantes quais as razões que os levaram a pensar em deixar de fumar nos últimos seis meses ou os levaram a parar. As razões mais comuns para pensar em deixar de fumar "muito" entre fumantes e ex-fumantes eram preocupações com a própria saúde (68% dos fumantes, 89% dos ex-fumantes); dar exemplo para crianças (66% dos fumantes, 63% dos ex-fumantes); e preocupações sobre os danos causados pelo tabagismo passivo em não fumantes (51% dos fumantes e 60% dos ex-fumantes). O preço dos cigarros foi o motivo para metade dos entrevistados (50% dos fumantes e ex-fumantes).
A chefe do Secretariado da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da OMS, Vera Luiza da Costa e Silva, disse que as discussões sobre a implantação dos maços genéricos de cigarros estão no Congresso Nacional, da mesma forma que a necessidade de controlar o contrabando do produto no País. A diretora-geral do INCA, Ana Cristina Pinho, que introduziu as discussões, disse que o objetivo do Instituto em relação à saúde pública “é fazer cada vez mais e melhor pelos próximos 80 anos”.
Esta é a terceira edição do Projeto ITC no Brasil – a primeira foi em 2009 e a segunda em 2013. Além do Brasil, a edição 2017 englobou outros 27 países, onde residem dois terços dos fumantes no mundo. No Brasil, a pesquisa ouviu 1.358 fumantes e 470 não fumantes.
O projeto ITC do Brasil é coordenado pelo INCA em associação com a Universidade de Waterloo, do Canadá, e em parceria com a Fundação do Câncer, Cetab/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Aliança de Controle do Tabaco (ACTbr) e Secretaria Nacional da Política sobre Drogas (Senad).
Congresso INCA 80 Anos
O Congresso, foi realizado na sexta-feira e sábado (29 e 30 de setembro) no Rio Othon Palace, em Copacabana, conta com a participação de cerca de 700 pessoas por dia, 300 palestrantes, 30 convidados internacionais, 157 palestras e 32 mesas-redondas.
Fonte: INCA
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