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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Fake news e fake drugs

Notícias falsas impulsionam uso de medicamentos de eficácia não comprovada

Acreditar numa notícia falsa é como receber um medicamento sem eficiência comprovada. As consequências podem ser desastrosas. A imprensa e jornalistas sérios buscam coibir as “fake news”, pela ética e sobrevivência profissional. No contraponto está a internet, território livre e globalizado, que ameaça os monopólios da indústria da informação. A liberdade de imprensa não pode ser confundida com a ação delinquente dos que manipulam a informação.

Na medicina ocorrem constantes conflitos de interesse envolvendo as indústrias, fontes pagadoras e com os profissionais de saúde que se opõem à falácia de que a medicina deve apenas seguir as regras do mercado. Mais um fértil terreno para “fake news”. É o que novamente assistimos com o tratamento da LLA, um tipo de leucemia que acomete crianças. Três em quatro desses pequeninos ficam curados se cuidados por uma equipe treinada, numa estrutura hospitalar razoável e usando de quatro a cinco medicamentos conhecidos a longa data.

A asparaginase, principal droga utilizada nesses casos, só é produzida por poucos laboratórios no mundo, dessa forma obrigando o Brasil a importá-la, já que não a produz. A recusa do Ministério da Saúde (MS) ao debate científico ampla e num tempo razoável favorece a comercialização de drogas de eficácia duvidosa, principalmente favorecidas pela regra do menor preço. O ministro, denegrindo sistematicamente cientistas independentes, contribui para que “fake drugs” ou agentes inescrupulosos, que agem nas nebulosidades das leis, continuem a prejudicar pacientes não esclarecidos.

A Justiça Federal do Distrito Federal, em setembro de 2017, proibiu a importação de uma “droga barata” fabricada na China e cuja eficiência nunca não foi comprovada. Diante desse fato, o MS propõe a compra de outra droga chinesa, distribuída pela mesma importadora da barata impugnada (sem duplo sentido!). O argumento é o seu menor custo e sua utilização em alguns hospitais chineses e na Bolívia.

Mas há algo ainda mais triste. Temos que esperar pelo menos dois anos para saber o real impacto desse produto no controle da doença. Enquanto isso, mais crianças pobres serão tratadas por uma droga chinesa (com duplo sentido) para a qual faltam pesquisas que recomendem ou condenem seu uso, pois pode ser tanto uma “fake drug” como um medicamento eficiente e menos custoso.

Enquanto os fabricantes não provarem sua eficácia, o ético é que se faça como o Instituto Boldrini, de Campinas, hospital que atende pacientes do SUS e que utiliza a mesma asparaginase adotada na maioria dos hospitais de referência da Europa e dos EUA, mas se recusando a usar uma droga questionável. Chega de “fake drugs”, veiculadas por “fake news”.

O Globo

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