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quinta-feira, 5 de abril de 2018

USP testa ‘pomada’ quimioterápica aliada a choque de baixa intensidade para tratar câncer de pele

Tratamento tópico contra o câncer de pele desenvolvido pela USP em Ribeirão Pretoalia quimioterápicos nanoencapsulados a choques elétricos de baixa intensidade (Foto: Adriano Oliveira/G1)
Foto: Adriano Oliveira/G1
Tratamento tópico promete ser menos agressivo e mais eficaz que a quimioterapia convencional. Testes in vitro são realizados na faculdade de ciências farmacêuticas de Ribeirão Preto (SP)

Pesquisadores da USP em Ribeirão Preto (SP) desenvolveram um tratamento tópico de combate ao câncer de pele que utiliza nanopartículas de quimioterápicos associadas a choques elétricos de baixíssima intensidade. Além de proporcionar uma absorção maior do medicamento na pele, a nova técnica permite que a substância se concentre na região que precisa ser tratada e não se espalhe pela corrente sanguínea, como ocorre com a quimioterapia convencional.

Atualmente, a medicina já utiliza a chamada quimioterapia tópica, em que o remédio é aplicado na forma de creme ou pomada. Entretanto, a pesquisadora Renata Vianna Lopez afirma que o novo tratamento promete ser menos agressivo e mais eficaz. “É um tratamento não invasivo, porque não estou injetando nada no paciente. A aplicação subcutânea deveria ser muito melhor, mas não foi nesse caso, porque melhoramos a formulação e o método de aplicação”, explica Renata, que é professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas.

Renata diz que o maior desafio da pesquisa foi encontrar uma alternativa para o fármaco atravessar o estrato córneo – camada superficial da pele composta basicamente de células mortas e que impede a entrada de qualquer substância – para chegar às células tumorais. Na primeira etapa, os pesquisadores da faculdade de ciências farmacêuticas colocaram o quimioterápico “5-Fluorouracil”, que causa irritação em contato com a pele, em nanocápsulas, estruturas microscópicas capazes de ultrapassar o estrato córneo.

As nanopartículas ainda receberam um anticorpo direcionado ao tumor: o cetuximab. Isso faz com que as células doentes não entendam que se trata de um remédio e passem a capturar essa substância, o que torna o tratamento mais direcionado. Para facilitar ainda mais a penetração do fármaco desenvolvido em laboratório, os pesquisadores utilizaram choques elétricos de baixa intensidade: a iontoforese, que não causa dor e provoca apenas um formigamento sobre a pele.

“Se eu associo tudo isso com um sistema de liberação, no caso a iontoforese, consigo colocar alguns desses sistemas de liberação dentro da pele, porque a nanopartícula é pequenininha, mas não entra na pele sozinha”, diz Renata. O novo tratamento ainda não foi testado em humanos, apenas em camundongos. Parte dos roedores recebeu o remédio por meio de injeção subcutânea – como na quimioterapia convencional – e os demais por aplicação tópica associada à iontoforese.

“O tratamento diminuiu muito mais o tamanho do tumor, do que a injeção subcutânea. Se você pensar que, na aplicação subcutânea está injetando no local, é uma surpresa essa técnica ter sido melhor, porque não é invasiva”, completa. Renata diz que uma das hipóteses para o resultado é que o medicamento nanocapsulado associado à corrente elétrica chega em maior quantidade na área do tumor, enquanto na quimioterapia convencional a substância se espalha na corrente sanguínea.

“A proposta, de maneira geral, não é substituir a quimioterapia tradicional, mas auxiliar no tratamento de um tumor para diminuir o tempo que o paciente vai ter que ficar no hospital e diminuir os efeitos colaterais, principalmente”. A partir dos resultados promissores da iontoforese, os pesquisadores passaram a testar a técnica no tratamento de feridas de difícil cicatrização, como as que pacientes com diabetes desenvolvem, ou as escaras em pessoas acamadas, por exemplo.

Nesse caso, o objetivo da corrente elétrica não é extrapolar a barreira da pele, mas aumentar a absorção do medicamento e fazer com que ele fique no local da ferida por mais tempo. Em vez do quimioterápico, o estudo utiliza substâncias cicatrizantes. “A gente desenvolveu um [papel] filme com a fibroína retirada de casulos do bicho da seda. O filme é como se fosse uma membrana, que protege a ferida, e nós encapsulamos nesse filme um peptídeo que pode ajudar a ferida a fechar”, explica Renata. A professora afirma ainda que a fibroína auxilia na cicatrização porque promove a regeneração celular. Ao mesmo tempo, a iontoforese tem demonstrado uma ação antimicrobiana, que está sendo estudada.

G1

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