A compra do produto tem de ser feita somente com indicação específica, segundo resolução do Conselho Federal de Medicina
A compra de lentes de contato tem de ser feita agora somente com recomendação médica específica. Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) publicada semana passada determina que a indicação, a adaptação, exames complementares e o controle das lentes são atividades exclusivas da categoria.
A resolução foi feita depois de o conselho receber o relato do aumento de acidentes relacionados ao uso incorreto do produto, vendido em óticas muitas vezes sem nenhuma recomendação do oftalmologista. "Não basta a indicação do grau. É preciso que exames sejam realizados para verificar se não há nenhum impedimento para o uso do produto", assegura Desiré Callegari, secretário do CFM.
Integrante do Departamento de Oftalmologia da Associação Médica Brasileira, Noé Luiz Demarchi afirma que o uso de lentes de contato nos últimos anos se vulgarizou. "A lente é extremamente útil. Mas tem de ser cercada de uma série de cuidados. Em muitos locais, bastava que o paciente fornecesse o grau e modelo da lente para que o produto fosse confeccionado".
Callegari afirma que o uso incorreto da lente pode provocar irritações, inflamações e até mesmo danos irreversíveis à córnea. Ele reconhece que a nova determinação do CFM pode ser considerada por alguns como corporativismo, "mas essa é uma questão séria de saúde".
Os riscos ocultos das lentes de contato
Para corrigir problemas na visão, ou apenas brincar de colorir os olhos é preciso cuidado, higiene e informação. Os prejuízos que o uso incorreto das lentes de contato podem provocar na saúde são múltiplos e sérios.
Úlcera de córnea, conjuntivite alérgica, irritação ocular e cegueira listam os danos mais graves aos olhos. Tais doenças, porém, não constam nas embalagens dos principais fabricantes do produto comercializado no Brasil. O consumidor não recebe nenhuma orientação sobre riscos e cuidados exigidos pelo material.
O Ministério Público Federal (MPF) acaba de acionar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pedindo que cobre dos fabricantes de lentes de contato informações sobre os problemas que elas podem causar à saúde. A exigência, feita na última sexta-feira (24), é que os dados sejam incluídos nas embalagens ou nos rótulos dos produtos.
A recomendação, encaminhada pelo procurador da República Claudio Gheventer, foi resultado de um ano de apuração do material comercializado nas principais farmácias do País. Segundo Gheventer, o MPF verificou que as embalagens das lentes da Johnson & Johnson e da Novartis não possuem as mais básicas informações.
O procurador afirma que as bulas, contendo as advertências e instruções de uso, são entregues separadamente aos comerciantes, que ficam encarregados de repassá-las ao consumidor, o que não necessariamente é feito.
“É evidente a violação ao Código de Defesa do Consumidor e à própria regulamentação da Anvisa, que preconiza que essas instruções estejam nas embalagens”, assevera.
Gheventer ainda revela que as fabricantes reconhecem os riscos, mas alegam que é permitido pela legislação entregar o material separado da bula. A afirmação, para o procurador, comprova que a fiscalização é flexível e dá espaço para tais condutas. Após a notificação, a Anvisa tem 45 dias para informar se vai acatar ou não a recomendação do MPF.
Como usar
Apesar do acesso fácil, não são todas as pessoas aptas a fazer o uso das lentes de contato, revela Newton Kara José, oftalmologista do Hospital Sírio Libanês de São Paulo. “Os olhos precisam ser saudáveis para suportar o material. Doenças na córnea, irritações ou inflamações são impeditivos automáticos para substituir os óculos pelas lentes.”
O especialista também alerta que o material não devem ser utilizadas por menores de 15 anos. Na visão de Kara, os pacientes mais jovens não possuem maturidade suficiente para identificar possíveis complicações.“Não adianta controle e fiscalização dos pais. Cabe ao paciente reconhecer, entender os riscos. O desleixo dessa fase pode provocar complicações sérias.”
O uso das lentes exige cuidados constantes. Kara explica que é fundamental lavar o material ao final do dia e deixá-lo na solução de limpeza específica para as lentes de contato. Embora não exista nenhuma contraindicação, o uso das lentes não deve ser excessivo. Além disso, é importante que os óculos não sejam descartados. É uma segurança na falta ou impossibilidade de usar lentes, defende.
Sinais óbvios
Ao menor sinal de irritação ou dor, é imprescindível retirar as lentes dos olhos e fazer a higienização com o líquido recomendado pelo oftalmologista. Se após a limpeza o incômodo permanecer, é sinal de que o material pode ter provocado uma lesão na córnea ou, no mínimo, agredido os olhos.
Respeitar o prazo de validade das lentes descartáveis ou de longa duração é essencial. Segundo o médico, a maioria do pacientes faz a troca quando começa a sentir algum incômodo. “Com o passar do tempo, o usuário fica relapso. Os olhos manifestam o desconforto rapidamente. Além de higiene e controle, é fundamental o acompanhamento médico e a troca de lentes dentro do prazo. O incômodo, usado como termômetro de validade, pode representar um comprometimento já existente, provocado pela perda de qualidade do material.”
Cores e maquiagem
No caso de lentes coloridas, a orientação é ainda mais severa. Independente do uso diário ou esporádico, o material deve ser higienizado constantemente. O especialista pontua que a falta de conhecimento e informação banaliza o uso das lentes de contato. “As lentes coloridas podem gerar complicações muito maiores. Os usuários não estão preparados, desconhecem os procedimentos de limpeza. A ausência de grau não elimina os riscos.”
As mulheres devem ter cautela redobrada. Segundo Kara, a maquiagem também representa um potencial fator de risco à saúde dos olhos. Rímel, lápis, delineadores e demais instrumentos para reforçar a beleza feminina impregnam os olhos e, conseqüentemente, as lentes. “A maquiagem é muito contaminada, um meio altamente propício para o crescimento de bactéria.”
http://saude.ig.com.br/minhasaude/lente+de+contato+agora+precisa+de+recomendacao+medica/n1238148098635.html
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