Objetivo é acabar com a letra ilegível dos profissionais e ensinar os estudantes a fazerem escolhas racionais, baseadas em quatro critérios: eficácia, segurança, facilidade de acesso e custo; conteúdo do curso estará disponível online para médicos do SUS
Karina Toledo - O Estado de S.Paulo
Acabar com a ilegível letra de médico e outras inadequações na prescrição de medicamentos - como doses excessivas ou que causem interação entre si - são os objetivos de um curso pioneiro criado na Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu. Agora, graças a uma parceria com o Ministério da Saúde, o conteúdo da disciplina estará disponível online a todos os profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS).
A professora Thais Queluz conta que tinha duas metas quando criou o curso Seleção Racional de Medicamentos e Boas Práticas de Prescrição Médica e Odontológica, em 2003. A primeira era conscientizar os alunos de que a receita médica é um documento do paciente e, portanto, ele precisa entender o que está escrito nela. "Não pode ter abreviações, a letra tem de ser legível, a dosagem e a forma de administração devem estar claras", diz a professora.
O desafio maior, porém, é ensinar os estudantes a fazer uma escolha racional. "Mostramos como buscar evidências científicas que ajudem a selecionar a droga com base em quatro critérios: eficácia, segurança, facilidade de acesso e custo", diz Thais. Se há dois remédios semelhantes, afirma, deve-se optar pelo mais barato. Mas isso nem sempre acontece por causa do assédio da indústria farmacêutica, com seus brindes e amostras grátis.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), metade dos medicamentos que circulam no mundo foi prescrita, administrada ou vendida incorretamente.
Em 2010, o Ministério da Saúde ofereceu recursos para Thais desenvolver uma versão online do curso. O material foi entregue em dezembro e, nos próximos meses, estará disponível no portal da Universidade Aberta do SUS, ainda em fase de teste.
Os estudantes do quarto ano de Medicina Lívia Santos e Marcos Marton contam que antes de cursar a disciplina haviam aprendido apenas na prática a preencher um receituário. "No terceiro ano começamos a atender na unidades de saúde e observamos como os médicos fazem", diz Lívia. Abreviações como V.O. (via oral) são comuns, diz Marton. "Muitos pacientes nem sequer sabem o que é via oral. Passamos a escrever "tomar pela boca"."
Maria José Martins de Souza, gerente de Assistência Farmacêutica da Fundação para o Remédio Popular, conta que grande parte das receitas que chegam nas farmácias do Programa Dose Certa é recusada por inadequações: "São comuns prescrições com doses excessivas ou com medicamentos que podem causar interação. Muitas também não têm a via de administração ou a duração do tratamento".
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