A dor das picadas de abelhas não se compara ao incômodo que Alice Tashiro, de 61 anos, sentia por causa da artrite reumatoide. Agora, ao menos uma vez por semana ela recebe 12 ferroadas pelo corpo, uma técnica chamada apiterapia, que tem sido aplicada por apicultores da capital e da Grande São Paulo. Consultado pelo JT, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou que não reconhece a técnica como prática médica e diz que os pacientes estão expostos a riscos.
A ideia é usar o veneno das abelhas para aliviar inflamações variadas. “A dor me travava. Com esse tratamento eu vou sentindo um alívio ao longo da semana”, garante Alice. Além de tratar a artrite, os criadores de abelhas garantem que a apicultura alivia enxaquecas, sinusite, bursite, artrose e até esclerose múltipla. “Serve para uma infinidade de doenças. Os pacientes costumam apresentar boas melhoras”, conta o apicultor Ivo Manno Júnior.
Conselheiro do Cremesp, Ruy Tanigawa lembra que as picadas podem provocar até mesmo choque anafilático, muitas vezes seguido de morte. “Existem pessoas que são alérgicas ao veneno, daí a possibilidade de quadros graves”, explica. Além disso, ele ressalta que todo tipo de tratamento deve ter uma comprovação científica de sua eficácia. “Um tratamento prevê diagnóstico médico prévio. É necessário, ainda, que haja acompanhamento de um profissional de saúde”, afirma.
Manno cobra R$ 15 por sessão de apiterapia. Segundo ele, o corpo humano aguenta apenas 12 picadas – seria o suficiente para não ultrapassar o máximo de veneno que poderia ser metabolizado pelo organismo. O local da aplicação também depende da necessidade do paciente. Antes de iniciar o tratamento, contudo, ele conta que faz microaplicações. “É possível avaliar em 20 minutos qual será a reação da pessoa”, garante.
Mas os próprios apicultores admitem que, às vezes, surgem problemas. “Uma paciente não foi sincera quando disse que não teve reações alérgicas no teste que faço antes das aplicações. Coloquei quatro abelhas para a picarem na coluna e ela começou a passar mal. Foi direto para o hospital”, relata o apicultor Antônio Padovani, mais conhecido como Toninho das Abelhas, que faz aplicações do veneno gratuitamente em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo.
Em geral, conta Padovani, sua primeira sessão é para avaliar se o paciente pode desenvolver alguma reação ao veneno. “Faço uma microaplicação. Diferentemente do tratamento, não deixo o ferrão”, explica. Se o paciente apresentar vermelhidão na pele ou coceira, diz ele, as aplicações não podem ser feitas. “Mas não sou terapeuta”, admite. “Faço esse serviço para a população.”
Veneno injetado
Durante as sessões com Pandovani, as abelhas são instigadas a picar o paciente. Ele faz aplicações na coluna cervical e o número de picadas depende do grau de tolerância e da familiaridade do paciente com o tratamento. “A abelha demora 10 minutos para injetar todo o veneno. É esse o tempo em que deixo o ferrão no paciente”, explica. Ele conta que aprendeu a técnica com outros terapeutas.
No caso de Alice, as aplicações são feitas também nas mãos. “Por causa da doença meus dedos ficaram tortos”, afirma. Segundo ela, a apiterapia melhorou sua saúde. “Antes eu tinha dificuldade para me movimentar. Hoje, consigo fazer tudo de maneira confortável”, completa. Ela trocou o tratamento médico convencional pelas aplicações com abelhas. “É mais barato e eu não tenho mais problemas de estômago por causa do remédio”, justifica. Essa opção, no entanto, não é recomendada pelos especialistas.
O apicultor Armindo Vieira do Nascimento Júnior também trabalha com a apiterapia. Mas ele diz que, além do veneno, outras substâncias ligadas às abelhas podem beneficiar a saúde: mel, própolis, pólen e geleia real, por exemplo. “A ideia é fazer do seu alimento um remédio, incorporá-lo no dia a dia”, afirma.
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