Uma empresária de 56 anos que vive no Reino Unido se prepara para ser a primeira mãe no mundo a doar o útero para sua própria filha.
Eva Ottosson/BBC
Eva Ottosson, 56, quer ajudar a filha Sara, 25, que tem Síndrome de Mayer Rokitansky Kuster Hauser e nasceu sem o útero
Eva Ottosson e sua filha, Sara, participam de uma série de exames médicos e psicológicos junto a uma equipe de cientistas da Universidade de Gotenburgo, na Suécia.
Os exames determinarão se elas poderão participar do primeiro transplante de útero realizado em humanos pelos pesquisadores, que deverá acontecer em 2012.
Sara, 25, é portadora da Síndrome de Mayer Rokitansky Kuster Hauser, que fez com que ela nascesse sem o útero e parte da vagina. Ela pretende tentar a fertilização in vitro para engravidar com o útero da mãe, caso o transplante seja bem sucedido.
"Decidimos tentar o procedimento porque é a única maneira de minha filha conseguir ter um filho seu, a não ser que ela decida pela barriga de aluguel", disse Ottosson à BBC.
Se o procedimento funcionar, Sara pretende tentar a fertilização in vitro com o esperma de seu namorado. Os óvulos fertilizados serão implantados no útero onde ela mesma foi gerada.
"Ela estava disposta a tentar a adoção mas, quando essa oportunidade apareceu, ela quis tentar. Mas se não funcionar ela ainda irá adotar", afirmou a mãe.
CIRUGIA ARRISCADA
Eva Ottosson conta que descobriu sobre o problema de Sara quando ela tinha 16 anos. A jovem descobriu sobre a pesquisa de transplante de útero em Estocolmo, onde mora, e foi chamada a participar dos testes com a mãe.
"Eu disse a ela que para mim parecia um pouco estranho, mas resolvemos tentar", disse. "Claro que é uma grande cirurgia e é arriscada, mas eu confio neles e acredito que sabem o que estão fazendo."
O ginecologista sueco Mats Brännström, coordenador da equipe de pesquisa sobre o transplante de útero, disse à BBC Brasil que decidiu pesquisar sobre o procedimento após o pedido de uma paciente, em 1998.
"Ela tinha câncer no colo do útero, e me perguntou por que não se faziam transplantes [deste órgão]. Por isso que resolvi pesquisar sobre o assunto", contou.
Desde o início da pesquisa, a equipe já realizou transplantes de útero bem sucedidos em ratos, ovelhas e porcos. Agora, testam o procedimento em babuínos, enquanto selecionam possíveis pacientes para a cirurgia em humanos.
"Estamos realizando diversos testes em dez pares de doadoras e receptoras de úteros. Provavelmente quatro ou seis delas serão escolhidas", diz o médico.
Segundo Brännström, Sara Ottosson é uma forte candidata. "O caso dela é interessante, porque já nasceu sem o útero. Como a cirurgia é muito difícil, é sempre melhor operar em uma pelve que nunca foi operada antes."
TENTATIVA
A primeira tentativa de transplante de útero aconteceu em 2000, na Arábia Saudita, quando uma mulher de 26 anos recebeu o útero de uma mulher falecida de 46 anos.
No entanto, a paciente teve problemas com a rejeição do órgão e o útero teve que ser removido 99 dias depois do procedimento.
"Eles foram muito criticados porque haviam feito muito pouca pesquisa antes da cirurgia, foi quase uma experiência com humanos", disse Brännström.
"Achamos que, naquele caso, os principais problemas foram decorrentes da cirurgia, e nós utilizamos técnicas que evitam estes problemas."
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