RIO - A nova moda para entrar em forma e ter bom humor é a dieta "farinha zero", que consiste em cortar ou reduzir bastante o consumo de trigo, centeio, cevada, aveia e outras farinhas. A advogada Lola Royo Mohammad, de 40 anos, mãe de quatro filhos (sendo dois gêmeos) conta que a sua vida melhorou muito depois que ela parou de comer pães, massas, pizzas e biscoitos. Além de perder os quilos ganhos na última gravidez, ela viu a indesejável barriguinha desaparecer em dois meses. Antes fã de farinhas, a dermatologista Vanessa Metz, de 30 anos, hoje passa longe de glúten para acabar com as suas crises de enxaqueca. De olho nesse público, a indústria de produtos sem glúten cresce sem parar no Brasil, e nutricionistas até sugerem reduzir o consumo de farináceos, mas desde que com orientação. Tirar de vez cereais do cardápio pode fazer mal à saúde.
Estima-se que apenas 1% da população mundial sofre de doença celíaca, causada pelo próprio organismo que, em algum momento, não tolera mais glúten. Estas pessoas precisam de dieta especial para não evitar irritação no intestino delgado e outros males decorrentes de lesões neste órgão, como anemias e baixa imunidade.
A nutricionista Bia Rique, da Clínica Ivo Pitanguy, autora de "Comer para emagrecer" (Editora Casa da Palavra), acredita que há mais relatos de casos de intolerância alimentar nos últimos anos, mas a doença celíaca, embora subdiagnosticada, é pouco comum.
- Virou moda não comer glúten para emagrecer, mas não é verdade. Só precisa eliminar o glúten quem tem intolerância - explica.
Barriga estufada é sinal de farinha
Lola Royo não tem doença celíaca mas, depois de consultar sua nutricionista, experimentou deixar de lado as farinhas. E se arrepende de não ter feito isso antes: voltou à forma rapidamente.
- Depois do nascimento dos gêmeos, eu me exercitava e fazia dieta, mas nada de perder peso, só vivia cansada. Pensei até em lipoaspiração, mas resolvi não comer mais glúten e a barriga estufada sumiu. Hoje me sinto disposta e bem-humorada - diz a advogada, que já convenceu o marido e agora tenta, aos poucos, incentivar o hábito entre os seus filhos:
- Não sou radical, mas prefiro evitar glúten.
Para a nutricionista Patricia Davidson Haiat, do Centro Brasileiro de Nutrição Funcional, não se trata de modismo. Um sinal evidente de que comer farinhas demais faz mal é a barriga estufada e mal-estar. Vanessa sabe bem disso:
- Hoje, quando eu como alimentos com glúten, sei que não vou me sentir bem - comenta a dermatologista.
Se a pessoa não tem qualquer tipo de sensibilidade ao trigo e a outras farinhas - algo que deve ser confirmado $exames - não há porque retirar esses alimentos da dieta, avisa Patrícia. O problema é que estamos consumindo esses produtos em grande quantidade, principalmente industrializados, como pizzas, lasanhas, biscoitos e massas, entre outros.
- Este excesso aumenta o risco de hipersensibilidade. Daí a importância de variar, alternar com outros produtos sem glúten - diz Patrícia.
A nutricionista Marcela Knibel concorda e afirma que a retirada do glúten da dieta só é indicada para pessoas com intolerância à substância, ou seja, pessoas com doença celíaca diagnosticada. Há quem pense que só deixar de comer farinhas ajuda a emagrecer, mas não é bem assim, diz a autora de "Nutrição Contemporânea - Saúde com Sabor (Rubio, com Dora Cardoso).
Substância pode ser substituída
E alerta:
- Para ter energia para trabalhar, nos exercitar, manter o bom humor e não perder músculo, precisamos de cereais integrais, carboidratos de frutas, hortaliças e leguminosas.
Quem não quiser mesmo comer glúten, pode optar por farinhas ou fécula de arroz e de batata, polvilho doce ou azedo, farinhas ou amido de milho, de mandioca e tapioca, sugere a nutricionista funcional Luciana Harfenist, que explica que o glúten é muito útil na fabricação de massas e pães por conferir elasticidade às mesmas, mas pode ser facilmente substituído por outros alimentos, já que não é essencial ao organismo.
- É fácil encontrar produtos naturais e industrializados sem glúten. A maior dificuldade da dieta sem glúten e na hora do café da manhã e dos lanches - afirma Luciana, diretora da Funcionali Cursos e Eventos em Nutrição.
Quanto mais precoce o contato com o glúten, maior a chance de desenvolvimento de intolerância ou sensibilidade. Hoje recomenda-se a introdução de alimentos com esta substância so$após os 2 anos, quando sistema digestivo e está mais maduro.
- As pessoas sensíveis ao glúten sofrem com prisão de ventre, gases, candidíase, enxaqueca, enjoos, dores articulares, alteração do humor, edemas, carências nutricionais, baixa de libido, entre outros - ensina.
Vale lembrar que a intolerância alimentar é diferente de alergia, como alerta a nutricionista Vilma Blondet, da Universidade Federal Fluminense. Na alergia o sistema imune percebe uma substância como um antígeno, um composto perigoso para o organismo. Assim, no instante em que o indivíduo come o alimento, ele pode ter os sintomas de dor abdominal, vômito, diarreia, urticária, asma e tosse. No caso de intolerância, o organismo não consegue digerir determinada substância.
Fonte O Globo
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