Estudos esclarecem relação entre o trabalho em turnos e o aparecimento do câncer de mama
Pesquisadores descobriram que, ao longo das 24 horas do dia, é possível ter um rendimento inferior ou superior na realização da mesma tarefa dependendo do horário em que ela foi feita. Não é preciso ser gênio ou cientista para concluir que quem trabalha dentro de um horário mais condizente com seu ritmo biológico têm um rendimento melhor. “As diferenças podem ser vistas principalmente em atividades que exigem atenção ou coordenação motora fina”, afirma John Fontenelle, fisiologista responsável pelo laboratório de neurobiologia e ritmicidade biológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Avaliando diferentes profissionais como médicos, enfermeiras, caminhoneiro, taxista, motoristas transportes públicos e etc, foi descoberto que o trabalho em turnos prejudica a saúde do trabalhador a ponto de elevar a probabilidade de desenvolvimento de câncer. “O sistema de temporização ou relógio prepara o organismo para diversas formas de comportamento ao longo das 24h de um dia. De forma geral, durante a noite a temperatura corporal abaixa, o hormônio de crescimento é secretado, há secreção de melatonina e dormimos. Durante o dia a temperatura aumenta, há secreção de cortisol e o cérebro está mais apto para cognição e desempenho”, explica Mario Pedrazolli, cronobiologista da Universidade de São Paulo (USP).
O desajuste do relógio biológico é um fator de nível dois (possivelmente cancerígeno), ao lado do uso de anabolizantes, em um escala em que um é o valor máximo, segundo classificação da Agência Internacional para a Investigação do Câncer, departamento da Organização Mundial de Saúde.
A influência foi notada principalmente no aparecimento do câncer de mama em mulheres. Um estudo realizado com enfermeiras e comissárias de bordo diagnosticou uma maior incidência de câncer de mama naquelas que trabalhavam no período noturno ou faziam vôos internacionais, estando, portanto, mais sujeitas a alterações de horários.
“Os mecanismos que controlam o relógio biológico também estão relacionados ao ciclo das células. Quando esse ciclo está alterado o resultado é uma divisão celular irregular e, portanto, câncer”, esclarece Fontenelle.
Desde 2007, a OMS já usa dados como esses na hora de definir diretrizes sobre a saúde do trabalhador. Dois anos depois, a Dinamarca indenizou mulheres que desenvolveram câncer e cumpriam carga horária noturna.
Novo caminho
A descoberta leva pesquisadores a apostarem em um novo caminho para conter a doença: descobrir uma maneira de mexer nos mecanismos celulares responsáveis pelo relógio biológico. Em ratos, já deu certo. Estudo publicado em 2009 pela Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, identificou que a alteração de um dos quatros genes ligados a esse relógio suprime o crescimento da doença.
A ideia é permitir que os médicos interfiram no relógio das células cancerígenas para torná-las mais vulneráveis à quimioterapia. “Mexer na função desses genes pode ser uma forma efetiva de matar essas células, além de permitir um resultado melhor com a quimioterapia”, afirma Aziz Sancar, coordenador da pesquisa.
O estudo também conseguiu identificar que, dependendo do horário em que o tratamento quimioterápico é aplicado, sua eficácia diminui ou aumenta. A efetividade estaria ligada à diminuição em determinados períodos do dia de uma enzina em particular, que teria o poder de reverter a ação da quimioterapia.
Fonte IG
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