A hipótese: Um acúmulo de proteínas dos neurônios causa a doença de Lou Gehrig (esclerose lateral amiotrófica).
O investigador: Dr. Teepu Sidique, da Universidade Northwestern Desde que o famoso jogador de beisebol Lou Gehrig, do New York Yankees, foi para o banco em 1939 – para nunca mais voltar a jogar – , a doença que hoje leva seu nome vem alimentando o medo no imaginário americano.
A doença de Lou Gehrig – também conhecida como esclerose lateral amiotrófica (ELA) – afligiu figuras conhecidas como o músico de jazz Charles Mingus, o físico Stephen Hawking e o historiador Tony Judt. A doença surge da deterioração progressiva das células nervosas, causando uma perda de controle sobre os músculos voluntários, dificuldade em respirar e engolir, paralisia progressiva e finalmente, a morte. Não existe cura ou tratamento eficaz.
Mas na revista Nature da semana passada, pesquisadores da Universidade Northwestern identificaram um possível culpado: um agente celular de limpeza que geralmente ajuda as células a remover proteínas danificadas ou deformadas. Quando a limpeza falha, proteínas aparentemente se reúnem no interior de células nervosas, o que pode contribuir para sua destruição.
A descoberta foi saudada como um grande avanço por grupos de pacientes e cientistas. O novo estudo está “gerando muito entusiasmo e interesse”, disse a Dra. Amelie Gubitz, do National Institute of Neurological Disorders and Stroke, que ajudou a financiar o novo trabalho.
Contudo, ainda não há certeza de que essa é a fonte da ELA. Segundo Gubitz, existem pelo menos outros 12 processos que também podem contribuir para a morte de células nervosas motoras.
Cientistas estão investigando, por exemplo, defeitos na mitocôndria celular, que é responsável pela produção de energia. Eles estão pesquisando problemas com o neutrotransmissor glutamato, que parece superestimular células na ELA, gerando toxicidade. Eles estão examinando anormalidades nos axônios motores que ligam corpos de células nervosas às junções com os músculos que eles fazem contrair.
“É possível que um desses fatores possa se mostrar mais importante – ou mais suscetível ao tratamento – do que os outros, afirmou Gubitz. ”Ainda não sabemos isso“, acrescentou ela. ”Ainda precisamos estudar mais todos eles“.
Mesmo assim, há cada vez mais evidências para a hipótese de que a depuração de proteínas defeituosas possui um papel crucial na ELA.
No início da década de 1990, o Dr. Teepu Siddique, da Universidade Northwestern, ajudou a descobrir mutações num gene chamado SOD1, associadas a algumas formas hereditárias da doença. Desde então, ele e outros pesquisadores identificaram uma variedade de outras mutações relevantes à ELA. ”O problema é que essas mutações pertencem a um número muito pequeno de pacientes”, explicou Siddique numa entrevista.
Somente 5 a 10 por cento dos casos de ELA são hereditários. O restante é esporádico, surgindo sem qualquer aviso mesmo em pacientes que não trazem essas mutações.
”O Santo Graal desse campo tem sido encontrar um ponto de convergência molecular” que pudesse explicar todos os tipos de ELA, disse Siddique.
A importância do novo estudo é que ele sua equipe descreveram um problema celular que aparece nas duas formas da doença, hereditária e não hereditária.
Em famílias com ELA hereditária, os pesquisadores descobriram mutações no gene que produz uma proteína chamada ubiquilina-2. Ela normalmente ajuda as células a remover e reciclar outras proteínas que estejam danificadas, deformadas ou que não são mais necessárias.
Ao mesmo tempo, Siddique e seus colegas analisaram tecidos de autópsia de dezenas de pacientes sem as mutações no gene para a ubiquilina-2.
Surpreendentemente, eles descobriram que, em todos os casos, a ubiquilina-2 havia se acumulado anormalmente no tecido da medula espinhal. Em pacientes com ELA e demência, a proteína havia se acumulado também no cérebro.
”Ficou claro que essa proteína específica estava desregulada e suas funções provavelmente estavam prejudicadas”, não só nos casos com as mutações genéticas mas em todos eles, afirmou Siddique.
A revelação sugere que os pesquisadores podem descobrir uma forma para tratar uma ampla gama de pacientes de ELA, simplesmente isolando a ubiquilina-2 ou o trajeto químico do qual ela faz parte.
Porém, muitas perguntas difíceis permanecem. O que faz essa proteína de limpeza se deformar espontaneamente e se acumular nos casos de ELA não hereditária? E qual a real importância desse comportamento anormal no desenvolvimento geral ou na progressão da doença? Segundo o Dr. Raymond Roos, neurologista da Universidade de Chicago, existe pelo menos mais uma proteína que notoriamente falha em todas as formas de ELA não hereditárias – e praticamente em todas as hereditárias. Essa proteína, chamada TDP43, costuma trabalhar emendando e adaptando moléculas de RNA, que em seguida são usadas para criar novas proteínas.
”Assim, no desenvolvimento da ELA, uma dessas proteínas defeituosas seria mais importante do que a outra? Existem outras cinco que também seriam importantes?” questionou Roos. “Essas são perguntas que ainda precisam ser respondidas”.
Os mistérios da ELA espelham, até certo ponto, aqueles de outras doenças neurodegenerativas como o mal de Alzheimer. Aqui, também, proteínas deformadas e acumuladas são marcas distintas da patologia – além de fontes de discórdia.
Alguns pesquisadores sustentam que os acúmulos de proteínas beta-amiloide são os principais culpados. Outros focam nas proteínas tau, que também se acumulam de maneira anormal. Outros, ainda, sugerem que agregações de proteínas seriam indicadores, e não causas, das disfunções.
Com a ELA, ”podemos examinar amostras de uma autópsia e ver o que aconteceu no fim“, disse a Dra. Lucie Bruijn, da ALS Association. “Em pessoas vivas, porém, é difícil imaginar qual seria a aparência do início da doença”.
Fonte: The New York Times
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