Estudo: gravidez não planejada em obesas alcançou 43,5%. Entre as magras a taxa ficou em 13,3% |
Saúde sexual em xeque aproxima das obesas problemas na gestação e mortalidade materna
Não é só a saúde cardíaca e metabólica das obesas que apresentam piores indicadores quando comparados aos das mulheres com peso normal. Uma pesquisa recém publicada mostra que a vida sexual das gordinhas também é prejudicada pela obesidade.
Pesquisadores franceses entrevistaram 5.535 mulheres e as conclusões foram publicadas na edição de maio do Britsh Medical Journal, uma dos mais importantes veículos do meio médico.
Os dados mostram que entre as obesas que engravidaram, 43,5% não haviam desejado a gestação. Já nas mulheres com peso em acordo com a altura a taxa de gravidez não desejada foi de 13,3%, uma diferença comparativa de 3,2 vezes.
A incidência de abortos realizados nos últimos cinco anos também apresentou abismo numérico entre os dois grupos: 22.4% das obesas declararam já ter interrompido a gestação no período, estatística que cai para 6,1% no grupo com peso normal.
Tudo misturado
O médico ginecologista Jorge José Serapião, especializado em sexualidade e sócio da Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana, recorre a uma mescla de fatores para explicar a maior vulnerabilidade das obesas à gravidez não planejada.
“A sexualidade fica contaminada porque a mulher obesa sofre muito mais preconceito, não se sente desejada, acaba sofrendo mais depressão e uma maior dificuldade de negociar a camisinha com o parceiro”, explica. “Se já não bastasse tudo isso, existem os prejuízos na sexualidade reprodutiva. Elas sofrem mais de ovários policísticos, apresentam mais irregularidades na menstruação e têm um leque menor de oferta de contraceptivos hormonais. É muito comum elas terem problemas metabólicos que as impedem de usar algumas pílulas por exemplo”, completa.
Desde abril deste ano, os ginecologistas brasileiros passaram a receber uma diretriz da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) de não recomendar o uso de pílulas anticoncepcionais para pacientes com diabetes, quando a doença estiver descontrolada. O diabetes é doença comum entre as obesas e controlar os níveis glicêmicos quando há excesso de peso, afirmam os endocrinologistas, é ainda mais difícil.
O menor uso de anticoncepcionais, de fato, foi mostrado pela pesquisa francesa. O uso de algum método contraceptivo é de 78,7% entre as magras, contra 58% nas que ficam na categoria da obesidade. O último grupo também apresentou quase cinco vezes mais queixas sobre problemas sexuais, desde falta de libido até rejeição.
Serapião acrescenta que estas particularidades da saúde sexual na obesidade são agravadas pela invisibilidade que o assunto ganha dentro dos próprios consultórios clínicos. Não há o debate sobre sexualidade com os profissionais de saúde e não há nenhum espaço para este tipo de discussão.
Mais mortes
Este conjunto de problemas que ameaça a saúde sexual das gordinhas já coloca os médicos do mundo todo em alerta. Isso porque o aumento expressivo dos casos de elevado Índice de Massa Corpórea (IMC) no sexo feminino pode ser acompanhado por gráficos não apenas de maior incidência de gravidez indesejada ou disfunção sexual, como também uma alta de mortalidade materna e infantil.
Em 2006, pediatras e ginecologistas do Centre of Maternal and Child Enquiries, da Inglaterra, publicaram um estudo chamado Investigação Confidencial sobre Morte de Mães. Dos 295 casos de mortes maternas investigados, 35% das gestantes estavam acima do peso, sendo 15% delas obesas mórbidas, o maior fator de risco detectado.
Desde o ano passado, os responsáveis pelo inquérito inglês atualizam os dados sobre a morte de mães. Os próximos resultados só ficaram prontos em 2011, mas não há dúvidas para os organizadores de que as obesas continuam no topo do ranking das preocupações.
Dados nacionais
No Brasil, o mesmo problema foi identificado. Uma análise do Ministério da Saúde feita em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz calculou que entre 1990 e 2007 dobrou o número de crianças menores de 1 ano que adoeceram de problemas negligenciados durante o período em que estavam na barriga de suas mães. Hipertensão, diabetes e eclampsia são só algumas delas, todas mais comuns em mulheres obesas e gestantes.
O maior risco das grávidas com obesidade – e a necessidade de respostas de políticas públicas eficientes – já havia sido calculado pela obstetra da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Ana Cristina Tanaka, em 1981. Naquele ano, na Revista de Saúde Pública de São Paulo, ela publicou um estudo e mostrou que enquanto 11,8% das grávidas obesas tinham doenças gestacionais graves, sendo que nas gestantes com peso normal o índice era de 2,4%. A morte de mulheres após o parto chegou a 106,4 por mil entre as obesas e 12,7 por mil entre as magras.
Fonte Delas
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