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domingo, 8 de julho de 2012

Médica oriental é PhD em transformar olhos puxadinhos

Edu Cesar/Fotoarena
Edith mostra os desenhos da cirurgia de ocidentalização
Conheça a história da cirurgiã Edith Horibe. Filha de japoneses, ela implantou no Brasil a chamada plástica da ocidentalização

Em um único dia, três mulheres subiram os seis andares do elevador, leram revistas de fofocas antigas e dividiram espaço na sala de espera do consultório na zona sul de São Paulo.

Em comum, elas também esperavam que o bisturi manuseado pela cirurgiã plástica Edith Horibe, que estava do outro lado da porta, transformasse suas feições orientais.

A médica, filha e neta de homens nascidos no Japão, foi pioneira em trazer ao Brasil a chamada cirurgia de ocidentalização, no início dos anos 80. A prática consiste em criar “dobrinhas” nas pálpebras dos olhos puxados, praticamente inexistente em japoneses, coreanos e chineses. Virou febre.

A estimativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica é de que sejam feitos 14 mil procedimentos do tipo a cada ano. Uma parcela significativa destas estatísticas é produzida no ambiente de trabalho de Edith.

“Perdi as contas de quantas cirurgias já fiz. Tenho ao menos uma paciente nova toda semana”, diz a médica, acrescentando que a anestesia é local e a recuperação rápida, em 15 dias.

“A maioria é mulher e jovenzinha. Muitas ganham dos pais este presente no aniversário de 15 anos”, diz ela sobre o perfil de suas clientes. Chegam com fotos de artistas ocidentais nas mãos ou, como conta a médica, com desenhos Mangá, traço japonês caracterizado justamente pelos estilo “olhos grandes e cílios imensos”.

Até se tornar PhD em plástica de ocidentalização, com especialização nas principais universidades dos Estados Unidos, Edith Horibe desbravou outros caminhos na medicina brasileira.

“Sou do tempo em que mulher não era cirurgiã. Nem banheiro feminino tinha no centro cirúrgico”, conta.

Edith sempre gostou de arte. Estudou canto (é fã de Madonna, Celine Dion e Ivete Sangalo) e quase fez carreira como pintora. Mas, contrariando o desejo dos pais imigrantes que sonhavam com uma artista na família, deixou o ambiente interiorano da cidade de Tupã (em São Paulo, quase na divisa com o Paraná) ainda menina para estudar na capital. Desejava vestir jaleco e usar estetoscópio. Mas não queria abandonar a “veia que pulsava paixão artística”.

“A cirurgia plástica é uma arte biológica. Virei escultora de autoestima”, acredita.

Abre o ooooolho
A graduação na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a pós-graduação, o mestrado, o doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e o pós-doutorado no exterior foram os degraus que esculpiram a formação de Edith. Mas foi para conseguir o título de especialização em cirurgia plástica em território brasileiro que a mais velha das seis filhas dos Horibe encontrou a tal cirurgia de ocidentalização.

“Para ingressar na Sociedade Brasileira, além de fazer uma prova dificílima, era preciso apresentar um trabalho com técnicas inovadoras. Fui buscar algo nas minhas origens”.

Pesquisando, Edith descobriu que metade dos orientais, por questões genéticas, não tem a dobrinha nas pálpebras e, nestes casos, os cílios ficam para dentro.

“Eu e minhas irmãs temos a dobrinha, mas muitas das minhas colegas não tinham”, puxou na memória.

O nome “bullying” ainda não tinha fama, mas as vítimas dele já existiam.

“Elas sofriam algumas chacotas. Escutavam ‘abre o ooooolho japonesa’, lamentavam, sofriam”, conta Edith.

“Também constatei que os ‘sem dobrinhas’ eram mais vulneráveis aos problemas oculares, principalmente por causa da ausência dos cílios, responsáveis por fazer a proteção do globo ocular.”

Com todas estas informações na bagagem, Edith Horibe procurou know-how para a técnica de transformar os olhos puxados. Desenvolveu a cirurgia de ocidentalização “à brasileira”, no início dos anos 80 e colocou os bisturis para trabalhar.

Hoje atende pacientes do mundo todo (sete mil estrangeiros chegam ao País por ano só para fazer plástica, contabilizou censo do Congresso Medical Travel em 2009). Por videoconferência, a cirurgiã auxilia médicos de todos os cantos do planeta. Mas o maior orgulho é a ajuda e a troca de informações com o ídolo, “hoje grande amigo” Ivo Pitanguy, chamado de pai da cirurgia plástica brasileira. Fotos do mestre – abraçado a ela – estão espalhadas por todo o consultório.

Mais por vaidade
O excesso de infecções oculares nos olhos sem dobras aparece como pano de fundo da cirurgia de ocidentalização. A cirurgiã admite que a vaidade, mais do que a motivação por saúde, é a grande responsável por despertar nas orientais a vontade de procurar a técnica. Em uma comparação, é como aquelas mulheres que querem diminuir o tamanho do nariz, mas dizem que só foram ao cirurgião para corrigir “o desvio do septo”.

Vaidade, inclusive, “desde que em doses moderadas”, não devia fazer parte da turma dos sete pecados capitais, considera Edith. Tanto que, apesar de entre os pares ela ser mais lembrada pelas técnicas da ocidentalização, a cirurgiã plástica também foi precursora da medicina estética e anti-aging – nomes que ela nem gosta mais de pronunciar e diz baixinho, com cautela. A explicação: o Conselho Federal de Medicina e a Sociedade Brasileira de Geriatria condenam estas nomenclaturas, embasados no que chamam de falta de evidências científicas na divulgação de resultados.

O fato é que Edith é toda trabalhada na filosofia de chás, massagens e técnicas para retardar as sequelas do envelhecimento. Botox? “Faria, claro”, deixando a dúvida sobre a realização em meio à conjugação do verbo. Laser, ginástica facial, gel são procedimentos que aplica em seus pacientes. E nela própria, alternando com os esportes radicais (rapel é o predileto), meditação e estudos sobre física quântica – as dicas preferidas e pontuadas como garantia de bem-estar e de juventude eterna.

Foi estudando tudo isso que a médica parou de contar o tempo em anos. A idade cronológica? “Uma bobagem, não serve para nada. Só considero a idade biológica, que mensura quantos anos parecem ter seus órgãos, como coração, pulmão e rins. E a idade psicológica, que é a que você sente ter”.

Edith Horibe, psicologicamente, apagou até hoje 30 velas de aniversário.

Críticas
Nestes anos todos de carreira, Edith não passou imune às críticas. Além dos órgãos de classe não gostarem da tal “medicina estética”, a ocidentalização também recebe alguns olhares tortos, em especial dos que não são puxadas, diz a médica.

“Alguns ocidentais, principalmente, dizem que a cirurgia é uma afronta a cultura, uma padronização e tal.”

Edith tem resposta para isso.

“Eu respeito todas as etnias. Olho puxado é a coisa mais linda do mundo”, diz mostrando os seus, reforçados com lápis que esticam ainda mais o contorno dos olhos.

“As dobrinhas nas pálpebras só facilitam a expressão. Não tiram o traço de cada rosto. Fica mais fácil expressar emoções”, diz.

“Para todos os meus pacientes, eu digo que são únicos. Quando chegam aqui com fotos de artistas em mãos querendo ficar iguais, reforço que é impossível. Não fica bem e não é o caminho”, diz. Cirurgia plástica, defende, não pode ser borracha de personalidade.

A personalidade dela, com plástica ou sem, sempre vai ser de alguém “viciada em trabalho, uma ensandecida pela profissão”. A PhD em transformar os olhos orientais diz que não quer se aposentar nunca. Daqui a 10 anos, quando ela ainda tiver, psicologicamente, 30 anos, não vai ter pendurado o bisturi.

Fonte iG

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