Um estudo da Faculdade de Medicina da USP, em colaboração com a Universidade
Harvard, mostra que uma mutação herdada do pai está na origem de parte dos casos
de puberdade precoce.
Tumores e malformações podem levar ao problema -que atinge as meninas antes
dos oito anos e meninos antes dos nove-, mas para a maioria dos afetados não há
uma causa definida.
Sabe-se, porém, que a obesidade e outros fatores ambientais, como adoção,
aumentam o risco de o transtorno aparecer. Pessoas com esse problema têm mais
risco de ficar com baixa estatura, obesidade, diabetes e câncer.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress | ||
No estudo, os pesquisadores sequenciaram o genoma de 40 membros de 15
famílias (12 do Brasil, duas dos EUA e duas da Bélgica) -32 deles tinham
puberdade precoce. A média da idade do início da puberdade nesse grupo foi aos
seis anos, mas chegou a quatro anos.
Todos receberam avaliação clínica na USP. O material genético foi enviado
para análise nos EUA.
Cinco das 15 famílias (num total de 15 pessoas) tinham mutações no gene
MKRN3, que produz uma proteína que inibe a secreção hormonal na infância. Quando
há o defeito, a inibição não acontece e a puberdade é antecipada.
"É um avanço porque agora poderemos definir um subgrupo de casos com causa
genética. É algo que pode passar a ser oferecido como diagnóstico", diz Ana
Claudia Latrônico, professora de endocrinologia e metabologia da USP e
coordenadora da pesquisa, ao lado da médica Ursula Kaiser, de Harvard.
O trabalho, publicado no "New England Journal of Medicine", será apresentado
no Encontro Anual da Sociedade Americana de Endocrinologia em San Francisco
(EUA), no dia 17.
A parceria com Harvard foi proposta pela autora principal do artigo, Ana Paula Abreu, que estudou na USP e faz pós-doutorado nos EUA.
"Com a nossa experiência no ambulatório de distúrbios puberais do HC,
começamos a ter interesse em pesquisar fatores genéticos porque 90% das crianças
com puberdade precoce não têm uma causa bem reconhecida", diz.
Herdado do pai
Para Latrônico, um dos achados mais interessantes do estudo é o fato de o
defeito ter sido transmitido pelo pai em todos os que tinham a mutação.
Isso não significa que os pais "transmissores" necessariamente tinham a
puberdade precoce -só se também receberam a mutação do pai.
"Acredito que isso possa mudar até a investigação da causa, porque em geral é
a mãe que vai na consulta e o histórico do pai e da família paterna ficam
indisponíveis."
Ela diz ainda que os resultados poderão levar à identificação do risco para o
desenvolvimento de puberdade precoce nos filhos de quem teve o problema.
"Os pacientes podem sentir muita vergonha, o impacto social e psicológico é
grande. Uma família ciente do risco pode ficar preparada para dar apoio à
criança e começar o tratamento [para atrasar a puberdade] mais cedo."
Latrônico afirma que o próximo desafio é entender melhor o papel do gene.
Outra etapa da pesquisa, já em andamento, avalia mais de 200 crianças
brasileiras com puberdade precoce atendidas na HC e na USP de Ribeirão Preto.
"Já estamos identificando defeitos nessas crianças que aparentemente não tinham
história familiar, mas têm alterações no gene."
Fonte Folhaonline
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