Muitas crianças mais velhas que ainda fazem xixi na cama ficam deprimidas e com baixa autoestima |
Quando decide ter um filho, o casal já sabe que precisará trocar fraldas por um período que pode chegar até o quinto aniversário. Depois disso, é muito provável que o pequeno consiga controlar sua necessidade de fazer xixi em qualquer horário, acordado ou dormindo. Mas isso não é regra: pesquisas apontam que de 15 a 20% das crianças entre cinco e seis anos de idade ainda fazem xixi na cama à noite.
Nos casos de enurese noturna (o termo médico para xixi na cama à noite) dos cinco anos de idade em diante, os pais devem ficar atentos. Se a criança não consegue segurar a bexiga uma vez e isso nunca mais acontece, não há motivo para preocupação. Porém, se o xixi na cama começa a se tornar uma constante, independentemente da frequência (não precisa ser marcada no calendário; a distância entre uma ocorrência e outra pode ser variável), eles devem procurar ajuda de especialistas para resolver a disfunção.
Outro fator a ser observado antes de decidir ir atrás de tratamento é se o filho interrompe o sono ou não ao perceber que precisa ir ao banheiro. Normalmente, meninos e meninas despertam espontaneamente quando sentem as primeiras gotinhas de xixi na cueca ou na calcinha e correm para o vaso sanitário ou pedem a ajuda dos adultos da casa.
O problema é quando a criança acorda só pela manhã, com a cama encharcada. “Uma característica comum das crianças com mais de cinco anos que têm enurese noturna é o sono muito pesado. Elas não acordam mesmo enquanto fazem xixi”, esclarece Flávio Trigo, urologista especialista em incontinência urinária responsável pela Clínica de Enurese do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus (SP). Daí o respaldo médico é necessário.
E não é preciso pisar em ovos para lidar com o assunto. “A própria criança começa a reclamar do incômodo de acordar molhada e sente nunca poder participar de festas do pijama dos coleguinhas de escola, por exemplo. Ela entende que o tratamento é necessário”, afirma Abram Topczewski, neuropediatra do Hospital Israelita Albert Einstein e co-autor do livro “Xixi na Cama Nunca Mais!”, da editora Edições Inteligentes.
“Muitas crianças vão ficando deprimidas, com baixa autoestima. Sem o auxílio de um time multiprofissional, até os pais começam a demonstrar ansiedade”, complementa Antonio Macedo Jr., especialista em urologia pediátrica do Núcleo de Urologia Pediátrica da Escola Paulista de Medicina (Nupep).
Tratamentos
Existem duas formas de tratar a enurese noturna. A primeira e mais simples é por meio de um alarme que condiciona a criança a levantar e fazer xixi. “É colocado um sensor na cueca ou na calcinha e no ombro. À primeira gota de urina, um som é emitido, a criança acorda e vai ao banheiro. A maior vantagem é que não há nenhuma contraindicação e a retirada é imediata ao término do tratamento”, explica Trigo. A alta é dada quando se chega a 14 noites secas seguidas.
Se o alarme não surte efeito e depois de três meses a situação da enurese noturna permanece a mesma, parte-se para o segundo tipo de tratamento: o hormonal. Nele é administrada a desmopressina, hormônio sintético que faz as vezes da monopressina (hormônio responsável por reduzir a produção de urina durante o sono). A partir do momento em que a criança passa mais de um mês seca durante a noite – e não há previsão de quando isso vá acontecer, cada caso é um caso – , as doses do medicamento são gradativamente diminuídas até a alta.
Para auxiliar o tratamento da enurese noturna, não permita que seu filho beba qualquer líquido duas horas antes de dormir |
Em 90% dos casos, a enurese noturna é causada por motivos genéticos. “Vem do pai, da mãe, do avô, de um tio. Quando a criança faz xixi na cama depois dos cinco anos, pode investigar na família e descobrirá que pelo menos uma pessoa próxima passou por isso também”, diz Topczewski.
A constipação é outro motivo – menos frequente, mas longe de ser raro – que pode levar à enurese.
Macedo Jr. conta: “Crianças que seguram muito a urina e as fezes acabam acumulando um grande bolo fecal, que distende o cólon e comprime a bexiga”. O resultado é a saída involuntária de xixi.
Macedo Jr. conta: “Crianças que seguram muito a urina e as fezes acabam acumulando um grande bolo fecal, que distende o cólon e comprime a bexiga”. O resultado é a saída involuntária de xixi.
“Qualquer que seja o caso, é importante entender que é apenas um atraso que pode se manifestar no desenvolvimento infantil de qualquer um e que não merece broncas ou medidas punitivas. Ninguém faz xixi na cama de propósito”, aconselha Trigo.
Dicas
Além de procurar ajuda médica, os pais podem tomar algumas atitudes para passar pelo tratamento da enurese noturna dos filhos com mais tranquilidade.
Confira seis dicas dadas por Macedo Jr., Topczewski e Trig:
- Não permita que seu filho beba qualquer líquido duas horas antes de dormir.
- Leve a criança para fazer xixi antes de dormir, mesmo que ela diga que não está com vontade.
- Estabeleça horários rígidos de sono, para que a criança entenda que tem o momento certo para dormir, para acordar e também para fazer xixi.
- Converse: diga para a criança relaxar quando for fazer xixi e soltar todo o líquido que está na bexiga, sem segurar o finalzinho da urina. Muitos fazem isso sem perceber.
- Quando a noite for seca, premie seu filho pela manhã com um cereal ou um iogurte diferente, por exemplo.
- Faça um diário miccional com o registro da quantidade de idas ao banheiro, do volume urinário de cada ida, de outros sintomas que a criança possa manifestar. A “investigação” o ajudará a entender melhor a situação de seu filho do que qualquer exame.
Delas
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