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sábado, 12 de outubro de 2013

Advogada que perdeu filho com malformação cardíaca rara cria ONG

A advogada Márcia Rebordões, 41, na casa da Associação Pequenos Corações, em São Paulo
Leonardo Soares/Folhapress
A advogada Márcia Rebordões, 41, na casa da Associação
Pequenos Corações, em São Paulo
A advogada Márcia Rebordões, 41, de Bauru (SP), teve um filho com síndrome de hipoplasia do coração esquerdo --malformação grave em que os bebês nascem com metade do coração. Brigou com o plano de saúde para conseguir tratamento em São Paulo.
 
O filho morreu aos três anos, em 2009, e Márcia passou a lutar por atendimento adequado para bebês de todo o Brasil. Ela é mãe de Victória, 13.
Leia o depoimento de Márcia à Folha.
 
Estava com cinco meses de gestação e a médica suspeitou de algum problema. Um exame detectou a síndrome --o lado esquerdo do coração do Thiago era pouco desenvolvido. Nem imaginava que pudesse existir problema no coração de bebês.
 
Eu e meu marido ficamos desnorteados. O médico logo falou que ele viveria apenas três dias. Sentimos como uma sentença de morte.
 
Buscamos informações, mas não encontramos nada animador. No fundo, tinha a convicção de que encontraríamos uma saída. Após um mês, soubemos que existia tratamento no Brasil.
 
Fomos indicados ao hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, onde o cardiologista José Pedro da Silva havia tratado crianças que ficaram bem. O plano de saúde disse que não cobriria o tratamento e me encaminhou para São José do Rio Preto, onde também indicaram o José Pedro. O plano entendeu que não dava para arriscar.
 
Thiago nasceu na Beneficência e foi operado com dois dias de vida. Foram 72 dias na UTI. Via meu filho duas vezes por dia. Chegava perto do berço e o leite escorria, mas ele não podia mamar.
 
Conheci outras histórias na UTI. Uma mãe de Macapá, grávida, tinha um filho de dois anos lá. Dormia sentada no hospital e tomava banho jogando água no corpo. Aquilo mexeu comigo.
 
Apesar de ter caído nessa história sem preparo, tinha acesso a informações, médicos, amigos, família. E essas pessoas que vêm de tão longe, sozinhas?
 
Thiago ficou internado por seis meses e voltamos para casa. Era uma criança feliz. Isso dava a certeza de que estávamos no caminho certo.
 
Coloquei um site no ar (www.pequenoscoracoes.com ) com histórias de crianças que superaram cardiopatias graves. Percebi que não havia apoio para famílias dessas crianças. Algumas precisam brigar por tratamento.
 
Não queria que outras mães tivessem a mesma dificuldade. Gestantes começaram a entrar em contato. Fiz amizades, nos unimos pela internet e criamos a Associação Pequenos Corações.
 
Thiago ficou bem até os dois anos. Aí fez a terceira cirurgia e foi se recuperando com sacrifício. Mas após essa cirurgia vivia mais cansado, mais roxinho, teve um atraso no desenvolvimento.
 
Um dia, acordou tossindo muito e roxo. Fomos para o hospital às pressas. Conseguimos a transferência para São Paulo. Thiago chegou em estado grave, havia sofrido parada cardiorrespiratória em Bauru. Disseram que não havia muito a ser feito --ainda assim, lutou 40 dias.
 
Aí teve uma hemorragia pulmonar grave. Eu e meu marido tivemos tempo de nos despedir, agradecer por sermos pais dele. Peguei no colo e falei: "Mamãe te ama muito e vai continuar sua missão. Fica tranquilo que não será em vão". Nesse momento, o coração dele parou.
 
Olhei ao lado e vi um bebê na sala que fazia força para respirar. Estava ali por causa da história do Thiago, havíamos ajudado a família. Era a prova de que a vida continua.
 
Além de oferecer apoio e orientações sobre direitos e tratamento, queria ter um local para acolher as mães. Em agosto montamos uma casa perto do hospital [Beneficência], com capacidade para 18 mães. É simples, mas aconchegante, como uma família. Algumas mães passam meses com o filho internado e é ali que encontram amparo.
 
A Pequenos Corações cresceu pelo Brasil. Muitas famílias que ajudamos criaram núcleos, se unem para dar suporte a outras. São mais de 50 voluntários. Contamos com doações, não temos ajuda governamental. Vendemos produtos e fazemos eventos beneficentes.
 
Há também atendimentos por telefone e pela internet. Ajudamos mais de 3.000 famílias. Sinto que fui preparada para essa missão, Deus me preparou. Estou no lugar certo. Essa sensação não tem o que pague. É uma paz interior grande.

Folhaonline

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