Rio de Janeiro - Os bons resultados do tratamento de pacientes que sofrem de
hepatite C com os inibidores da enzima protease é um dos temas que médicos
especialistas na doença discutem no 64° Congresso da Associação Americana de
Estudo das Doenças do Fígado, em Washington, nos Estados Unidos. O Brasil está
incluído nos estudos e há pacientes atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS)
recebendo os medicamentos.
“A chance de cura dos pacientes no Brasil hoje é um fato real, não é mais uma
expectativa”, destacou o infectologista responsável pelo Ambulatório de HIV e
Hepatites Virais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Abrão, em
entrevista à Agência Brasil.
Segundo o especialista, será apresentado no encontro um trabalho feito com
quase 2.000 pacientes. Desses, cerca de 120 são brasileiros que utilizam, entre
as medicações, o telaprevir. “Nesse trabalho vai ser mostrado que, no mesmo
perfil de pacientes que a gente trata no SUS no Brasil, que são os com cirrose e
fibrose 3 e 4, a chance de cura é altíssima, gira em torno de 70%. Esse trabalho
vai ser mostrado corroborando as ações que os especialistas que trabalham no SUS
implementaram”, ressaltou Abrão.
O médico explicou que atualmente, em todo o mundo, cerca de 170 milhões de
pessoas têm hepatite C. No Brasil, há de 2 milhões a 3 milhões de casos. Muitos
nem sabem que têm a doença, porque não houve o diagnóstico. O especialista
acrescentou que, no Brasil, os pacientes em estado mais grave recebem, nos 130
centros de atendimento existentes no país, quatro medicamentos no tratamento da
hepatite. “Além desses medicamentos que o Brasil já incorporou, estão vindo
outros que vão permitir a erradicação da hepatite C no país. Estamos na
vanguarda”, disse, ao acrescentar que o Brasil é um dos países mais avançados em
termos de saúde pública e acesso às medicações.
Paulo Abrão informou que a evolução do tratamento caminha para a incorporação
de novos medicamentos que também serão oferecidos no Brasil. “O que vai
acontecer é que nos próximos anos essas medicações que estão dominando as
pesquisas vão ser incorporadas nos Estados Unidos e Europa e em seguida devem
chegar ao Brasil. O futuro é para todos os países desenvolvidos e os emergentes.
Esperamos em cinco anos poder curar mais de 95% dos pacientes com hepatite C”,
completou.
O médico chamou a atenção ainda para a importância das discussões que vão
ocorrer no congresso em Washington sobre a esteato-hepatite, conhecida como
doença gordurosa do fígado. Ele explicou que, com o avanço da obesidade no
Brasil, essa é uma preocupação dos especialistas. “Como na população a obesidade
tem sido cada vez mais frequente, a gordura também se concentra no fígado e às
vezes pode levar o paciente também à cirrose”, esclareceu.
De acordo com o especialista, ainda não há um medicamento específico para
combater essa doença, mas o começo do tratamento é redução do peso. “Hoje
sabemos que esse indivíduo tem que perder peso, fazer atividade física, ter
dieta saudável e talvez usar alguns medicamentos que estão sendo estudados, para
reduzir o nível de gordura no fígado. No congresso, vão ser apresentados vários
estudos sobre a doença. Já tem atendimento para esse tipo de paciente no SUS,
embora o tratamento ainda esteja em estudo, mesmo nos Estados Unidos e na Europa
não existe nada disponível ainda”, disse.
O 64° Congresso da Associação Americana de Estudo das Doenças do Fígado
começou ontem (1°) e termina na terça-feira (5).
Agência Brasil
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