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sábado, 7 de dezembro de 2013

Dislexia é causada por ruído em conectividade cerebral, diz pesquisa

A dislexia (dificuldade para ler e compreender o idioma) pode ser
resultado de uma má conectividade entre duas regiões do cérebro
Estudo lança luz à origem do transtorno que afeta 10% da população. Para autores, má representação mental de fonemas não é a causa
 
A dislexia (dificuldade para ler e compreender o idioma) pode ser resultado de uma má conectividade entre duas regiões do cérebro, afirmou na quinta-feira (5) uma pesquisa que lança nova luz à origem deste transtorno neurológico que afeta 10% da população mundial.
 
Segundo Bart Boets, autor principal do estudo publicado na revista americana "Science", durante várias décadas neurologistas e psicólogos atribuíram este problema de aprendizagem a uma representação mental defeituosa das palavras, inclusive fonemas, elementos sonoros característicos da língua.
 
Para confirmar esta hipótese, os cientistas examinaram com uma ressonância magnética 45 estudantes de 19 a 32 anos, 23 dos quais eram severamente disléxicos, para obter imagens tridimensionais do seu cérebro quando escutavam diferentes séries de sons.
 
"Assim foi possível obter um bom registro neuronal de representações fonéticas dos sons escutados", explicou Boets, psicólogo da Universidade Católica de Lovaine, na Bélgica.
 
Os participantes, todos destros e de língua flamenga, escutaram uma série de sons como "ba-ba-ba-ba" e deviam identificar o que era diferente, um exercício que, segundo os cientistas, requer uma boa representação mental dos diferentes fonemas.
 
Os pesquisadores descobriram que as respostas do grupo de disléxicos e a intensidade de suas reações neuronais foram similares aos do grupo de controle. "Suas representações fonéticas mentais estavam perfeitamente intactas", disse Boets.
 
Mas os participantes disléxicos foram aproximadamente 50% mais lentos para responder, segundo os cientistas.
 
Acesso defeituoso à região cerebral dedicada à linguagem
Quando analisaram a atividade geral do cérebro, os autores do estudo descobriram que os disléxicos tinham uma coordenação menor entre 13 regiões do cérebro que têm a ver com os sons básicos e a Área de Broca, uma das principais responsáveis ao processamento da linguagem.
 
Outras análises revelaram que quanto mais frágil é a coordenação entre estas duas regiões cerebrais, mais lenta é a resposta dos participantes.
 
Isso demonstraria que a causa da dislexia não é uma má representação mental dos fonemas, mas um acesso defeituoso destes sons na região do cérebro que processa o som, concluíram os autores.
 
Para Frank Ramus, cientista especialista neste tema na École Normale Supérieure de Paris, que não participou deste estudo, "esta é a pesquisa mais conclusiva em 5 anos" sobre a dislexia.
 
"Se estes resultados se confirmarem vão mudar completamente nossa compreensão da dislexia", disse em um artigo à parte, publicado na "Science".
 
No entanto, outros especialistas se mostram mais céticos.
 
Michael Merzenich, neurologista da Universidade da Califórnia em San Francisco (oeste dos EUA), disse não estar convencido de que a atividade neuronal medida no estudo seja representativa dos diferentes fonemas ouvidos.
 
Para Iris Berent, linguista da Universidade Northeastern em Illinois (norte dos EUA), também citada em um artigo da revista "Science", as diferenças nos sons usados neste estudo foram muito óbvias.
 
Um método mais preciso seria provar contrastes mais sutis entre os sons ambíguos com os quais os disléxicos têm a maior dificuldade, disse, em desacordo com Boets e Ramus.
 
Mas, segundo Ramus, "a ressonância magnética teria mostrado se os disléxicos tinham uma representação defeituosa" dos fonemas escutados, inclusive se não houvesse diferenças mais sutis entre eles.
 
Boets já vislumbra um novo tratamento potencial para restaurar a conectividade normal entre as duas regiões do cérebro, que são aparentemente a causa da dislexia.
 
"Não é inconcebível usar algum tipo de estimulação elétrica não invasiva do cérebro para restaurar a comunicação entre estas duas regiões do cérebro", disse o pesquisador.
 
G1

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