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quarta-feira, 19 de março de 2014

Cientistas desenvolvem injeções que protegem macacos da aids


Cientistas desenvolvem injeções que protegem macacos da aids Ozier Muhammad/The New York Times
Foto: Ozier Muhammad / The New York Times
David Ho, diretor do Centro de Pesquisa da Aids Aaron Diamond,
 da Universidade Rockefeller, é autor de um dos estudos
Descoberta pode levar a grande revolução na prevenção das doenças em humanos
 
Pesquisadores informaram que injeções de remédios de longa duração contra a aids protegeram macacos durante semanas contra infecção, uma descoberta que poderia levar a uma grande revolução na prevenção das doenças em humanos.
 
Dois estudos em grupo em laboratórios diferentes encontraram 100% de proteção em macacos que receberam injeções mensais de drogas antirretrovirais, e existem provas de que uma única injeção a cada três meses pode dar o mesmo resultado. Se a descoberta puder ser reproduzida em humanos, ela tem o potencial de vencer um grande problema na prevenção da aids, o de que muitas pessoas se esquecem de tomar regularmente os antirretrovirais.
 
Um estudo clínico preliminar com humanos pode começar até o fim deste ano, disse o Wafaa El-Sadr, especialista da Faculdade Mailman de Saúde Pública, da Universidade Columbia, mas um teste maior que poderia levar a um tratamento em humanos provavelmente só correrá daqui a alguns anos.
 
Sabe-se desde 2010 que pessoas saudáveis que tomam uma pequena dose diária de remédios antirretrovirais — procedimento conhecido como profilaxia pré-exposição — podem conseguir uma proteção superior a 90% contra infeção. Porém, em vários estudos clínicos realizados depois disso com homens gays, com usuários de drogas intravenosas e em casais nos quais um dos parceiros está infectado, comprovou-se que os únicos participantes protegidos eram os que tomavam o remédio todo dia, sem falhas, mas muitos não tomavam.
 
A taxa de esquecimento se mostrou particularmente alta entre mulheres na África. Embora alguns participantes de um estudo de profilaxia pré-exposição contaram aos pesquisadores estarem assustados com boatos sobre efeitos colaterais, muitos também falaram que estavam com medo de guardar o remédio em casa com medo de que o parceiro sexual ou um vizinho os visse e equivocadamente presumisse que elas estivessem contaminadas com a doença.
 
Segundo vários especialistas em aids, uma injeção intramuscular que as mulheres recebessem a cada três meses poderia mudar esse cenário. Na África e em outros lugares do mundo em desenvolvimento, muitas mulheres já recebem injeção de hormônios para controle natal de longa duração como o Depo-Provera, optando por ele no lugar das pílulas diárias, o que pode enraivecer esposos ou namorados que as encontrem.
 
Em relação ao protocolo da injeção testada em macacos, David Ho, diretor do Centro de Pesquisa da Aids Aaron Diamond, da Universidade Rockefeller, e autor de um dos estudos, disse que a popularidade do Depo-Provera era "uma boa analogia de como a injeção poderia funcionar nos países em desenvolvimento".
 
Em outro estudo, conduzido pelos Centros para Controle e Prevenção de Doenças, Atlanta, seis macacas receberam injeções mensais de GSK744, droga experimental que é um formato de longa duração de um antirretroviral já aprovado para o tratamento do HIV pela FDA, agência norte-americana reguladora de alimentos e medicamentos. Seis outras macacas receberam um placebo.
 
Duas vezes por semana, um líquido contendo o vírus da imunodeficiência humano-símia, versão híbrida de humanos e macacos do vírus causador da aids, era bombeado em suas vaginas, simulando sexo com um macaco infectado. Nenhuma das macacas protegidas pelo GSK744 se infectou. As seis que recebiam o placebo foram infectadas rapidamente.
 
Os pesquisadores da Rockefeller realizaram um experimento similar com 16 macacos usando a mesma medicação. Eles receberam lavagens retais do vírus, imitando sexo anal. Os resultados foram iguais: todos os macacos que receberam a droga foram protegidos, contra nenhum dos animais que não a recebeu.
 
A equipe de Ho também verificou quanto da droga tinha de estar no sangue e tecidos do macaco para proteger. Eles descobriram que uma quantidade grande o suficiente para proteger era "claramente alcançável em humanos com uma injeção trimestral", afirmou Ho.
 
Os estudos foram apresentados em quatro de março na Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas, que acontece todos os anos.
 
— Os resultados são muito impressionantes para algo realizado no modelo animal — disse Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional para Alergia e Doenças Infecciosas
 
Mitchell J. Warren, diretor executivo da AVAC, organização que luta pela prevenção e tratamento da aids, afirmou que uma droga injetável de longa duração era "claramente a melhor opção porque a adesão tem sido o calcanhar de Aquiles da profilaxia pré-exposição".
 
Contudo, ele argumentou que pessoas com risco de contrair HIV terminariam precisando de várias opções, da mesma forma que as mulheres interessadas no controle natal querem poder escolher entre pílulas e métodos alternativos.
 
Um medicamento experimental similar conhecido como TMC278 foi testado em macacos vários anos atrás e também os protegeu, embora o estudo não tenha sido idêntico aos dois divulgados em março.
 
— Todavia, pouca atenção foi fada porque então as pessoas estavam concentradas em outras coisas — afirmou Warren.
 
O estudo clínico humano que deve começar até o fim do ano será pequeno, contando com somente 175 pessoas nos Estados Unidos, África do Sul, Malauí e Brasil. El-Sadr, da Columbia, afirmou que o estudo deveria demorar três anos antes de outro maior para descobrir se o método da injeção funciona em pessoas com a mesma eficiência que em macacos.
 
Estudos com humanos são demorados e exigem um grande número de participantes, em parte porque é antiético realizar um experimento sem oferecer aos participantes todas as opções aprovadas, incluindo camisinhas e versões em pílulas da profilaxia pré-exposição.
 
— Você sabe que algumas vão dizer que querem, mas vão terminar não usando. Mesmo assim, é preciso lhes oferecer — garantiu Warren.

The New York Times / Zero Hora

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