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sábado, 3 de maio de 2014

Eles querem um lar, elas querem uma relação

Thinkstock/Getty Images
Descompasso: não fomos preparados para as complexidades do
 atual projeto de casamento
Terapeuta explica a diferença entre as expectativas masculinas e femininas sobre o propósito do casamento
 
Muitos dos problemas de relacionamento podem ocorrer devido às diferenças entre as expectativas masculinas e femininas sobre o propósito do casamento. E porque as expectativas podem ser opostas?
 
Porque homens costumam casar em busca de um lar e mulheres em busca de uma relação a dois. Duas metas que dificilmente coincidem, e que levam a desgastantes mal-entendidos e eventuais separações.
 
No próximo artigo falaremos sobre possibilidades de ajustar metas para que vocês possam ter uma verdadeira aliança de vida. Mas será que vocês têm mesmo expectativas desalinhadas? Leia a descrição abaixo e veja o quanto ela coincide ou não com seu caso.
 
Homens em busca de um lar
Fernando, após uma solteirice de farras e tendo consolidado a carreira profissional, sentiu-se pronto para casar com Lucia. Leonardo estava cansado da rotina de conquistador. Via os amigos à sua volta casando. Decidiu-se então por Márcia. Rogério, sempre foi tímido, ficou com a primeira que o escolheu e o aceitou. Ricardo casou-se por paixão sonhando com uma Penélope "pau para toda obra" e sexo ousado.
 
Todos vislumbravam um “lar, doce lar”. Um lugar de sossego, apoio e sexo. Queriam se estabelecer, fundar uma família, ter estabilidade, descansar da rotina de conquistas e sedução. Poder ter uma vida mais confortável, aconchegante. Uma verdadeira casa, um lar, uma família. E o que esperavam suas mulheres, Lucia, Márcia e Penélope dos seus casamentos?
 
Mulheres em busca de uma relação para compartilhar a vida
Elas imaginavam selar com o marido um pacto de união. Uma união para a aventura da vida.
 
Pensavam que usufruiriam de uma relação de intimidade profunda com um homem, que dividiriam com ele seus sonhos e medos, que teriam compartilhamento, cumplicidade e compromisso. Mas construir um lar não era a meta delas.
 
Para uma mulher, casar naturalmente implica montar um lar e, eventualmente, ter filhos e poder ser mãe com o apoio do parceiro. Entretanto, cuidar da casa, decorá-la, criar um ambiente aconchegante, apoiar e cuidar do marido e dos filhos só costuma valer a pena para ela se em troca houver compartilhamento, investimento e satisfação na relação a dois. Enfim, se ela sentir que o parceiro e ela vivem uma vida entrelaçada e não duas vidas paralelas, sem intimidade. Relação a dois e lar são projetos diferentes. Como você verá a seguir.
 
Os sonhos e desilusões de Lucia
Lucia era a mais romântica, queria ter com Fernando uma relação de trocas intensas. Compartilhariam os relatos sobre as miudezas do cotidiano, fariam planos e juntos explorariam a vida.
 
Para ela o namoro foi uma amostra do potencial da relação. Como namorado ele era um verdadeiro cavalheiro, sempre prestativo e romântico. Faziam viagens, programas prazerosos, tinham sonhos construídos ao pôr-do-sol.
 
Ela achava que tudo isto era só uma preliminar. Achava que agora, ao casar, começaria a grande aventura a dois! Não haveria mais tantas distâncias (moradias separadas, horários e compromissos individuais) que atrapalhavam o cotidiano de amor. Queria também fundar uma família, criar junto com Fernando dois ou três filhos.
 
Que decepção para Lucia quando ao longo do tempo foi ficando claro que Fernando não buscava nada disso. Em casa, Fernando agora aprecia a rotina, o sossego, sugere irem ao restaurante que fica ao lado, que é tão prático, ou próximo, ou custa menos, ou que ele já conhece. Só quer ler seu jornal, ou usa o tempo livre para encontrar seus amigos homens, colegas de trabalho, etc. Eventualmente, quando parece estar de verdade com ela, só ele quer contar do seu dia, mas na hora de ouvi-la, não interage, não se envolve com episódios que a ela parecem tão significativos, mas que para ele são apenas histórias de mulherzinha.
 
Ele mal nota seu empenho em promover a graça e o encanto da vida a dois, não enxerga os enfeites e arranjos da casa que ela tanto se esmerou em providenciar. Tudo a ele parecem miudezas irrelevantes.
 
Aos poucos, aquele namorado romântico, sintonizado, empático, inventivo e interessante se revela uma fraude. Foi tudo uma sedução provisória? Mesmo o sexo que ele tanto quer, ele apenas se dispõe a fazê-lo em casa e de modo conveniente, em horários que para ele são práticos, sem grande empenho (no máximo as preliminares protocolares, ou palavras românticas reservadas para a ocasião sexual, ou uma aflita busca de informação sobre se ela teve orgasmo, como que para confirmar a sua competência de macho).
 
Lucia agora percebe que foi enquadrada, tornou-se parte da moldura da vida dele. Queria tanto que ele fosse mais aventuroso, que celebrassem a vida, as datas, mas ele mal se lembra. Se ele não fosse sempre tão prático, tão sem graça. Tudo o que restou a ela é um cotidiano tarefeiro. Mesmo o lazer é programado, previsto e recebe tantas restrições de orçamento, de datas e de prazos. Ela gostaria que o trabalho, os amigos, os hobbies, o brincar com os filhos e outras atividades dele não estivessem sempre em primeiro lugar antes dela, e que ela não fosse a última opção quando finalmente sobra espaço na agenda dele.
 
De início ela tenta se fazer notar. Depois tenta falar com ele, fazê-lo entender. Explicar o que é investir na relação, ser prioridade. Mas ele não a entende, “o que ela afinal quer dele?”, “Afinal já não basta estarem juntos?”
 
Ele reclama que ela cobra demais, ou ele zomba dos pedidos dela, às vezes ele se fecha, silencia, ou vai enrolando. Mais adiante, ela, irritada, tenta se fazer escutar de modo mais contundente, aflita. Ele ainda parece não entender ou será que não está ligando a mínima? Ela começa a cobrar mais, a se tornar agressiva, amarga, entra em desespero e se torna irracional, descontrolada, sem paciência até com os filhos que ela tanto ama. Aos poucos ela desiste, definha, confinada ao “lar doce lar” sua seiva secou. Parou de lutar pela relação. Eventualmente ela terá um amante, alguém que parece notá-la, que a escuta, que a percebe (ao menos enquanto for amante).
 
Nos casais atuais é comum mulheres se sentirem mais insatisfeitas. Em média 70% dos pedidos de divórcio partem dela. Homens, mesmo insatisfeitos, tendam a “ir levando” por mais tempo. Muitos percebem a vida de modo compartimentalizado e vão compensando com outras válvulas de escape, elas vivem de modo mais interligado.
 
Mulheres tendem a se estressar com a vida doméstica, mesmo quando o marido divide com ela tarefas de casa e a criação dos filhos. Elas tendem a ser mais tensas e perfeccionistas, eles costumam ter um olhar mais superficial, complacente e relaxado. Além disso, quando a mulher dá uma pausa na carreira, ela tenta investir mais ainda na qualidade da relação. Mas tromba com um homem menos treinado (e desinteressado?) em como sintonizar com outra pessoa. É provável que ela se frustre com a qualidade da relação.
 
Os sonhos e desilusões de Fernando
Fernando aos poucos também se vê numa armadilha. Onde ficou a namoradinha tão companheira? Então tudo era só sedução até me fisgar? Quando as mulheres se sentem seguras passam a cobrar a conta? Ela cobra tanto e coisas tão estranhas, e está sempre insatisfeita. Ela reclama ou porque eu disse algo que não deveria ter dito ou porque não disse algo que deveria ter dito. É tudo muito complicado. Ela se ofende, se ressente e faz comentários ácidos. Conversar com ela é insuportável, ela logo se exalta, e como chora, e como grita, acusa, se põe como vítima. Ela é tão carente.
 
Tudo que ele queria era um lar, um lugar de sossego, e o que tem hoje? Uma mulher ressentida e impaciente que o sufoca. Não fazem mais sexo, ou quando o fazem, ela impõe restrições moralistas às fantasias dele e se mostra estressada por miudezas da vida. Ela se queixa de que ele não lhe dá atenção, mas quando lhe dá atenção ela não usufrui, diz que ele “não pensa em nada”, que para ele “tudo é fácil e simples”. Virou uma chata!
 
Thinkstock/Getty Images
As expectativas masculinas e femininas sobre o propósito
do casamento são diferentes
Além disso, ela parece não suportar que ele descanse ou relaxe. Ao vê-lo sentado lendo o jornal ela logo pede que se levante para resolver agora, neste momento, alguma tarefa doméstica. Seu senso de urgência para resolver afazeres é insensato, histérico, insuportável.
 
Ele precisa de um respiradouro para fugir deste massacre: uma amante, leve, divertida, com a qual possa exercer os dotes de namorado romântico, uma mulher meiga que o valorize, que lhe dê sossego, apoio e importante: sexo à vontade e sem tantas restrições (ao menos enquanto for amante).
 
É claro que há casais em que as coisas acontecem de modo inverso, ele quer investir na relação e ela não prioriza a vida a dois. E em outros casos pode ocorrer que ambos coincidam no propósito do casamento. Mas a maioria dos casais é parecida com Fernando e Lucia descritos acima. Qual é seu caso?
 
Não percebemos ainda quão complexo é o atual projeto de felicidade no casamento. Não fomos preparados para tal. Ainda pensamos que talvez o amor resolva tudo, ou que com bom senso equacionaremos as coisas. As estatísticas mostram que a maioria não consegue fazer isso. O número crescente de divórcios, o incremento das queixas e insatisfação matrimonial e a dificuldade dos solteiros acharem alguém, ou dos divorciados recasarem, são testemunhos da dificuldade em ajustar tantas expectativas. Este será o tema do próximo artigo: ajustes de casal.
 
* Luiz Alberto Hanns é terapeuta com mais de 20 anos de prática clínica e autor de “A Equação do Casamento -- O que pode (ou não) ser mudado na sua relação” (Paralela). Na coluna “Vida a Dois”, ele fala sobre os desafios da vida em casal.

Delas

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