Foto: Cintia Valle/Arquivo Pessoal Cintia com seu filho Lucas, ainda na incubadora |
A bancária Cintia Valle, de 39 anos, recebeu uma das melhores notícias de sua vida, a da gravidez, enquanto passava por uma bateria de exames que finalmente levariam a um diagnóstico de câncer.
Ela chegou a ouvir da equipe médica a possibilidade de ter de interromper a gestação para fazer o tratamento. Mas seus médicos avaliaram a situação e decidiram adiar o início da quimioterapia para o segundo trimestre da gravidez, quando a medicação não traria riscos ao feto.
A história tem um final feliz: o bebê Lucas, hoje com 9 meses, é uma criança saudável e Cintia, que conseguiu fazer o câncer regredir, já até voltou a trabalhar. Mas a família do Rio de Janeiro ficou comovida com o caso da funcionária pública Patrícia Alves Cabrera, que decidiu interromper a quimioterapia durante a gravidez para proteger seu filho e acabou morrendo na semana passada, poucos dias após um parto prematuro. Cintia e seu marido, Fabio Sergio Valle, procuraram o G1 para compartilhar sua história, que pode ser vista como uma esperança para famílias que passam pelo mesmo problema. Contudo, nem sempre o tratamento de câncer é compatível com a gravidez e, em cada caso, a decisão final é dos pacientes (leia mais abaixo).
De acordo com especialistas, apesar de a quimioterapia não ser recomendada no primeiro trimestre de gravidez, alguns tipos de medicações podem ser usadas com segurança a partir do segundo trimestre de gestação. “Existem vários casos de pacientes que recebem quimioterapia nesse período e isso não impacta em uma maior taxa de malformação”, diz a oncologista clínica Solange Moraes Sanches, do A.C.Camargo Cancer Center. No entanto, nem sempre o início do tratamento pode ser adiado sem prejuízo para a saúde da mãe.
Surpresa
Fazia quatro anos que Cintia Valle e seu marido, Fabio Sergio Valle, tentavam engravidar. Mas os planos ficaram de lado quando Cintia começou a investigar alguns sintomas, a princípio atribuídos a um abscesso na mama. A notícia da gravidez veio de repente, em um teste rápido pedido pela médica antes de Cintia se submeter a uma ressonância magnética. O exame foi apenas um dos muitos realizados pela bancária, que levaram finalmente até o diagnóstico de um linfoma não-Hodgkin de células B.
A gravidez foi descoberta em janeiro do ano passado. O diagnóstico veio em seguida, depois da retirada de sua mama para biópsia. A possibilidade de interrupção da gravidez foi levantada, mas os médicos resolveram adiar o início da quimioterapia, para garantir o desenvolvimento normal do bebê. Cintia conta que fez as sessões de quimioterapia entre março e junho. Lucas nasceu prematuro, no dia 26 de julho, na 33ª semana de gestação.
Pesando 1,7 quilo, ele ficou 21 dias na UTI para ganhar peso e aprender a sugar. Cintia conta que nos primeiros meses ele ainda passou por muitos especialistas para ter certeza de que a quimioterapia realmente não tinha afetado seu desenvolvimento. Hoje com 9 meses, Lucas é uma criança saudável. “É uma criança iluminada, é muito bonzinho e nunca me deu trabalho”, diz.
Já Cintia está sem sinais do linfoma e agora faz acompanhamento a cada três meses. Segundo ela, encarar os problemas de forma positiva foi essencial para que sua família conseguisse passar por essa situação. “Com tudo isso que passamos, meu marido e eu passamos a cuidar mais do lado espiritual, ficamos mais unidos e conhecemos pessoas maravilhosas.”
Decisão difícil
Em casos de tumores mais agressivos ou em estágios mais avançados, a ocorrência de uma gravidez pode levar a família a ter de tomar uma decisão mais difícil, de acordo com o oncologista João Soares Nunes, do Hospital de Câncer de Barretos. “Uma situação difícil é quando a paciente engravida durante o tratamento para câncer de mama metastático, chamado assim quando já se disseminou para outros órgãos do corpo, e essencialmente precisa de quimioterapia para controlar a doença. Neste caso, tanto o feto quanto a mãe ficam em risco muito grande.”
Em casos de tumores mais agressivos ou em estágios mais avançados, a ocorrência de uma gravidez pode levar a família a ter de tomar uma decisão mais difícil, de acordo com o oncologista João Soares Nunes, do Hospital de Câncer de Barretos. “Uma situação difícil é quando a paciente engravida durante o tratamento para câncer de mama metastático, chamado assim quando já se disseminou para outros órgãos do corpo, e essencialmente precisa de quimioterapia para controlar a doença. Neste caso, tanto o feto quanto a mãe ficam em risco muito grande.”
De acordo com a oncologista Solange Moraes Sanches, neste momento o médico explica todas as alternativas de tratamento e esclarece se existe a possibilidade de manter a gestação de uma forma segura ou se os únicos tratamentos possíveis são incompatíveis com a manutenção do feto. “A decisão final é do paciente”, diz a médica.
Segundo Nunes, caso a exposição à quimioterapia ocorra na fase inicial da gestação, o feto está sujeito a aborto, parto prematuro, deformidades ou outros cânceres como leucemia. Por causa dos riscos do tratamento, toda paciente diagnosticada com câncer que esteja em idade fértil é orientada a usar métodos contraceptivos.
G1
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