Surto de Ebola já matou quase 500 pessoas em três países da África Ocidental |
Médicos Sem Fronteiras alertam sobre o risco de epidemia em áreas africanas; ao menos 500 já foram atendidos com doença
Com o aumento exponencial no número de casos de Ebola na África
Ocidental, a organização médica internacional Médicos Sem Fronteiras
(MSF) alerta para o risco de uma epidemia regional.
"O surto está fora de controle', afirmou à BBC Brasil Mariano Lugli, diretor de operações do MSF na Suíça.
A
equipe de Lugli lidera a assistência humanitária na região desde
fevereiro. Com cerca de 300 profissionais em campo, a organização já
atendeu cerca de 500 pacientes e está no limite de sua capacidade
operacional.
Em quatro meses, o surto de Ebola que surgiu em Guiné já se espalhou para dois países vizinhos, Libéria e Serra Leoa.
"Há
um movimento constante e intenso de pessoas cruzando fronteiras nesta
região e os casos estão se espalhando rapidamente para mais províncias e
países", explicou Lugli.
A doença já se alastrou para mais de 60 localidades diferentes na África Ocidental e ainda não atingiu seu pico.
"Em
geral, isso deveria ter acontecido entre dois e cinco meses, mas é
impossível prever especialmente porque agora há uma variante do vírus
que causa febre hemorrágica e é muito perigosa", afirmou Lugli.
Até
agora, 759 pessoas foram infectadas pelo vírus e 468 morreram. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), este é o maior surto de Ebola já
registrado na história.
O vírus mata cerca de 90% das pessoas
infectadas e o contágio acontece por contato direto com fluidos
corporais, como sangue e secreções, de uma pessoa infectada. Não há
vacina ou cura para a doença.
Plano de ação
No
início desta semana, a OMS realizou uma reunião de emergência sobre o
surto. Ministros de 11 países africanos se reuniram em Acra, Gana, para
discutir como controlar o surto de Ebola.
No encontro, as
autoridades concordaram em ampliar a coordenação e monitoramento da
doença, com foco nas regiões fronteiriças. Para isso, a OMS anunciou a
criação de um centro regional de apoio técnico em Guiné.
No
entanto, a organização ainda não prescreve nenhum tipo de restrição a
viagens para a África Ocidental ou entre países da região. Segundo a
OMS, o risco de disseminação da doença é considerado alto nos países
fronteiriços, moderado no restante do continente africano e baixo no
restante do mundo.
"Agora a comunidade internacional reconheceu o
problema e todo mundo entende a necessidade de coordenação, mas é
preciso ver como isso se traduzirá em ação", afirmou Lugli.
Apoio local e internacional
Mobilizar
líderes comunitários, religiosos e políticos para ampliar o
conhecimento sobre a doença também foi outro destaque do plano da OMS.
"A
coisa mais importante agora é sensibilizar a população e os agentes de
saúde locais, além da maior coordenação entre as autoridades regionais
para controle e supervisão de casos em aeroportos e portos", disse
Lugli.
Há quatro meses, ele esteve em Guékédou, na fronteira de Guiné com a Libéria, quando foram registrados os primeiros casos.
"As pessoas estavam com muito medo e os médicos locais não conheciam a doença", explicou.
Na
região, é comum o uso de medicina popular e curandeiros. Médicos têm
pouca experiência em lidar com isolamento –a única alternativa de
tratamento para o Ebola.
"Os pacientes que sobrevivem são aqueles
que naturalmente desenvolvem anticorpos contra o vírus, mas para isso é
preciso tempo e isolamento", explicou Lugli.
Estima-se que cada
pessoa contaminada mantenha contato com ao menos outros 20 indivíduos,
que também devem ser isolados e monitorados para controle do Ebola.
Outro agravante comum é o descuido no manuseio de corpos de vítimas da
doença.
Atualmente, o MSF é a única organização internacional humanitária atendendo vítimas do Ebola na África Ocidental.
"Estamos
no nosso limite. É urgente que mais atores internacionais competentes
também apoiem na resposta ao surto", afirmou Lugli.
BBC Brasil / iG
Nenhum comentário:
Postar um comentário