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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Bactérias do organismo podem manipular nossos desejos por alimentos

A forma como micróbios agem em nosso corpo pode preencher algumas de nossas maiores dúvidas a respeito da vontade de consumir certas comidas
 
Nosso corpo é o lar de cerca de 100 trilhões de bactérias e outros micróbios, e esse conjunto é conhecido coletivamente como microbioma. Os naturalistas ficaram cientes dessa existência no século 17, mas foi só nos últimos anos que realmente nos familiarizamos com tais bactérias.
 
Com as recentes descobertas, começamos a entender como nossos microbiomas são benéficos, digerindo o que comemos, lutando contra infecções e estimulando nosso sistema imunológico. É como um jardim invisível que deveríamos tratar com cuidado para o nosso bem-estar.
 
Mas na revista BioEssays, uma equipe de cientistas sugeriu uma possibilidade mais assustadora. É possível que este zoológico de germes também influencie o comportamento – fazendo-nos sentir vontade de consumir determinados tipos de alimento.
 
– Uma das maneiras de encarar isso é pela perspectiva dos romances policiais. Quais são os meios, os motivos e as oportunidades que os micróbios têm para nos manipular? Afinal, eles têm tudo isso – afirmou Carlo C. Maley, biólogo evolucionário da Universidade da Califórnia e coautor do novo estudo.
 
As bactérias fabricam algumas das mesmas substâncias químicas que nossos neurônios utilizam para se comunicar uns com os outros, como a dopamina e a serotonina. E os micróbios podem levar essas moléculas neurológicas para uma rede densa de terminações nervosas que revestem o trato gastrointestinal.
 
Estudos recentes mostram que as bactérias intestinais podem utilizar esses sinais para alterar a bioquímica do cérebro. Comparados com ratos comuns, as cobaias que não tinham micro-organismos demonstravam comportamentos diferentes: elas eram mais ansiosas e tinham a memória ruim.
 
Acrescentar certas espécies de bactérias ao microbioma das cobaias revelou outras formas pelas quais elas podem influenciar comportamentos. Algumas diminuíam os níveis de estresse da cobaia. Quando os cientistas cortaram o nervo que enviava os sinais do trato gastrointestinal ao cérebro, esse efeito desaparecia.
 
Influência nas escolhas
Alguns experimentos sugerem que as bactérias também são capazes de influenciar a maneira como o hospedeiro se alimenta. Cobaias sem germes desenvolvem mais receptores de sabores adocicados nos intestinos, por exemplo. Eles também preferem beber fluídos mais doces, comparados com cobaias normais. Os cientistas também revelaram que as bactérias podem alterar os níveis de hormônios que controlam o apetite das cobaias.
 
Maley e seus colegas argumentam que nossos hábitos alimentares criam um motivo perfeito para que os micróbios nos manipulem:
 
– Da perspectiva do micróbio, o que comemos é uma questão de vida ou morte – afirma o pesquisador.
 
Isso porque diferentes espécies de micróbios se alimentam de diferentes tipos de comida. Se eles forem capazes de nos levar a consumir mais dos alimentos de que dependem, eles podem se multiplicar.
 
Pesquisas ainda em andamento
A manipulação dos micróbios pode preencher algumas de nossas maiores dúvidas a respeito de desejo de consumir determinados alimentos, afirmou Maley. Os cientistas tentaram explicar esse desejo como a maneira pela qual o corpo humano decide estocar certos nutrientes que estavam em falta, ou então como uma forma de vício, similar ao de drogas como o tabaco e a cocaína.
 
Porém, ambas as explicações são insuficientes. O chocolate é um bom exemplo: muitas pessoas sentem um desejo gigantesco de consumir chocolate, embora ele não seja um nutriente essencial. Mas o chocolate não exige que as pessoas aumentem a dose para terem o mesmo barato.
 
— Você não precisa consumir cada vez mais chocolate para ficar satisfeito — afirmou Maley.
 
Talvez, sugeriu, as bactérias que se alimentam de chocolate nos levam a sentir vontade de comer.
 
Mark Lyte, microbiólogo do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Tecnologia do Texas e pioneiro nessa linha de pesquisa nos anos 1990, está investigando se uma determinada espécie de bactéria é capaz de modificar as preferências dos ratos por certos tipos de alimentos.
 
— Não há nada certo por enquanto. Ainda precisamos de uma demonstração científica e plenamente factual — afirmou Lyte.
 
The New York Times  / Zero Hora

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