PS ficou uma semana sem atender ambulâncias; além do atraso de salários, faltam remédios e até corredores estão lotados
Durou menos de três meses a bonança no pronto-socorro da Santa Casa de São Paulo, há 130 anos na Vila Buarque, zona oeste de São Paulo. Depois de receber R$ 3 milhões do governo do Estado para pagar as contas e reabrir as portas após a paralisação do dia 22 de julho, a escassez de medicamentos e de leitos voltou a afetar o hospital, obrigado a recusar os pacientes que chegaram de ambulância à Santa Casa na primeira semana de outubro.
Entre os dias 4 e 11 deste mês, o atendimento ficou restrito aos pacientes que chegaram ao PS pela porta da frente. “Os acidentados trazidos por ambulâncias foram encaminhados para outros hospitais”, afirmou ao iG uma médica, que pediu para não ser identificada.
"Está faltando tudo de novo", diz ela, que lamenta outra novidade: "O que nunca tinha acontecido era atraso de salário". Pelo menos 42 pessoas - entre enfermeiros, auxiliares e fisioterapeutas - relataram atraso de um dia no pagamento. "Recebemos no dia 5. Quando a data cai na segunda, como neste mês, o ordenado é depositado no sábado, mas ele não caiu. Na segunda-feira também não havia depósito." Apenas na terça-feira o dinheiro apareceu."
Nos últimos dias, o que a médica mais sente falta é de sedativos e de sonda para aspiração, utilizada em pacientes entubados. Muitos deles esperam no corredor. "Falta leito."
Para confirmar a denúncia, o iG foi até o hospital, mas não teve acesso ao setor, protegido naquele dia por três seguranças. Na última terça-feira (14), a reportagem conseguiu acesso ao se passar por paciente. Com uma câmera escondida, o iG percorreu os corredores da internação, congestionada por idosos deitados em macas (assista no vídeo acima).
Depois de andar pela ala, a reportagem entrou em uma sala e passou por um eletrocardiograma. A médica precisou manejar ele mesma o aparelho, uma vez que a funcionária responsável não foi encontrada. Ao ouvir os lamentos da médica, o iG questionou sobre os problemas da Santa Casa. "Cada dia falta uma coisa", desabafa. "Hoje estamos sem receita."
A crise
De acordo com as contas da profissional, faltam 50 leitos e dinheiro para quase tudo. "É uma dívida de R$ 430 milhões. O problema é a gestão", disse ela, sem saber que estava sendo filmada. O valor atualizado da dívida é de R$ 433,5 milhões. Em 2009, esse montante era de R$ 146,1 milhões.
Auditoria realizada após o fechamento de julho revelou que o patrimônio líquido da Santa Casa - sem incluir imóveis - caiu de R$ 220 milhões, há 5 anos, para R$ 323 mil no final do ano passado.
A crise não é exclusividade da Santa Casa de São Paulo. Atualmente, 83% desses hospitais filantrópicos estão endividados, segundo a Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo. Em 2005, a dívida de seus 2.100 hospitais estava em R$ 1,5 bilhão. Hoje, gira em torno de R$ 15 bilhões. Do total, R$ 8 bilhões se referem a débitos com bancos, R$ 4,8 bilhões a impostos e dívidas previdenciárias e R$ 2,2 bilhões a fornecedores.
Atualmente, 54% dos atendimentos das Santas Casas são para o Sistema Único de Saúde. Os filantrópicos atendem 60% dos pacientes do SUS com câncer, 63% das quimioterapias e 68% das cirurgias. Seis em cada dez procedimentos cardiológicos do SUS são feitos pelas santas casas.
Questionada sobre essas questões, a Santa Casa de São Paulo não respondeu até o fechamento da reportagem.
iG
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