Foto: Peter Suneson / Freeimages |
Constantes ruídos nas ruas pode impactar nossos ouvidos em um nível sutil, mas com consequências a longo prazo
Reflexos da quantidade de interações que agregam, as grandes cidades são marcadas pela convivência nem tão harmônica de sons e ruídos. Mesmo que a presença de buzinas de carros, freadas de ônibus ou sirenes de ambulância seja alternada, sua constante existência nas ruas pode impactar nossos ouvidos em um nível sutil, mas com consequências a longo prazo.
Para evitar que o cérebro entre em colapso com tantos alertas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como padrão a média de 50 dB (decibéis). A partir disso, o organismo começa a sofrer impactos como estresse, insônia, irritabilidade, ansiedade, distúrbios endocrinológicos e até a perda irreversível da capacidade auditiva. Para se ter uma ideia, o trânsito no centro de grandes cidades alcança facilmente os 80 dB.
Conviver em ambientes silenciosos ou barulhentos nem sempre é uma questão de escolha. E para driblar o burburinho que acompanha a agitada vida das cidades, é preciso buscar alternativas. Quem explica é a psicóloga clínica Sabrina Wilhelm:
— A gente está em um mundo onde não tem como ficar totalmente livre do barulho. É preciso buscar dentro da rotina mecanismos que tragam qualidade de vida, em que se possa encontrar essa tranquilidade. Uma tendência são as técnicas de concentração e de meditação.
Segundo a psicóloga, tensão e dificuldade de relaxamento são efeitos do constante estado de alerta em que se vive. Os sons altos deveriam servir para chamar a atenção, mas, na prática, essa lógica é um pouco distorcida.
— Com barulhos constantes, ficamos em um contínuo esgotamento emocional, o que afeta nossa qualidade de vida — explica.
Efeitos no corpo
Além de danos auditivos, a exposição demasiada ao barulho desencadeia problemas como estresse, doenças cardiovasculares e de interrupção do sono. O excesso de ruído pode, ainda, dificultar o desenvolvimento cognitivo das crianças, o que atrapalha a comunicação e pode trazer uma série de aborrecimentos.
Uma das explicações para isso é que os ruídos dificultam o repouso do organismo. No artigo Efeitos da Poluição Sonora no Sono e na Saúde em Geral, o especialista em Neurofisiologia Fernando Pimentel Souza explica que o ruído é um dos mais importantes sincronizadores ou perturbadores do ritmo do sono, e que, comprovadamente, distúrbios do ritmo do sono produzem sérios efeitos na saúde mental.
Segundo ele, um dos indicadores da má qualidade de vida ambiental nas cidades brasileiras mostra que as pessoas atribuem a insônia a fatores externos, sendo que 9,5% delas exclusivamente aos barulhos excessivos.
— Além disso, o ruído deve ter uma importante contribuição indireta para o estresse diurno e noturno, causando má higiene do sono, cujos efeitos passam traiçoeiramente desapercebidos pelas pessoas por não terem efeitos imediatos e não deixarem rastro visível. Enfim, o ruído torna o sono mais leve, causando profundos danos fisiológico, psicológico e intelectual — escreve Souza em seu artigo.
Zero Hora
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