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domingo, 7 de dezembro de 2014

Cerca de 15 milhões de brasileiros são alérgicos a medicamentos, mas muitos não sabem disso

Congresso internacional no Rio apresentará avanços nesta e em outras áreas da alergia
 
Rio - Vida de alérgico precisa ser cheia de cuidados, porque, não raro, a pessoa tem hipersensibilidade não apenas a um, mas a vários agentes do ambiente. Pior é quando a alergia é desconhecida. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) que será apresentado durante o congresso internacional que começa hoje no Rio estima que 14 e 16 milhões de brasileiros têm alergia a algum tipo de medicamento. O número representa entre 6% a 7% da população, que é alérgica principalmente a antibióticos e anti-inflamatórios. O dado preocupa, já que muitos desconhecem o problema.
 
— Muitos não sabem da alergia — alerta Luís Felipe Ensina, pesquisador do ambulatório de alergia da Unifesp e palestrante da Conferência Científica Internacional da Organização Mundial de Alergia (WISC 2014), o maior do mundo no tema, com 1,5 mil participantes. — As alergias a medicamentos são mais difíceis de lidar porque a reação pode ocorrer no mesmo minuto ou aparecer dias ou semanas depois, e nas duas possibilidades há formas leves e graves de comprometimento.
 
Mortes crescem nos EUA
No Brasil, não há estatísticas. Mas nos Estados Unidos um recente estudo revelou que os medicamentos são a principal causa de morte súbita relacionada a alergias. A pesquisa publicada em setembro no “Journal of Allergy and Clinical Immunology” analisou atestados de óbito entre 1999 e 2010 no país e mostrou ainda que o número de mortes aumentou: de 0,27 por milhão entre 1999 e 2001 para 0,51 por milhão entre 2008 e 2010. Contribuíram para o aumento o diagnóstico mais preciso sobre a causa das mortes e o maior uso desses remédios.
 
— A anafilaxia, termo usado para a reação alérgica grave e que ameaça a vida, foi apelidada de “a mais recente epidemia de alergia”— afirmou Elina Jerschow, coordenadora do estudo e professora da Faculdade Albert Einstein, nos EUA. — Esperamos que estes resultados aumentem o alerta para compreender melhor essas mortes.
 
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A anafilaxia pode ocorrer de segundos a minutos depois da exposição ao alérgeno. A morte pela anafilaxia representa 58,8% do total de casos do estudo, enquanto que por alergia a alimentos, apenas 6,7%. Mais da metade foi causada por antibióticos, seguidos por contrastes (usados em exames de raio-X) e quimioterápicos.
 
Mas, na maioria dos casos, a reação alérgica apresenta apenas vermelhidão, coceiras e inchaços. E, nessas situações, o uso de um antialérgico pode ser suficiente. Foi o que aconteceu com a jornalista Fabíola Gerbase. Por votla dos 10 anos, ela descobriu ser alérgica ao antibiótico penicilina durante uma broncopneumonia.
 
— Precisei usar um antibiótico injetável, mas logo em seguida fiquei cheia de bolinhas vermelhas e me senti mal — lembra-se. — A sorte foi que minha mãe percebeu rápido e ligou para o médico, que me indicou um anti-histamínico. Esta alergia acaba me restringindo muito nas opções de remédios, e toda vez tenho que avisar aos médicos sobre ela.
 
Para a estudante Marcella Leite, a experiência foi bem singular quando, internada, recebeu cloridrato de metoclopramida (o Plasil) intravenoso.
 
— Tive alucinações. Entrei em pânico, tentava levantar e não conseguia, ficava me debatendo na cama, era uma angústia muito grande — conta Marcella, explicando que a mãe, médica, logo percebeu a reação e interrompeu o soro. — Depois, médicos me explicaram que é uma reação relativamente comum e, apesar de estranha, é considerada alergia num grupo de pessoas.
 
De fato, a alergia é apenas um dos tipos de reações adversas — neste caso, causada por uma reação imunológica, geralmente caracterizada pelas alterações na pele. Muitos que acreditam ter alergia, na verdade, não têm. Além disso, é incurável e nem sempre ocorre na primeira ocasião do uso do medicamento. Em alguns casos, é possível fazer testes para comprovar a reação à substância, mas ainda há poucas e nem sempre conclusivas opções. O mais importante, portanto, é o diagnóstico clínico. Há poucas e novas opções de tratamento.
 
Vacinas: boas, mas malditas
Não é o caso das demais alergias. Muitos já se beneficiam hoje do tratamento com vacinas, ou imunoterapia, outro tema de destaque do congresso. Mas ela também não é para todos.
 
— A eficácia da imunoterapia é comprovada, mas não serve para tudo, apenas para doenças alérgicas mediadas pelo anticorpo IgE, o que na prática geralmente se refere a asma, rinite, picadas de insetos...
 
Não funciona para medicamentos ou alimentos, por exemplo — ressalta o alergista e imunologista José Carlos Perini, vice-presidente da Asbai e palestrante do WISC 2014. — A eficácia dela hoje é de 70% para alergias respiratórias e quase 100% para insetos. As novas tecnologias de diagnóstico aumentarão estes índices.
 
Um dos anúncios do congresso será um estudo que poderá levar a uma nova vacina para a alergia a pólen, que afeta principalmente a população do Sul. O avanços das tecnologias na área são uma das grandes apostas da indústria farmacêutica, já que o número de alergias vem aumentando no mundo desde a década de 1980. Poluição, urbanização, alimentação industrializada e menos contato com o ambiente natural são alguns dos possíveis fatores relacionados, acreditam especialistas.
 
Além de alérgica ao antibiótico amoxicilina, a fisioterapeuta Clara Daguer sofre de asma. Locais empoeirados e pouco ventilados, além da chegada da primavera ou inverno, sempre foram um tormento.
 
— Vivia fungando, assoando o nariz, com tosse, ficava muito incomodada. Na primavera, o pólen era outro problema. E lugares muito frios, a mesma coisa. Uma vez tive uma forte crise no Sul — conta Clara, que há sete anos segue religiosamente o protocolo de vacinas e pode, finalmente, ter alta em janeiro. — É preciso ter paciência, porque é longo e requer disciplina; além disso, um técnico precisa aplicar a vacina. Muitos desistem antes disso e não veem resultado. Não estou curada, preciso tomar cuidados, mas melhorou bastante.
 
Prick Test (teste de contato de leitura imediata)
Serviço
Medicamentos que mais causam alergia
Analgésicos (como aspirina), antibióticos (entre eles, a penicilina), anti-inflamatórios, anestésicos (local e geral), anticonvulsivantes, sedativo-hipnóticos.
 
Principais sinais
Os sintomas mais comuns são reações na pele ou uma reação sistêmica, envolvendo outros órgãos. Fechamento de vias aéreas e febre podem ocorrer.
 
A maioria das alergias se desenvolve uma semana após uso, raramente no primeiro contato. O diagnóstico geralmente é clínico, mas existem exames que podem ajudar, como o teste de níveis de triptase total, ainda caro e nem sempre conclusivo; e de níveis de IgE específica, disponível para poucos tipos de drogas.
 
Tratamento
Cortar imediatamente o uso do remédio; no caso de reações leves, uso de anti-histamínico; em reações anafiláticas (graves), proteção de vias aéreas e uso de drogas como epinefrina (adrenalina)
 
Tratamento específico (dessensibilização)
Processo que permite ao indivíduo usar remédio ao qual é alérgico, em casos de extrema necessidade. O protocolo prevê a aplicação em doses gradativas.
 
Fonte: Organização Mundial de Alergia / Terra

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