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sábado, 13 de dezembro de 2014

Nutrigenômica explica por que a mesma dieta funciona para uma pessoa e não para outra

Especialidade estuda como a alimentação pode interferir na atividade dos genes (e vice-versa)
 
Não adianta pedir para sua amiga repassar aquela dieta que a fez enxugar alguns quilos. Talvez o cardápio não sirva para você. Isso porque cada organismo, em uma singularidade imposta pelo DNA, responde de maneira diferente a determinados nutrientes.

Esse é o princípio da nutrigenômica, campo da ciência dos alimentos que, se antes era um futuro distante, agora começa a ganhar força ao indicar menus realmente personalizados, elaborados a partir do que o seu código genético mandar. Para especialistas da área, o que há de mais promissor nesta nova linha de estudos — para além do aspecto estético do emagrecimento — é a capacidade de aplicá-la na prevenção de doenças crônicas e metabólicas, como a diabetes, a obesidade e o câncer.
 
Via de mão dupla, a nutrigenômica é uma ponte entre a genética e a alimentação. Tanto que o que consumimos pode interferir na atividade dos genes quanto os genes podem indicar quais nutrientes você deve ingerir.
 
Cerca de 90% da população pode ser beneficiada com essa descoberta, cujos primórdios estão na década de 1980. A parcela que fica de fora é aquela que, devido a configurações genéticas, vai desenvolver doenças independentemente do que coma.
 
— Para a maioria, adaptar a dieta ao DNA pode ajudar a retardar o aparecimento de alguma enfermidade ou reduzir sua severidade — afirma o pesquisador americano da unidade de Nutrição e Saúde Metabólica do Instituto Nestlé de Ciências da Saúde, Jim Kaput.
 
É como se o pai da medicina ocidental, Hipócrates, tivesse deixado uma profecia ao clamar, mais de 2 mil anos atrás: “Deixe teu alimento ser teu remédio”. Com a nutrigenômica, os alimentos passam a ser receitados pelo nutricionista da mesma forma que os médicos prescrevem paracetamol para dor de cabeça. Uma realidade que só se tornou possível depois da conclusão do projeto Genoma Humano, em 2003. Duas pessoas completamente diferentes fisicamente, pasme, compartilham 99% do DNA.
 
Mas as diferenças, embora ínfimas, podem determinar, por exemplo, se há risco de desenvolver intolerância à lactose ou fenilcetonúria (mutação genética rara, que se apresenta em doença que afeta o sistema nervoso central). Caberá ao nutricionista, então, indicar alimentos não lácteos ou sem fenilalanina – proteína, que, quando em grande concentração (caso dos fenilcetonúricos), é tóxica.
 
— Se o mapa genético aponta algum defeito, a dieta será elaborada para minimizá-lo. A indústria dos alimentos está avançada. Está cada vez maior o acesso a produtos sem substâncias que podem ser nocivas a quem tem doenças como essas. A ideia da nutrigenômica, no fim das contas, é melhorar a qualidade de vida dessas pessoas — afirma a professora Cláudia Leães Dornelles, da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), doutora em Genética e Biologia Molecular.
 
Claro, há recomendações que são comuns a todos: sal ou açúcar em excesso são vilões para qualquer saúde. Mas de acordo com a nutricionista Sandra Soares Melo, responsável por uma das primeiras clínicas de nutrigenética do Brasil, com sede em Florianópolis, existe uma tendência em padronizar dietas levando em conta apenas o número de calorias.
 
— Se você e um amigo fizerem a mesma dieta, ele pode perder peso, e você não. Isso de forma alguma significa fracasso. Seus genes podem estar necessitando de nutrientes de uma forma diferente. Há pessoas que precisam de mais gordura. Outras, menos — exemplifica Sandra, também professora da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), doutora em Ciência dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (USP).
 
Como funciona na prática
Embora ainda pouco difundida, a nutrigenômica já encontra espaço em consultórios nutricionais. A clínica de Sandra se tornou possível graças ao incentivo do poder público, que condecorou a Nutrigene com o Prêmio Sinapse da Inovação – um programa da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica de Santa Catarina (Fapesc) e da Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Finep).
 
A dieta não é prescrita na primeira consulta. De acordo com a nutricionista, o ponto inicial é uma espécie de entrevista de 1h30min em que ela analisa hábitos alimentares, estilo de vida e histórico familiar do paciente. A partir disso, ela solicita exames genéticos com foco nas doenças às quais ele tem predisposição.
 
O aconselhamento dietético personalizado permite que as pessoas façam escolhas melhores em relação à comida, mas a nutrigenômica ainda não conseguiu mudar completamente a forma como elas consomem os alimentos hoje em dia. O americano Jim Kaput, do Instituto Nestlé, afirma esperar que alguns, mesmo com uma dieta sob medida em mãos, não queiram saber o que devem comer para se manterem saudáveis.
 
— É só lembrar que ainda existem fumantes — compara o pesquisador.
 
Na outra ponta do espectro, está quem vai seguir o cardápio à risca. A maioria, no entanto, corresponde ao meio-termo: a alimentação será guiada pela nutrigenômica, mas sem radicalizar:
 
— Claro que as pessoas ainda vão querer comer o que der vontade em eventos sociais, nem que seja só para matar um desejo.
 
A nutrigenômica também pode ser direcionada à estética. Malhar muito e perder pouco peso pode indicar um catabolismo mais lento, ou seja, como diz Sandra, “genes mais preguiçosos”. Condições como compulsão alimentar e celulite também são possíveis de mapear no emaranhado do DNA humano.
 
Zero Hora

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