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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Amanhã eu faço! Saiba por que você procrastina e as consequências disso na sua vida

Saiba por que você procrastina e as consequências disso na sua vida Stock Images/Stock ImagesComportamento pode estar ligado geneticamente à impulsividade
 
Atire um balde de água no Cantareira quem nunca procrastinou. Se a solução para a seca em São Paulo dependesse disso, os paulistanos estariam fadados à sede. Ao pesquisar o adiamento não estratégico de tarefas no meio acadêmico, a psicóloga Gabriela Geara chegou ao índice de que 82% dos estudantes universitário procrastinaram suas atividades de modo geral. Se o tema ainda é pouco estudado no Brasil, nos Estados Unidos, na Universidade do Colorado, pesquisas avançam à indicação de que algumas pessoas tendem mais a esse tipo de comportamento do que outras, e de que procrastinar pode estar ligado geneticamente à impulsividade.
 
O professor da Universidade de Calgary, no Canadá, Piers Steel é especialista no tema e já apontava essa característica como desencadeadora do comportamento protelatório no livro A Equação de Deixar para Depois. Na obra, o autor discute os motivos pelos quais adiamos missões e como melhorar nosso planejamento de tarefas.
 
— Nos primórdios, era importante reagir rápido e mudar o foco de atenção para resolver problemas mais imediatos. Então, reagir sem pensar muito está relacionado à impulsividade — explica Gabriela, ao relacionar a facilidade de distração que existe no ato de procrastinar à impulsividade.
 
No estudo de Gabriela, os três motivos mais alegados pelos universitários que responderam à pesquisa foram preguiça, cansaço e falta de tempo. Além disso, a psicóloga apontou outros fatores que podem estar relacionados ao comportamento: temer o fracasso ou o sucesso, ser perfeccionista ao extremo e trabalhar apenas sob pressão, impulsionado pelo desafio.
 
— O pessoal mais perfeccionista se exige tanto que só quer entregar a tarefa quando atinge um grau de perfeição que garanta que o fracasso não vai chegar. Mas é um nível muitas vezes ilusório. E o medo do sucesso também pode ser causa para a procrastinação, porque aí as pessoas pensam: "Fui muito bem em uma tarefa, entreguei antes do prazo, agora vão querer sempre que eu faça isso". Esse receio é mais comum em pessoas que não conseguem impor limites — diz a psicóloga.
 
Mas o que significa exatamente procrastinar? Esse tipo de comportamento está dentro de um grupo maior, que é o do adiamento.
 
— Dentro desse grupo, a priorização é uma forma estratégica de adiar as coisas, quando a gente encontra algo mais importante para fazer. E aí a procrastinação pode ser vista como o contrário da priorização — afirma Gabriela.
 
Aspectos culturais podem influenciar na protelação
Se os perfeccionistas são os mais atingidos pela ansiedade, quem é movido pelo desafio costuma sofrer menos, por achar que é uma questão de estilo, de apenas conseguir trabalhar sob pressão.
 
Algumas pessoas até têm a habilidade de saber o tempo mínimo que precisam para realizar a tarefa e quando devem começá-la, e não necessariamente se prejudicam em termos de resultado.
 
— Só que ocorrem consequências psicológicas como estresse, alterações no sono e na alimentação. Vemos abuso de café, de estimulantes — comenta Gabriela.
 
Mas, para além da genética, procrastinar também pode ser um comportamento aprendido.
 
— Às vezes, as pessoas aprendem a adiar tarefas. Elas ficam se premiando por isso. Ficam vendo televisão, mergulham na piscina. Chega o dia seguinte, não fizeram a tarefa, mas o professor relevou, os pais perdoaram. Então, quando não tem consequência, a pessoa continua não fazendo — diz a terapeuta comportamental e professora do institutos de Psicologia e de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) Maria Martha Costa Hübner.
 
Nesse ponto também entram aspectos culturais. O Brasil, por exemplo, é conhecido pela impontualidade. Como o atraso não é repreendido com frequência, a procrastinação pode ser mais recorrente em nosso país do que em lugares como a Alemanha.

Procrastinação pode impactar negativamente na vida social Stock Images/Stock ImagesProcrastinação pode impactar negativamente na vida social
Se recompensa a curto prazo, a procrastinação pode trazer prejuízos mais tarde. Gabriela Geara é mestranda no programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e segue estudando o assunto, agora sob a ótica dos impactos negativos na vida dos universitários que deixam para amanhã o que pode ser feito hoje:

— Há até mesmo os impactos financeiros. Os universitários que não conseguem revisar a dissertação a tempo e precisam pagar para alguém fazê-lo ou contratam alguém para traduzir o resumo da tese.
Ela também enumera os impactos sociais, mais relacionados à família e aos amigos, como alguém que adiou o estudo para as provas durante o semestre inteiro e, ao final do período, não pôde mais sair, ficar com a família, ter atividades de lazer. Uma das consequências pode ser uma grande carga de estresse em pouco tempo.

Para o procrastinador "malandro", segundo Maria Martha, professora da USP, a consequência social é a perda da admiração de pessoas que tinham implicações na tarefa, como os colegas de classe.

— Ao próprio indivíduo, fica esse estado latente de saber que não está fazendo. Tem também a questão da autoestima. Ninguém gosta de si quando sabe que está prejudicando outros ou fazendo coisas que são condenáveis — ressalta a terapeuta comportamental.

A vida amorosa e os relacionamentos interpessoais também não escapam. Segundo Gabriela, a literatura mostra que alguns casamentos falidos podem ser evidência de procrastinação:

— Muitas vezes, a gente vê brigas porque um parceiro prometeu para o outro que iria fazer tal coisa em um certo prazo e não cumpriu.

Comportamento não é doença
Sob a ótica comportamental, Maria Martha explica que a procrastinação está diretamente relacionada a uma escolha:

— Não tem nenhum terapeuta que não trabalhe com procrastinação. Faz parte da queixa de muitos clientes. O que é isso? É basicamente você adiar a realização de uma tarefa. E você só faz isso diante de um comportamento aversivo somado à recompensa por adiar. Embora ganhe imediatamente, você perde a longo prazo.

Isso quer dizer que, diante de uma tarefa que cause aversão, a pessoa vai escolher a recompensa — neste caso, adiar. Algumas tarefas são naturalmente aversivas. Ninguém gosta de ficar em uma fila de banco ou fazer um exame de sangue, por exemplo.

— Como você maneja? Depois de fazer essas coisas, você arruma um jeito de ter uma compensação — diz Maria Martha.

Mas a procrastinação também pode ser chamada de esquiva, um comportamento normalmente associado às fobias.

— Esquiva vem acompanhada de sentimentos de culpa. Pode desencadear transtorno obsessivo-compulsivo, rituais, resistência à mudança. Na esquiva, quando o estímulo é muito aversivo, a pessoa começa a criar uma série de rituais para evitar aquilo. Então, além de procrastinar, ela pode se tornar maníaca — ressalta a terapeuta comportamental.

Por exemplo, quem tem fobia social adiará ao máximo uma ida a um shopping. Para isso, ela vai fazer antes qualquer tarefa menos importante. Cabe ressaltar que esse adiamento não é, em si, uma doença.

— É um tipo de comportamento. Deprimidos e ansiosos procrastinam. Fobia social pode provocar procrastinação. É uma consequência do distúrbio — completa a professora.

Saiba como deixar de ser um procrastinador Inmagine Free/ReproduçãoSaiba como deixar de ser um procrastinador
A tecnologia pode ser apontada como uma das principais distrações de quem precisa realizar uma tarefa. Uma mensagem pisca no WhatsApp, o Facebook aponta um post aparentemente interessante, o Instagram mostra por onde andam as pessoas. Mas ela também pode ser uma aliada na organização da agenda. Um aplicativo chamado StickK é um dos mais extremistas e morde o bolso para que você cumpra objetivos em um prazo determinado. Confira essa e outras opções.

StickK
Você estabelece uma quantia em dinheiro e, se perder o prazo de um trabalho, esse valor fica bloqueado e é doado para uma instituição de caridade. Dá para selecionar opções que não envolvam grana na jogada, mas a ideia é mesmo forçar o comportamento.

stickk.com

Gratuito para iOS

21habit
Usuários fazem planos para 21 dias. Antes de começar, pagam US$ 21 ao site. A cada dia que cumprem o prometido, recebem US$ 1 de volta. No caso de falhas, perdem US$ 1 por dia. Se ficar três dias sem atualizar a planilha, o internauta também perde US$ 1. No final, todo o dinheiro "perdido" com as falhas é destinado à caridade.

21habit.com

Stay Focused
O app permite que você restrinja o uso de games, redes sociais e outros aplicativos. Uma vez atingido o tempo de uso definido, eles ficam inacessíveis pelo resto do dia.

Gratuito para Android

ToodleDo
Oferece um lugar para armazenar notas e listas de tarefas. Você pode colaborar com amigos, família ou colegas de trabalho.

toodledo.com

Disponível para iOS e Android

Gym Pact
O cadastrado recebe no mínimo US$ 5 quando você vai à academia, mas perde o mesmo valor se você faltar. O serviço funciona internacionalmente e, para comprovar que se está malhando, basta fazer um "check-in" dentro da academia com o GPS do aparelho.

Gratuito para iOS e Android

Como fugir do adiamento
— Faça um mapeamento para monitorar a sua distribuição do tempo. Em uma agenda, anote a hora em que acorda, a de dormir, e todas as tarefas feitas durante o dia. Faça de segunda a domingo. Escreva tudo que você fizer, como limpar a casa, lavar a roupa, assistir TV.

— Às vezes, as pessoas têm muitas tarefas e não as consideram no uso do tempo. Com a agenda, é possível observar melhor o que pode ser priorizado ou terceirizado.

— Aprenda a terceirizar as coisas, pedir ajuda, não tomar tudo pra si. Alegar falta de tempo pode estar relacionado a centralizar muito as atividades.

— Divida a execução de uma tarefa em etapas menores. Tente organizá-las no tempo, escolha metas mensuráveis, em que a evolução possa ser acompanhada.

— Pense em recompensas e faça intervalos. Em caso de tarefas longas, divida essa premiação em etapas.

— No caso de exames médicos, escolha uma época do ano para isso, que vai ser sempre a mesma.

— Cuide com a função soneca no despertador, dispositivo perfeito para procrastinar. Pense no tempo que realmente precisa para despertar, porque, normalmente, aqueles minutos invadem o tempo necessário para se arrumar e sair de casa sem atraso.

— Para dietas ou exercícios físicos, é importante pegar um papel, listar os benefícios e deixar à mão. Na academia, se você não conseguir motivação sozinho, pense em contratar um personal trainer, porque uma forma eficiente de não adiar tarefa é a pressão por outra pessoa.

— Tente se perdoar. Livrar-se totalmente da procrastinação não é viável. A culpa pode ser pior que a própria procrastinação.

Fontes: Gabriela Geara e Marco Antônio Teixeira, do Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE), da UFRGS, e Maria Martha Costa Hübner, terapeuta comportamental e professora dos institutos de Psicologia e de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP)

Zero Hora

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