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domingo, 5 de abril de 2015

Falar uma segunda língua pode mudar a forma como você vê o mundo

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Segundo um novo estudo, falantes de inglês e alemão colocam ênfases diferentes sobre ações e suas consequências, influenciando a maneira como pensam sobre o mundo. O trabalho também constata que os bilíngues podem extrair o melhor de ambas as visões de mundo, podendo tornar o seu pensamento mais flexível.
 
Desde os anos 1940, cientistas cognitivos têm debatido se a sua língua materna influencia seu modo de pensar. A discussão tem sido reacendida nas últimas décadas, como um número crescente de estudos sugerindo que a linguagem pode levar os falantes a prestarem atenção em certos aspectos do mundo.
 
Falantes de russo são mais rápidos para distinguir tons de azul do que os falantes de inglês, por exemplo. E falantes de japonês tendem a agrupar objetos por material e não forma, enquanto os coreanos se concentram no quão firmemente os objetos se encaixam. Ainda assim, os céticos argumentam que tais resultados são artefatos de laboratório ou, na melhor das hipóteses, apenas refletem as diferenças culturais entre os participantes, algo que não teria relação com a linguagem.
 
No novo estudo, os pesquisadores se voltaram para as pessoas que falam vários idiomas. Ao estudar bilíngues, “nós estamos pegando esse debate clássico e virando-o de cabeça para baixo”, diz o psicolinguista Panos Athanasopoulos, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido. Ao invés de perguntar se os falantes de diferentes línguas têm mentes diferentes, eles se perguntaram se duas mentes diferentes poderiam existir dentro de uma pessoa.
 
Nova abordagem
Athanasopoulos e seus colegas estavam interessados ​​em uma diferença especial na forma como falantes do inglês e do alemão tratam certos eventos. O inglês tem um conjunto de ferramentas que permite situar gramaticalmente ações no tempo: “I was sailing to Bermuda and I saw Elvis” (“Eu estava navegando para Bermuda e vi Elvis”) é diferente de “I sailed to Bermuda and I saw Elvis” (“Eu naveguei para Bermuda e vi Elvis”). O alemão não tem esse recurso. Como resultado, os falantes alemães tendem a especificar os começos, meios e fins de eventos, mas os falantes de inglês muitas vezes deixam de fora os fins e concentram-se nos meios. Olhando para a mesma cena, por exemplo, um falante de alemão poderia dizer: “Um homem sai de casa e vai para a loja”, enquanto o de inglês apenas diria: “Um homem está andando”.
 
Esta diferença linguística parece influenciar como os falantes das duas línguas interpretam eventos. Athanasopoulos e seus colegas pediram a 15 falantes nativos de cada idioma para assistir a uma série de vídeos que mostravam pessoas praticando caminhada, ciclismo, corrida ou dirigindo. Em cada conjunto de três vídeos, os pesquisadores pediram aos indivíduos para decidir se uma cena com um objetivo ambíguo (uma mulher caminha por uma rua em direção a um carro estacionado) era mais parecida com uma cena com uma meta clara (uma mulher entra em um prédio) ou uma cena sem objetivo (uma mulher caminha por uma estrada rural). Os falantes do alemão compararam cenas ambíguas com cenas com metas claras cerca de 40% da vezes, em média, em comparação com 25% entre os falantes de inglês. Esta diferença implica que os falantes do alemão são mais propensos a se concentrar em possíveis resultados das ações das pessoas, mas os falantes de inglês prestam mais atenção à ação em si.
 
Falantes bilíngues, por sua vez, pareciam alternar entre essas perspectivas com base na linguagem mais ativa em suas mentes. Os pesquisadores descobriram que 15 alemães fluentes em inglês eram tão focados em uma meta quanto qualquer outro falante nativo, quando testados em alemão em seu país de origem. Mas um grupo similar de 15 bilíngues alemão-inglês testados em inglês no Reino Unido tinham, assim como como falantes nativos de inglês, foco na ação. Essa alteração também pode ser vista como um efeito da cultura, mas um segundo experimento mostrou que os bilíngues também podem mudar de perspectivas tão rápido quanto podem mudar de idioma.
 
Enganando o cérebro
Em outro grupo de 30 bilíngues de alemão-inglês, os pesquisadores mantiveram uma língua ocupada durante a atividade com os vídeos, fazendo os participantes repetirem sequências de números em voz alta em inglês ou alemão. Distrair uma língua parecia trazer automaticamente a influência da outra língua à tona. Quando os pesquisadores “bloquearam” o inglês, os sujeitos agiram como alemães típicos e acharam que vídeos ambíguos eram semelhantes ao que tinham uma meta. Com alemão bloqueado, os indivíduos bilíngues agiram como falantes de inglês e combinaram as cenas ambíguas com as incertas. Quando os pesquisadores surpreenderam os participantes mudando a linguagem dos números de distração no meio do experimento, o foco das pessoas sobre objetivos versus ações mudou junto com a linguagem.
 
Os resultados sugerem que uma segunda língua pode desempenhar um importante papel inconsciente na elaboração da percepção. “Por ter uma outra língua, você tem uma visão alternativa do mundo”, explica Athanasopoulos.
 
“Este é um avanço importante”, diz o cientista cognitivo Phillip Wolff, da Universidade Emory, em Atlanta, que não estava ligado ao estudo. “Se você é bilíngue, é capaz de entreter diferentes perspectivas e ir e voltar”, diz ele. “Isso realmente não tinha sido demonstrado antes”.
 
Apesar disso, pesquisadores que duvidam que a linguagem desempenha um papel central no pensamento provavelmente permanecerão céticos. A psicóloga cognitiva Barbara Malt, da Universidade Lehigh, em Bethlehem, Pensilvânia, acredita que o ambiente artificial do laboratório pode condicionar as pessoas, fazendo com que confiem na linguagem mais do que normalmente fariam. “Em uma situação do mundo real, eu poderia encontrar razões para dar atenção à continuidade de uma ação e [também poderia ter] outros motivos para prestar atenção ao ponto final”, diz ela, descrente desta linha de pensamento. Para ela, tais mecanismos não existem somente em pessoas bilíngues e o simples conhecimento de outra linguagem não seria capaz de filtrar a maneira como enxergamos a realidade.

Science Magazine / Hypescience

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