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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Com apenas uma gota de sangue exame detecta os vírus que contaminaram um paciente ao longo da vida

Método pode agilizar diagnósticos e ajudar na criação de vacinas mais eficazes
 
Uma nova tecnologia desenvolvida nos laboratórios da Universidade de Harvard e do Instituto Médico Howard Hughes, ambos nos Estados Unidos, permite que os médicos poupem tempo e dinheiro para levantar todo o passado viral de um paciente. E a condição para a análise é simples: uma única gota de sangue. Chamado VirScan, o método mostra-se uma alternativa eficiente para os exames hoje disponíveis, que diagnosticam e detectam a presença de um vírus por vez. A descoberta é descrita na edição de hoje da revista Science.
 
Basicamente, Stephen Elledge, pesquisador sênior do Instituto Médico Howard Hughes, e seu aluno de pós-graduação George Xu desenvolveram uma forma de voltar ao tempo usando como lupa o soro sanguíneo de uma pessoa. A intenção é descobrir quais vírus já entraram em contato com ela ao longo da vida. A abordagem também pode detectar fatores inesperados que afetam a saúde do indivíduo e ampliar as oportunidades para análise e comparação das infecções virais em grandes populações. Outra vantagem é que não custaria caro: cerca de US$ 25 por amostra de sangue.
 
“Nosso laboratório tem uma experiência significativa no desenvolvimento de tecnologias que utilizam os recentes avanços na síntese de DNA e sequenciamento. Então, decidimos aplicar esse conhecimento para criar uma ferramenta que estudasse exaustivamente a resposta de anticorpos antivirais na saúde humana”, conta Elledge ao Correio. No total, a equipe esmiuçou o sangue de 569 pessoas dos Estados Unidos, da África do Sul, da Tailândia e do Peru. O VirScan consegue detectar anticorpos que atuam contra qualquer uma das 206 espécies de vírus conhecidas que atacam humanos.
 
O sistema imunológico gera anticorpos específicos sempre que encontra um patógeno pela primeira vez. Essa “fábrica de soldados” pode continuar a produzir células de defesa durante anos ou décadas após o organismo estar curado da contaminação. É por isso que o VirScan também fornece um histórico de infecções de um indivíduo. Para testar o método, a equipe analisou amostras de sangue de pacientes já diagnosticados com vírus específicos, incluindo o HIV e o da hepatite C. Em quase todos os casos, a sensibilidade do método variou de 95% a 100%.

Em média, cada pessoa apresentou anticorpos especializados em combater 10 espécies de vírus, sendo que 14 se apresentaram como as mais recorrentes. Como esperado, células de defesa usadas para atacar determinados patógenos eram comuns entre os adultos, mas não em crianças, sugerindo que os pequenos ainda não haviam sido expostos a todos os micro-organismos. A maior parte dos vírus encontrados é conhecida justamente pela alta frequência de infecção. “Na verdade, essa foi uma das indicações de que o VirScan estava trabalhando bem. Estudos anteriores apontaram, por exemplo, que o herpesvírus humano 4, também conhecido com Epstein-Barr, acomete 90% ou mais das populações e, em geral, a maior parte das pessoas está infectada com a forma latente dele”, analisa Elledge.

Variedades pontuais

Algumas curiosidades também surgiram no trabalho. Indivíduos que residem na África do Sul, no Peru e na Tailândia apresentaram anticorpos mais variados do que os dos Estados Unidos. Os pesquisadores descobriram ainda que as pessoas infectadas pelo HIV tinham anticorpos contra muitos mais vírus do que os não soropositivos. Além disso, a abordagem não estaria limitada a anticorpos antivirais. Segundo os autores, poderá ser usada também para procurar anticorpos que atacam os próprios tecidos do corpo, característica de enfermidades autoimunes.

Wlademir Vicente Cantarelli, especialista na área, acredita que a técnica seja promissora por trazer um novo entendimento das interações virais de cada pessoa. “É uma grande novidade que a gente possa detectar vários vírus de uma vez, o que ainda não é possível”, diz o professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

Ao conhecer o histórico viral de uma pessoa, um médico poderia, por exemplo, saber para quais viroses ela já está imune. Além disso, identificar em quais moléculas virais os anticorpos têm mais afinidade pode ser útil para o desenvolvimento de vacinas que tenham maior capacidade de imunização. “Porém, o método ainda não consegue diferenciar infecções passadas de vacinas, pois apenas a presença dos anticorpos é testada — inclusive os produzidos após a imunização, como a da pólio. Não há, portanto, diferenciação das infecções provocadas por uma doença”, observa o especialista brasileiro.
 
Correio Braziliense

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