Momento em que muitos pensam que não há mais nada a ser feito, ainda sim pode haver algo a ser realizado em benefício do paciente
Diante do diagnóstico de uma doença grave, muitas dúvidas surgem em relação à possibilidade de cura. Alguns tipos de câncer, doenças neurológicas e degenerativas progressivas e doenças infecciosas, como a Aids, são exemplos de patologias que podem colocar uma vida em risco. Com a evolução da doença e a confirmação de um prognóstico ruim, a pergunta mais frequente é “Quanto tempo eu tenho?”. Momento em que muitos pensam que não há mais nada a ser feito, ainda sim pode haver algo a ser realizado em benefício do paciente: os cuidados paliativos.
“Na experiência mundial quando os cuidados paliativos são oferecidos precocemente e realizados de forma adequada, observa-se o prolongamento da vida”, explica a diretora da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) e diretora do Instituto Paliar (SP) – Instituição especializada em cuidados paliativos, Dalva Yukie Matsumoto. Cuidados paliativos consistem em um conjunto de ações que buscam melhorar a qualidade de vida e a dignidade do paciente em tratamento e no processo de terminalidade da vida. Esses cuidados podem ser aplicados ao doente e à sua família por uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, odontólogos, farmacêuticos, assistentes sociais, assistentes espirituais, educadores físicos, por meio de trabalhos físicos, emocionais, sociais e espirituais que visam proporcionar o conforto nesses momentos difíceis. “As técnicas são aquelas específicas de cada área de atuação dos profissionais envolvidos na assistência”, completa Dalva.
Os cuidados devem ser proporcionais às necessidades do doente e ao momento da evolução da doença, sendo que é de extrema importância oferecer ajuda para que esses pacientes possam viver o mais ativamente possível até o fim da vida. No que diz respeito aos pacientes terminais, a especialista alerta sobre procedimentos invasivos desnecessários, mantendo artificialmente a vida, como no caso, por exemplo, de um doente terminal com doença pulmonar crônica ser submetido a uma entubação orotraqueal. Também deve ser descartada a chamada “futilidade terapêutica”, que é a indicação de medicamentos que não trazem benefício real, podendo algumas vezes causar mais danos ao paciente.
O principal foco é fornecer o alívio à dor e a outros sintomas como astenia, anorexia, dispneia e outras emergências.
“Deve-se sempre respeitar o desejo do paciente, a indicação da equipe de cuidados paliativos e a possibilidade da família de realizar os cuidados necessários”, afirma a especialista. A família também deve ser orientada pelo médico sobre os principais eventos que podem ocorrer, como complicações relacionadas à doença de base e a forma que se deve proceder diante desses acontecimentos.
“Detalhar a evolução natural da doença, para prever necessidades futuras e deixar a família prevenida evitando sustos e sofrimento desnecessários”, detalha Dalva.
Como os cuidados paliativos devem abordar todos os aspectos do sofrimento causado pelo processo do adoecer, sendo um deles o emocional e o psicológico, é fundamental a participação de um psicólogo na equipe para promover esta assistência ao paciente. A especialista em psicologia clínica, autora do livro do Do luto à luta e coordenadora do Curso de Especialização em Cuidados Paliativos da Faculdade Ciências Médicas, Gláucia Tavares, esclarece que toda manifestação física tem conexão com o emocional e vice-versa. “O excesso de medo, de raiva, de tristeza, de preocupação e até de alegria, desconsiderando os limites reais da vida, pode influenciar negativa ou positivamente em qualquer quadro clínico”.
Sendo assim, é importante deixar o paciente o mais confortável possível para que o emocional colabore para o quadro. “Em alguns momentos tomar um refrigerante, trocar a roupa de cama, encontrar-se com alguém pode ser significativo. Hoje, considera-se que até a inclusão de animais de estimação pode ser um fator de contribuição, se for um pedido da pessoa. Há a compreensão que a quantidade de vida é limitada e que a qualidade pode ser desenvolvida no dia a dia”, afirma Gláucia.
Câncer
“Não é porque você tem uma doença incurável que justifica não viver bem”, explica a oncologista da Oncomed de Belo Horizonte Carolina Patrícia Mendes Rutkowski. O câncer pode ser classificado como curável e incurável. Os tumores malignos têm alto índice de cura mesmo em fases avançadas, porém existem casos diagnosticados tardiamente, com metástases, que não respondem positivamente aos tratamentos disponíveis, não podendo ser erradicados completamente. Sendo assim, nesses casos mais graves, o foco é diminuir e controlar a doença, tratar os sintomas relacionados e tentar aumentar a sobrevida e a qualidade de vida, do paciente. A dor, insônia e angustia são alguns dos sintomas muito comuns que podem ser evitados com uma medicação adequada.
“A ciência aponta pesquisas realizadas com pacientes com câncer de pulmão que viveram mais por terem cuidados paliativos do que as pessoas que tiveram o tratamento convencional”, aponta Carolina que também destaca que esses cuidados devem ser oferecidos antes de a pessoa começar a sentir os sintomas e em paralelo ao tratamento da doença. A especialista explica que no momento em que a pessoa é diagnosticada com uma doença incurável, a primeira opção é o tratamento em casa, paralelo com os cuidados paliativos, pois é muito importante a proximidade com a família.
“No mundo ocidental a pessoa não está preparada para lidar com morte. Na faculdade de medicina nós aprendemos como lutar pela vida, mas a morte é a única certeza que nós temos”, afirma a oncologista.
Estado de Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário